Pela primeira vez na história, a temperatura média global subiu para 1,6°C acima dos níveis pré-industriais, superando o limite de 1,5°C, considerado vital para prevenir a aceleração das mudanças climáticas. Os efeitos das mudanças climáticas agora estão mais visíveis do que nunca em todos os continentes.
Uma equipe de pesquisadores descobriu que até um terço da produção global de gases de efeito estufa até hoje pode ser atribuída à agropecuária animal e aos sistemas alimentares. No entanto, a maioria das soluções para as mudanças climáticas ignora o impacto desses sistemas alimentares.
O estudo intitulado “Resolver as Mudanças Climáticas Exige Mudar Nossos Sistemas Alimentares” propõe que a urgência dos efeitos irreversíveis das mudanças climáticas exige uma reformulação desses sistemas.
O professor Andrew Knight, coautor do estudo e professor adjunto da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Murdoch, afirmou que as mudanças climáticas representam uma grande ameaça para grande parte da vida na Terra, incluindo a humanidade.
“A agropecuária animal é uma grande emissora de gases de efeito estufa e uma das principais causas de desmatamento e uso de água doce. No entanto, comparada a emissores menores, como o setor de transporte, ela tem recebido surpreendentemente pouca atenção”, disse ele.
As emissões da agropecuária animal são tão grandes que não podemos efetivamente desacelerar as mudanças climáticas e a degradação ambiental ao ignorá-las. É imprescindível que nossas sociedades façam a transição para dietas mais sustentáveis, baseadas em vegetais.
O estudo explica que nossa crescente demanda por carne e produtos de origem animal é insustentável, com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estimando que a demanda por carne dobrará até 2050.
“Essa demanda exigirá que aproximadamente 80% das florestas e áreas de arbustos existentes sejam convertidas em terras dedicadas à criação de animais. Tal trajetória teria consequências devastadoras para nós e para o planeta”, afirmou o professor Knight.
De acordo com o estudo, o crescimento da população mundial aumentará a insegurança alimentar e a fome. O modelo atual de produção de alimentos (ou seja, a pecuária industrial) é “ineficiente e consome muitos recursos”.
O estudo apresentou estratégias para repensar os sistemas alimentares atuais, incluindo a eliminação de subsídios governamentais e a aplicação de impostos mais altos sobre produtos de origem animal, para levar em conta os custos externalizados da agropecuária animal.
A pesquisa apontou benefícios significativos para a saúde e economia ao adotar uma dieta fundamentalmente baseada em vegetais.
Segundo o estudo, o consumo de produtos de origem animal contribui para o desenvolvimento de muitas doenças crônicas e infecções resistentes a antibióticos em humanos – sendo que infecções resistentes a antibióticos matam aproximadamente 700.000 pessoas em todo o mundo anualmente.
“A proliferação da pecuária industrial nos aproximou mais do que nunca de surtos de zoonoses humanas letais, como a gripe aviária (gripe do frango) e o H1N1 (gripe suína), resultantes das operações de criação industrial”, destacou o professor Knight.
A autora principal do estudo, Dra. Svetlana Feigin, do All Life Institute em Washington, D.C., afirmou que mudanças críticas em nosso sistema alimentar e hábitos de consumo exigirão uma mudança de mentalidade global.
“O futuro da humanidade e de toda a vida no nosso planeta depende da sustentabilidade, e os dados indicam que não teremos sucesso na questão das mudanças climáticas, a menos que mudemos a forma como produzimos e consumimos alimentos”, disse a Dra. Feigin.
Fonte: Murdoch