Publicada na revista Science no dia 21/10, uma pesquisa científica realizada por professores de universidades americanas e britânicas descobriu que as fêmeas de elefantes africanos evoluíram para deixar de desenvolver presas em Moçambique após a guerra civil. Segundo a pesquisa, a caça para obtenção de marfim foi a maior responsável por esse fenômeno.
No país, o comércio de marfim foi utilizado para financiar a guerra civil que se deu entre o final da década de 70 e o início da década de 90. De acordo com o portal Jornal do Brasil, a população de elefantes em Moçambique caiu mais de 90% em razão da caça – se antes a população contava com mais de 2.500 animais, no início dos anos 2000 ela apresentava cerca de 200 elefantes.
Ao longo dessa época, as fêmeas que sobreviviam eram as que não possuíam presas, então essa característica genética foi passada para as próximas gerações. O biólogo Shane Campbell-Stanton, principal autor do artigo, estima que antes dos conflitos, menos de um quinto dos elefantes não produzia presas.
Todavia, entre 1977 e 2004, a proporção de fêmeas sem presas foi de 18,5% para 33%. “Os anos de incerteza armada mudaram a trajetória da evolução daquela população”, comenta o biólogo citado pela Nature.
A pesquisa também revela que pode demorar um século para que a proporção de fêmeas sem presas retorne para os níveis anteriores à guerra, ainda que essa já tenha acabado a quase 30 anos.
“Provavelmente levará cinco, seis ou sete gerações para voltar aos 2% que você esperaria sem qualquer pressão de caça”, teoriza Campbell-Staton.
E os machos?
Apesar desse padrão de ausência de presas estar presente nas fêmeas, ele ainda é raro nos machos. Isso sugere que a origem genética dessa característica está ligada ao sexo do animal.
Os pesquisadores identificaram um gene dominante que poderia ser responsável pela ausência de presas: Amelx. Ele é transmitido de mães para filhos no cromossomo X e também está presente em humanos. Para um homem, herdar um gene Amelx interrompido em seu cromossomo X geralmente significa a morte, de acordo com o portal Jornal do Brasil.
A teoria dos autores do estudo é que o mesmo poderia ocorrer com os elefantes africanos. Herdar um gene Amelx interrompido significa morte para os machos e apenas ausência de presas em uma fêmea.