Pesquisadores da Universidade Estadual de Washington concluíram que alimentar a população global, em constantemente crescendo, com metas de sustentabilidade em mente é possível.
A equipe de estudiosos realizou uma revisão de centenas de estudos publicados que fornece evidências de que a agricultura orgânica pode produzir rendimentos suficientes, ser lucrativa para os agricultores, proteger e melhorar o meio ambiente e ser mais segura para os trabalhadores agrícolas.
O estudo de revisão, intitulado “Agricultura Orgânica no Século 21”, é apresentado como matéria de capa da edição de fevereiro da revista Nature Plants e é de autoria de John Reganold, professor de ciência do solo e agroecologista e do doutorando Jonathan Wachter, segundo informações do Science Daily.
É o primeiro estudo desse tipo a analisar 40 anos de ciência comparando a agricultura orgânica e a convencional entre os quatro objetivos de sustentabilidade identificados pela Academia Nacional de Ciências: produtividade, economia, meio ambiente e bem-estar comunitário.
“Centenas de estudos científicos mostram agora que a agricultura orgânica deve desempenhar um papel na alimentação do mundo”, disse Reganold, principal autor do estudo. “Trinta anos atrás, havia apenas alguns poucos estudos comparando a agricultura orgânica com a convencional. Nos últimos 15 anos, esse tipo de estudo disparou”.
A produção orgânica atualmente representa apenas um por cento de todas as terras usadas para agricultura no mundo, apesar do rápido crescimento nas últimas duas décadas.
Os críticos argumentam há muito tempo que a agricultura orgânica é ineficiente, exigindo mais terras para produzir a mesma quantidade de alimentos. O artigo de revisão descreve casos em que os resultados do cultivo orgânico podem ser superiores aos métodos convencionais de cultivo.
“Em condições severas de seca, que devem aumentar com a mudança climática, as fazendas orgânicas têm o potencial de produzir excelentes colheitas por causa da maior capacidade de retenção de água dos solos organicamente cultivados”, disse Reganold.
No entanto, mesmo quando os rendimentos forem menores, a agricultura orgânica ainda é mais lucrativa para os agricultores pois os consumidores estão dispostos a pagar mais. Preços mais altos podem ser justificados como forma de compensar os agricultores por fornecer serviços ecossistêmicos e evitar danos ambientais ou custos externos.
Numerosos estudos na revisão também comprovam os benefícios ambientais da produção orgânica. No geral, fazendas orgânicas tendem a armazenar mais carbono do solo, têm melhor qualidade do solo e reduzem a erosão do solo.
A agricultura orgânica também cria menos poluição no solo e na água e reduz as emissões de gases de efeito estufa. Além de ser mais eficiente em termos energéticos porque não depende de fertilizantes sintéticos ou pesticidas.
O modo de produção também está associado à maior biodiversidade de plantas, animais, insetos e micróbios, bem como à diversidade genética. A biodiversidade aumenta os serviços que a natureza oferece, como a polinização, e melhora a capacidade dos sistemas agrícolas de se adaptarem às mudanças de condições.
Reganold disse que alimentar o mundo não é apenas uma questão de produção elevada, mas também requer o exame do desperdício de alimentos e a distribuição da comida.
“Se você analisar a produção de calorias per capita, estamos produzindo comida mais do que suficiente para 7 bilhões de pessoas agora, mas desperdiçamos de 30% a 40% disso”, disse Reganold. “Não é apenas uma questão de produzir o suficiente, mas tornar a agricultura ambientalmente correta e garantir que a comida chegue àqueles que precisam dela”.
Reganold e Wachter sugerem que nenhum tipo de agricultura pode alimentar o mundo. Em vez disso, o que é necessário é um equilíbrio de sistemas, “uma mistura de orgânicos e outros sistemas agrícolas inovadores, incluindo sistemas agroflorestais, agricultura integrada, agricultura de conservação, culturas mistas e sistemas ainda a serem descobertos”.
Reganold e Wachter recomendam mudanças nas políticas para lidar com as barreiras que impedem a expansão da agricultura orgânica. Tais obstáculos incluem os custos da transição para a certificação orgânica, falta de acesso a mão-de-obra e mercados, e falta de infraestrutura apropriada para armazenar e transportar alimentos. Ferramentas legais e financeiras são necessárias para incentivar a adoção de práticas agrícolas inovadoras e sustentáveis.