Fátima ChuEcco/Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
Pandora e Bia foram adotadas às vésperas desse Natal, mas tiveram sorte porque essa época do ano é complicada para adoções uma vez que muita gente viaja ou está entretida com correria de compras e festas. As ONGs e protetores independentes aproveitam as Feiras de Natal para conseguir adoções, mas é um trabalho difícil, aliás, nessa época é muito comum também o abandono de animais por pessoas que saem de férias. Alguns são, inclusive, deixados trancados em casas vazias com pouca comida e sem ninguém para cuidar deles.
Mas foi justamente o período de férias do trabalho que motivou um casal de médicos a adotar a cachorrinha Pandora, uma semana antes do Natal, da protetora independente Neusa Maria Sposito que, em cinco anos, já conseguiu lar para mais de 150 animais. Sabrina Polycarpo e Eduardo Barros, de SP, viram um post sobre a Pandora no Facebook e se apaixonaram por ela. “Pela descrição da protetora, Pandora tinha um perfil semelhante ao que procurávamos. É uma cadelinha jovem, alegre, sociável e o charme de ter uma das orelhas caídas nos encantou à primeira vista”, conta Sabrina.
“Como não fizemos planos de viajar, resolvemos aproveitar as duas semanas de férias para a adaptação de Pandora conosco e tem sido muito bom. Ela é muito carinhosa, beija todo mundo e aceita carinho de todos. É dócil com crianças e tranquila com outros cachorros”, comenta a médica. Pandora parece bem à vontade nas fotos e foi o típico presente de Natal de mão dupla: ela ganhou uma família e casal de médicos uma “filha adotiva”. “Preferi adotar porque sou contra criadouros de cães. Além disso, é melhor a gente fazer o bem, já que tantos bichinhos estão abandonados”, conclui.
Janaína Lopes Bastos, programadora de computador, de SP, adotou Bia no dia 14 de dezembro. A gatinha já tinha sido adotada antes, mas foi devolvida porque a filha da adotante apresentou alergia. “Ao voltar para o gatil da ONG Bia ficou muito deprimida, emagreceu bastante e ficava num canto isolada, bem triste”, conta. Janaína diz que Bia está se adaptando bem: “No começo estranhou um pouco, mas agora já está praticamente inserida na comunidade felina da casa. Já brinca e dorme conosco todas as noites”.
Com Bia, a casa tem agora um total de sete gatos: “Todos são adotados. Três são da Gatinhos da Vila Prudente, uma da Adote um Gatinho, dois da Toca dos Gatinhos, e a primeira, que já tem 14 anos, adotei da rua mesmo”. Ela acredita que adotar é muito melhor que comprar: “Adotar é dar uma chance para um bichinho que precisa muito de amor e cuidados. Salvar um gatinho da vida difícil das ruas não tem preço”.
A vida de Bia não foi mesmo nada fácil até agora. Ela foi resgatada pela ONG “Gatinhos da Vila Prudente” de cima de um telhado junto com dois filhotes e já estava grávida de novo. Os demais gatos de Janaína também passaram por grandes dificuldades até serem acolhidos no lar amoroso da programadora. A ONG “Gatinhos da Vila Prudente” conseguiu adoção para três gatinhos em dezembro, mas foram dez resgates e os pedidos de socorro não param de chegar. Além dos que já estão nas ruas, tem a problemática de gente que viaja e abandona gatos nessa época do ano achando que eles “vão se virar sozinhos”.
A verdade sobre os criadouros
Em duas matérias compartilhadas recentemente pela ANDA ficou, mais uma vez, evidente a crueldade desses locais onde as fêmeas são tratadas como máquinas de fazer filhotes obrigadas a cruzamentos ou à inseminação artificial, e descartadas quando envelhecem como se fossem um eletrodoméstico usado. Em geral, quando um criadouro é denunciado, cães adultos e filhotes já estão em péssimo estado, muitas vezes passando fome e sede, e amontoados em gaiolas. Foi o que mostrou a reportagem da Veja.
O site Metrópolis denunciou criadouro em Brasília onde a situação não podia ser pior: “Dezenas de cães da mesma família estavam amontoados em pequenas baias de concreto e arame. Como resultado, o cruzamento destes animais acabou gerando filhotes deformados, sem patas ou olhos, como se os pequenos cães tivessem sido mutilados. Os que não serviam para a venda, eram dispensados, segundo denúncias de grupos de proteção de animais”.
Um agravante é que as reportagens, embora sejam essenciais para o fechamento de locais como esses dois acima mencionados, geralmente abordam apenas a situação de higiene, saúde e acomodação dos animais, mas há outros problemas nos quais as pessoas normalmente não pensam, por exemplo: mesmo num criadouro que cumpra todas normas de higiene, saúde e espaço, o que acontece com as fêmeas depois de exploradas ao máximo? Claro que elas não são acolhidas na casa dos comerciantes que as tratavam como objetos. Muitas vezes as pessoas se encantam com um criadouro limpo e organizado sem se darem conta do terrível futuro que terão aquelas “mãezinhas” depois de ano após ano tendo seus filhotes arrancados delas à força, muitas vezes sem chance de lamber e amamentar a cria.
É um trauma violento para mães e filhotes impedidos desse contato vital nas primeiras semanas de vida. Há cadelas que se tornam violentas depois de terem várias crias tiradas delas. Elas começam a matar os filhotes assim que nascem, mas os comerciantes, que pensam apenas em lucro, resolvem isso de uma maneira bem prática: retiram a cria imediatamente e amamentam com mamadeira. Pronto!
E é uma judiação manter os filhotes distantes das mães, sem o calor e o carinho maternos. Na maioria dos casos os filhotes só são colocados junto à mãe para mamar e depois são levados para longe. E as mães, essas sofrem uma agonia imensurável sem saber onde estão os bebês. Além disso, que tipo de vida elas levam? Passeiam em gramados e parques? Recebem carinho? A vida de uma fêmea em criadouro é numa baia. Muitas sequer tomam sol. Passam a vida aprisionadas até serem descartadas, abandonadas em alguma estrada ou induzidas à morte. E isso acontece mesmo em criadouro que segue todas as normas de funcionamento porque as regras não estão visando o bem-estar psicológico e emocional desses animais, e muito menos seu futuro. Então a questão vai muito além de higiene e espaço.
Cada pessoa que compra um filhote deveria se colocar no lugar dessas “mãezinhas” que passam a vida tendo seus filhotes arrancados e sentindo a mesma aflição a cada nova gestação, já que sabem que a violência se repetirá. Algumas tremem só de ver a injeção para inseminação artificial. E esperam o tempo passar dessa forma até que esse sofrimento acabe numa ação de abandono ou de morte induzida… o que acaba sendo um alívio para uma vida tão miserável.
As fotos que ilustram essa parte do texto mostram cachorro e gato que esperam adoção em SP. Contato com ONG Ajuda Animal pelo Facebook.
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