O Acordo de Paris completou 10 anos na última 6ª feira (12/12). Ratificado por mais de 190 países na COP21, o texto é considerado a espinha dorsal da cooperação internacional para o clima. Em declaração, a ONU comemorou avanços significativos, mas alerta que o mundo continua distante da meta de limitar o aquecimento a 1,5°C — ponto crítico para se evitar impactos severos e irreversíveis.
“A ação climática precisa ir além e ser mais rápida. Os últimos dez anos foram os mais quentes já registrados. Estamos testemunhando tragédias humanas, destruição ecológica e crises econômicas em tempo real, com a devastação aumentando à medida que as temperaturas continuam subindo”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Na InfoAmazonia, a diplomata porto-riquenha Christiana Figueres, uma das principais “arquitetas” do acordo, afirma que, em setores como o energético e o de transportes, “estamos muito melhor do que poderíamos ter imaginado”. No entanto, setores como indústria de energia pesada – cimento, aço, ferro – e uso do solo, agricultura e restauração florestal estão aquém.
Cientistas e a ONU estimam que o planeta não escapará temporariamente do “overshooting“, quando a meta de 1,5°C será ultrapassada. Mas como a Folha enfatiza, Paris colocou o mundo em uma trajetória sem retorno para longe dos combustíveis fósseis. Apesar de estar longe de uma solução, o acordo expõe os maiores suspeitos pelo aumento da crise climática.
“Se não tivéssemos o acordo, hoje as emissões estariam em níveis mais altos, mas provavelmente a mudança mais importante é que teríamos uma permanência muito mais longeva de sistemas de energia intensivos em carbono. Não acredito que teríamos, por exemplo, a rápida eliminação do carvão que temos visto”, opina o físico Bill Hare, professor da Universidade Murdoch, na Austrália, e fundador do instituto de ciência e política climáticas Climate Analytics, na Folha.
Para Laurence Tubiana, chefe da diplomacia francesa durante a COP21 e hoje presidente da European Climate Foundation, a prova de que as ferramentas do Acordo de Paris continuam válidas é o número de países que criaram leis climáticas nacionais. “O que mudou nos últimos anos é que a soberania está sendo afirmada com mais força, tornando a ação coletiva mais difícil. Paris está sendo testado”, reflete na Folha.
De fato, houve muitas pedras no caminho do acordo nestes 10 anos. O Guardian relembra como o primeiro golpe veio logo após um ano, com a eleição do negacionista Donald Trump em 2016 – e a primeira promessa de tirar o país do pacto em 2017. Depois, ainda em 2016, a China acelerou sua taxa de produção de dióxido de carbono, que atingiu 12,3 bilhões de toneladas no ano passado.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que as emissões globais precisam cair 43% até 2030 para que o objetivo de aquecimento de 1,5°C permaneça ao alcance. A ONU enfatiza que países reforcem suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e acelerem a transição para economias de baixo carbono.
“A chave agora é acelerar o ritmo: implementar, de forma responsável, a redução das emissões e a regeneração dos nossos ecossistemas naturais”, afirma Christiana.
Fonte: ClimaInfo