Em um ato de ignorância e desrespeito, o governo dos EUA matou um membro criticamente importante da frágil população de lobos-cinzentos mexicanos: uma fêmea reprodutora, com colar, provavelmente grávida, conhecida como AF1823, ou Asiza, nome dado por crianças. Ela tinha apenas sete anos.
Sua morte ocorreu sob o pretexto de uma ordem de remoção emitida pelo U.S. Fish and Wildlife Service (USFWS) para um lobo sem colar da alcateia Bear Canyon, no Arizona, supostamente devido a conflitos com bois em terras públicas. No entanto, apesar de documentação clara indicando que a fêmea reprodutora não deveria ser alvo, Asiza foi morta em 14 de abril, dez dias após a ordem explicitamente declarar que ela deveria ser protegida.
Para piorar a tragédia, o USFWS também autorizou a morte de Viento, o macho reprodutor da alcateia Hail Canyon, no Novo México.
Sua morte é um golpe devastador para essa já frágil família de lobos, deixando filhotes órfãos e uma ninhada vulnerável. A perda desses dois lobos-cinzentos mexicanos ameaçados de extinção — uma mãe grávida e um líder de alcateia — é trágica.
“A morte de Asiza é um enorme retrocesso”, disseram Leslie Williams e Samantha Attwood, fundadoras da Team Wolf, à World Animal News. “Ela era uma loba de 7 anos, uma mãe grávida e um membro vital de sua alcateia. Com tão poucos lobos-cinzentos mexicanos restantes na natureza, cada vida tem um peso imenso, e ‘erros’ evitáveis como esses são mais um lembrete doloroso de como a recuperação da espécie é frágil. Essa tragédia deve resultar em melhorias reais na forma como esses animais incríveis e ameaçados são protegidos daqui para frente.”
A sobrevivência da alcateia Bear Canyon depende de sua fêmea reprodutora. Sua perda não é apenas pessoal — é existencial. O meticuloso trabalho de recuperação do lobo-cinzento mexicano, uma das subespécies de lobos mais ameaçadas da América do Norte, sofreu mais um golpe pela própria agência encarregada de protegê-lo.
O problema central diz respeito à pecuária em terras públicas — recursos compartilhados que pertencem a todos, não apenas aos pecuaristas. Esses lobos, nativos do sudoeste, são componentes vitais do ecossistema, não intrusos. No entanto, são frequentemente perseguidos, marginalizados e mortos apenas por tentarem sobreviver.
“A morte de Asiza é devastadora, tanto para sua família quanto para sua espécie ameaçada. Os lobos-cinzentos mexicanos já enfrentam inúmeras ameaças à sua sobrevivência — ser mortos pelo governo federal, o mesmo governo encarregado de protegê-los, não deveria ser uma delas. Exigimos responsabilidade”, disse Regan Downey, diretora de educação do Wolf Conservation Center.
“Francamente, a morte de Viento é revoltante e contraproducente. Como parceiros do Programa SAFE para Lobos Mexicanos, confiamos ao governo federal o bem-estar dos lobos que são soltos sob nossos cuidados. Viento era o pai adotivo de um lobo-cinzento mexicano chamado Slides, nascido no Wolf Conservation Center em 2023 e introduzido na alcateia Hail Canyon naquele ano através de um programa de adoção de filhotes”, explicou Downey. “Como a morte de seu pai garante o bem-estar de Slides? Sua própria sobrevivência agora se tornou muito mais difícil, o que levanta a pergunta: quem está protegendo esses animais?”
Segundo o Wolf Conservation Center, o lobo-cinzento mexicano é a subespécie de lobo-cinzento mais geneticamente distinta do Hemisfério Ocidental e um dos mamíferos mais ameaçados da América do Norte. Em meados dos anos 1980, a caça, armadilhas e envenenamento haviam exterminado a espécie na natureza, restando apenas alguns indivíduos em cativeiro. Graças a um programa federal de reintrodução sob o Endangered Species Act, eles voltaram à vida selvagem em 1998. No entanto, hoje, apenas 286 permanecem em uma única população selvagem nos EUA.