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ESTUDO

África começa a se dividir: pulsos do manto indicam formação de novo oceano

Estudo mostra que “batimentos” de rocha derretida sob a Etiópia estão abrindo lentamente uma fenda que, em milhões de anos, pode dar origem a um novo oceano no leste africano

16 de outubro de 2025
3 min. de leitura
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Foto: Derek Keir / Universidade de Southampton

Um novo oceano pode estar nascendo no coração da África. De acordo com uma pesquisa publicada na revista Nature Geoscience, pulsos rítmicos de rocha derretida estão subindo das profundezas do planeta sob o leste africano e lentamente rasgando o continente ao meio. A descoberta, liderada por cientistas das universidades de Southampton e Swansea, no Reino Unido, revela que o interior da Terra está “batendo” sob a região de Afar, na Etiópia, no continente africano — e esses “batimentos” estão moldando o futuro geológico do planeta.

A equipe internacional descobriu que o manto sob Afar não é estático, mas pulsa em intervalos regulares, enviando ondas de calor e material fundido para cima. Esses pulsos enfraquecem a crosta terrestre e intensificam o processo de separação entre as placas tectônicas. “Descobrimos que o manto sob Afar não é uniforme nem estacionário. Ele pulsa, e esses pulsos carregam assinaturas químicas distintas. Essas pulsações ascendentes de manto parcialmente derretido são canalizadas pelas placas em rifte acima delas. Isso é importante para entendermos como o interior da Terra interage com sua superfície”, explicou Emma Watts, pesquisadora da Universidade de Swansea e autora principal do estudo.

O coração da Terra sob a Etiópia

Localizada em uma das regiões mais geologicamente instáveis do planeta, Afar abriga a junção de três grandes falhas tectônicas: o Rifte do Mar Vermelho, o Rifte do Golfo de Áden e o Grande Rifte Etíope. Esse encontro triplo é o cenário ideal para o rompimento continental. À medida que as placas se afastam, a crosta se alonga e se torna mais fina até se romper, iniciando a formação de uma nova bacia oceânica — um processo que deve levar milhões de anos.

Os cientistas coletaram mais de 130 amostras de rochas vulcânicas na região e encontraram padrões químicos que se repetem, como se fossem “códigos de barras geológicos”. Esses padrões revelam que o manto pulsa de maneira constante e organizada. “As faixas químicas sugerem que a pluma pulsa, como um batimento cardíaco. Esses pulsos se comportam de forma diferente dependendo da espessura da placa e de como ela se move. Em riftes que se expandem mais rapidamente, como o do Mar Vermelho, as pulsações se propagam de maneira mais eficiente e regular, como o sangue fluindo por uma artéria estreita”, explicou Tom Gernon, professor da Universidade de Southampton.

Um continente se partindo ao meio

Esse movimento contínuo do manto aquece e desgasta a crosta terrestre, gerando uma sequência de vulcões ativos e terremotos frequentes — sinais de que o continente está literalmente se dividindo. “A evolução das elevações profundas do manto está intimamente ligada ao movimento das placas acima. Isso tem implicações profundas para como interpretamos o vulcanismo de superfície, a atividade sísmica e o processo de fragmentação continental”, afirmou Derek Keir, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Southampton.

Um novo oceano à vista na África

Embora o fenômeno avance lentamente, o resultado final parece inevitável: em milhões de anos, o Chifre da África deve se separar do restante do continente, dando origem a um novo oceano. A água do mar invadirá a fenda crescente, criando uma paisagem semelhante à formação do Atlântico há dezenas de milhões de anos.

Para Emma Watts, a descoberta é apenas o começo de uma nova fase de compreensão da dinâmica terrestre. “Trabalhar com pesquisadores de diferentes áreas é essencial para desvendar os processos que acontecem sob a superfície da Terra e relacioná-los ao vulcanismo recente. Sem o uso de várias técnicas, é difícil enxergar o quadro completo, como montar um quebra-cabeça sem ter todas as peças.”

Fonte: ICL Notícias

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