Segundo as informações do National Geographic Brasil, um abrigo em Montreal, no Canadá, comunicou as organizações de resgate que mataria os coelhos Baloo, um grande coelho branco, e seu irmão Elliot, em até três dias, a menos que alguém se voluntariasse para adotá-los. Com poucos recursos financeiros, o abrigo tinha tantos coelhos que não estavam conseguindo anunciá-los para adoção, de acordo com a Rabbit Rescue Inc.
“Este tem sido o pior período em 20 anos de resgates”, comenta Haviva Porter, gestora da Rabbit Rescue Inc.
O diretor do abrigo de animais, Joe Labriola da PAWS Atlanta, nos Estados Unidos, explica que o abrigo mal está conseguindo sobreviver. “Passamos por mudanças profundas nos últimos meses”, contou. Tanto os Estados Unidos quanto o Canadá estão enfrentando a mesma crise com as equipes de resgate de animais.
Durante os primeiros meses de pandemia no ano passado, foi constatado através de relatórios que o número de adoção de animais em abrigos foi recorde. As pessoas voltaram a trabalhar de forma presencial e a viajarem, no entanto, os animais domésticos que foram adotados para fazer companhia no período de confinamento e estão sendo abandonados.
De acordo com Lindsay Hamrick, diretora de alcance e engajamento de abrigos na Sociedade Humanitária dos Estados Unidos, o número de adoções no país em 2020 foi inferior ao ano de 2019. Esses dados são o resultado do fato de que os abrigos acolheram menos animais e não há indicação de que a devolução de animais adotados durante a pandemia seja “uma tendência”. “A realidade tem mais nuances”, complementou.
A Covid-19 criou um efeito dominó, onde o número de animais de estimação que precisam de resgate ainda não voltaram aos níveis anteriores à pandemia.
Atualmente, muitos abrigos de animais foram prejudicados com a falta de profissionais, resultando uma redução na aceitação de animais e diminuição em eventos de adoção, de acordo com Holly Sizemore, diretora de missão na Best Friends Animal Society. O setor de transporte que leva os animais das ruas para seus novos lares também foi afetado durante a pandemia.
De acordo com Haviva Potter, na região do sul de Ontário, no Canadá, nas últimas semanas haviam 40 abrigos lotados com coelhos domésticos, sem condições de receberem novos animais. “Acontece o tempo inteiro e é terrível”, comenta. “Começo de manhã cedo e vou até meia-noite. São 80 horas de trabalho por semana”, explicou. Ela recebe ligações o dia todo a respeito de coelhos abandonados.
A Rabbit Rescue Inc. conseguiu levar Baloo, Elliott e outros três coelhos para lares adotivos em Ontário, no dia 13 de julho. A gestora, acabou adotando o Baloo, o “coelhinho de sofá”, segundo ela. Ele é tão dócil que passa os dias deitado na sala de estar dela. “Eu choro ao pensar no que aconteceria se não o tivéssemos tirado de lá”, contou. “Ele é um animalzinho amoroso que não merecia aquela situação”, complementa.
O desafio para os abrigos
Segundo uma pesquisa realizada pela Best Friends Animal Society, em agosto, 87% dos 187 abrigos dos Estados Unidos que participaram da pesquisa estão com falta de profissionais. Além disso, os Estados Unidos, estão enfrentando uma séria escassez de veterinários, diz Lindsay Hamrick.
“Alguns abrigos em áreas rurais sequer possuem veterinários no condado.” Ela comenta que, durante o período de pandemia, a castração de animais foi considerada serviço não essencial em muitas regiões americanas, onde houve um aumento de animais que precisam deste procedimento para serem adotados.
A castração é uma das razões pelas quais os abrigos estão lotados, isso significa que eles não conseguem preparar os animais adequadamente para serem adotados como antes. “A demanda está excedendo a oferta médica, o que atrasa os processos de adoção”, explica Labriola, da PAWS Atlanta.
A adoção tardia, estadias prolongadas dos animais nos abrigos e a escassez de profissionais têm sérias consequências.
Os abrigos dependem de uma rede de pessoas para sobreviver. A exemplo dos que estão localizados em áreas rurais, com poucos recursos e baixos índices de adoção, dependem que os animais sejam direcionados aos abrigos em melhores condições em cidades com maiores taxas de adoção.
Algumas raças de cães, como pit bulls ou huskies e espécies específicas de coelhos, por exemplo, são mais comuns de serem resgatadas. Os abrigos recebem esses animais de condados e cidades, onde eles seriam mortos, e os colocam em lares adotivos.
“A movimentação de animais de comunidades com altas taxas de admissão para comunidades com altas taxas de adoção é fundamental para manter as estatísticas nacionais de níveis de adoção elevadas e as estatísticas de eutanásia baixas”, esclarece Steve Zeidman, vice-presidente sênior da PetHealth Inc. Entretanto, Zeidman conclui que as transferências de animais entre as instituições parecem ter “caído significativamente”.
Lindsay Hamrick explica que as profissões relacionadas ao cuidado dos animais estão entre os maiores índices de exaustão e fadiga, do que por compaixão. “Se um abrigo costumava enviar 100 cães por semana para outro abrigo, mas agora não pode, e não possui veterinários e profissionais suficientes, ele vai ficar muito sobrecarregado”, explica Hamrick.
Alguns pedidos de transferência de animais foram recusados pela PAWS Atlanta, por serem locais que praticam o procedimento de morte induzida, algo que era comum no passado. “Eles estão tão lotados quanto os outros abrigos, mas temos que recusar, porque não há espaço para acolher esses animais. Nada disso acontece exclusivamente no PAWS”, lamenta Labriola. “No momento, este é um desafio em nível nacional.”
Tutores de animais domésticos enfrentam crises
Labriola comenta que, embora a aceitação dos animais em abrigos não estejam aumentando no país, ainda assim, mais pessoas estão levando animais para a PAWS Atlanta. Em meados de agosto, oito cães, seis gatinhos e quatro porquinhos-da-índia foram abandonados nos portões do abrigo após o horário de expediente. Segundo ele, em épocas normais, um animal era abandonado no local uma vez por semana ou a cada duas semanas. Era fácil de controlar. Hoje, os funcionários não têm certeza do que vão encontrar a cada dia.
“Estamos localizados em uma comunidade com poucos recursos, duramente atingida pela recessão econômica”, concluiu Labriola. Ele também observa um aumento na quantidade de pessoas buscando alimentos para seus animais doméstico no abrigo, o que “mostra que as pessoas estão enfrentando dificuldades para alimentar os animais e que pode ser outra razão pela qual abrem mão deles”, diz. Para ele, as pessoas estão sem condições financeiras para cuidar dos seus animais.
De acordo com a estimativa da Sociedade Humanitária dos Estados Unidos, mais de 10 milhões de animais domésticos podem ficar desabrigados à medida que as pessoas perderem suas casas. Para Hamrick e Labriola, o vencimento do prazo da moratória nacional de despejos de locatários no mês que vem é preocupante.
Ainda assim, o número de animais adotados nos Estados Unidos em 2020 foi 19% maior do que em 2019, de acordo com Zeidman, que acrescenta que o número de pessoas oferecendo abrigo para estes animais está aumentando.
Após perder seu emprego corporativo no início da pandemia de Covid-19, Chloe Arrington, decidiu realizar o sonho de trabalhar com resgate de animais. Tornou-se coordenadora de redes sociais na LifeLine Animal Project, empresa que administra o abrigo do Condado de Fulton, em Atlanta. Ela abrigou quatro animais.
“Eu percebi que o rato Remy não sobreviveria no abrigo, por isso levei-o para minha casa”, conta. “Agora ele está feliz em seu palácio.” Chloe comenta que adotou um par de coelhinhos com orelhas caídas, Siegfried e Roy. A adoção foi para aliviar um dos abrigos que estavam com superlotação de animais.
Um lulu-da-pomerânia dourado cego de um olho, Bentley, ela disse que tentou resistir por muito tempo. No entanto, Bentley e os outros são seus “fracassos de abrigo”, mesmo com todo esse caos, eles encontraram um lar adotivo.