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CAÇA ENLATADA

África do Sul incinera ossos de 42 leões para impedir que sejam vendidos como troféus de caça ou insumos da “medicina” tradicional

Cremação busca romper ciclo lucrativo que transforma animais em commodities, da exploração turística ao tráfico internacional.

18 de dezembro de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Momento da incineração dos ossos. Foto: Lord Ashcroft

Recentemente, nos arredores de Joanesburgo, autoridades sul-africanas acompanharam, sob forte sigilo, a incineração de ossos de 42 leões criados em cativeiro. A medida teve como objetivo impedir que os restos mortais dos animais fossem transformados em troféus de caça ou comercializados ilegalmente para a chamada medicina tradicional asiática, prática que trata partes de leões como substitutas de ossos de tigre.

Os ossos, que pesavam quase meia tonelada, foram queimados a cerca de 1.000 °C em um crematório de animais, em uma operação fechada ao público e protegida por segurança armada. Segundo ativistas e organizações de proteção animal, a decisão representou um ato simbólico e concreto em defesa dos direitos dos leões, historicamente explorados por uma indústria multimilionária baseada na crueldade.

Os animais incinerados eram leões mantidos em cativeiro, criados especificamente para abastecer a chamada “caça enlatada”. Nessa prática, turistas pagam milhares de dólares para matar leões em áreas confinadas, sem qualquer chance real de fuga. Após o abate, peles, ossos e outras partes do corpo costumam ser retiradas e inseridas no tráfico internacional.

Estudos indicam que cerca de 12 mil leões vivem hoje em fazendas e em cativeiros na África do Sul, número até quatro vezes maior que a população estimada de leões selvagens no país. Desde o nascimento, esses animais são submetidos a um ciclo de exploração, onde filhotes são separados das mães, usados em atrações turísticas, e depois descartados. Fêmeas costumam ser mortas precocemente; machos, mais valorizados, são destinados à caça ou ao comércio de ossos.

Cada esqueleto completo pode alcançar valores elevados no mercado ilegal, alimentando redes criminosas e reforçando a mercantilização de um dos animais mais emblemáticos da fauna africana. A incineração foi uma forma de romper definitivamente esse ciclo, garantindo que os leões não continuassem a gerar lucro mesmo após a morte.

A ação ocorreu em meio a tensões políticas. O plano inicial previa uma cerimônia pública, nos moldes da histórica queima de marfim promovida pelo Quênia em 1989, mas mudanças recentes no comando do Ministério do Meio Ambiente levantaram receios de interferência do lobby da caça. Ainda assim, a destruição dos ossos foi mantida como um gesto inequívoco contra o comércio de partes de leões.

Para a NSPCA, principal organização de proteção animal do país, a incineração “reforça que esses animais não são mercadorias”. Já a organização Blood Lions destacou que a medida envia um recado direto ao governo, dizendo que a sociedade civil e os direitos animais não aceitarão retrocessos nem a normalização da exploração de leões.

Permitir que leões sejam criados, abatidos e comercializados como produtos viola princípios básicos de bem-estar animal e proteção. Esses animais levam vidas sem liberdade, marcadas pela crueldade e pela perda total de valor intrínseco.

Ao reduzir seus ossos a cinzas, o Estado sul-africano evitou que eles fossem convertidos em símbolos de status, supostos remédios ou lucro ilícito, e reafirmou, ainda que sob disputa, que a vida de um leão vale mais do que qualquer mercado.

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