Por Cassio Mosqueira (da Redação-Canadá)
A OSPCA (Sociedade para a Prevenção de Crueldade contra Animais de Ontário) não vai levar adiante o plano de matar todos os animais infectados com micose, no abrigo de Newmarket, no Canadá, segundo o presidente Rod Godfrey.
“Nós ouvimos o clamor alto e claro e por isso estamos aqui hoje – para esclarecer o assunto e informar o público”, disse Godfrey, em entrevista coletiva.
Ele disse que a organização tinha erroneamente informado o número real de animais – originalmente reportado como cerca de 350 – que precisam ser sacrificados, como resultado do surto de micose no abrigo da região de York.
Porém, segundo Godfrey, 99 animais teriam morrido vítimas do surto de micose, desde a manhã de terça-feira (11) passada. Ele também disse que 15 animais haviam sido roubados da instalação, provavelmente por funcionários ou voluntários que temiam pela segurança dos animais.
A reversão da OSPCA veio após crítica generalizada da decisão de sacrificar quase todos os animais do abrigo, na tentativa de conter um surto de micose, que também afetou seis funcionários.
Noventa e seis animais foram colocados em lares adotivos, onde passaram por mais testes e tratamento. A maioria foi adotada antes do surto, disse Godfrey, mas ainda serão testados por precaução. Se infectados, eles serão devolvidos para os cuidados da OSPCA.
Há motivos para ter esperança de que os 140 animais restantes no abrigo possam ser tratados e curados, disse Godfrey. Os 23 cães, 91 gatos e outros animais domésticos passarão por testes ao longo do próximo mês em outros abrigos e agências.
Os animais serão analisados um por um para determinar se a eutanásia é necessária.
A nova decisão da OSPCA veio após uma sequência de protestos acalorados fora do abrigo Newmarket, onde os voluntários, doadores e outros manifestantes abertamente choraram e gritaram: “Assassinos!” aos funcionários da organização.
“Com o tempo, a opinião pública prevaleceu, de forma muito clara”, disse o membro do parlamento de Newmarket, Frank Klees, que expressou sua oposição à decisão da OSPCA esta semana no parlamento provincial e chamou Godfrey diretamente para expressar suas preocupações.
“Nós respondemos aos manifestantes, respondemos aos membros do Legislativo e respondemos a todos os contribuintes, em Ontário”, disse Godfrey na entrevista coletiva.
Cerca de 40 manifestantes continuaram o protesto em frente ao abrigo na quinta-feira passada , dizendo que não irão embora até saberem por que a decisão de eutanásia foi feita a princípio.
Muitos pediram a demissão geral do conselho da OSPCA e altos funcionários, outros disseram que deveria haver um inquérito independente de terceiros.
“A confiança foi quebrada e o relacionamento foi rompido”, disse Elizabeth Staunton, que se sentiu mal sabendo que, enquanto protestava, dezenas de animais estavam sendo mortos a apenas alguns metros dali.
“Eles continuaram com isso mesmo após saber como nos sentíamos”.
Staunton disse que os manifestantes – muitos dos quais são voluntários no abrigo – querem saber como a decisão de eutanásia foi feita, quem a fez, como as decisões foram tomadas na adoção dos animais e por que eles não foram consultados.
Staunton disse que o episódio deixou muitos voluntários se sentindo ignorados pela organização.
“Temos perguntas que precisam de respostas. Só então podemos começar a reconstruir a confiança “.
Godfrey enfatizou que, por lei, as decisões de eutanásia de animais são feitas por veterinários e não executivos da OSPCA.
“Nós agimos de acordo com a lei e continuamos a agir de acordo com a lei para salvar quantos animais for possível”, disse ele. “Se não o fizéssemos, teríamos que encontrar outras pessoas para fazer esses trabalhos.”
Godfrey disse que alguns dos médicos veterinários da organização receberam ameaças de morte.
Ele disse que ele e a chefe oficial executiva Kate MacDonald irão investigar o assunto e disponibilizar um relatório final ao público. Eles vão revisar o cuidado aos animais e protocolos de comunicação para identificar “o que pode ser feito para parar com isto, de forma que isso nunca mais volte a acontecer.”
A micose não é fatal para os animais, mas o diagnóstico, tratamento, isolamento e descontaminação das instalações são caros.
A OSPCA classificou a causa do surto como “erro humano”, dizendo que certos protocolos não foram seguidos. Eles demitiram a gerente do abrigo Denise Stephenson no dia 30 de abril.
Stephenson, que trabalhava para a OSPCA há mais de 5 anos, diz que está sendo usada como bode expiatório, pois foi demitida “sem nenhum motivo real”.
Klees, o membro do parlamento, disse que se sentiu obrigado a se envolver, pois o plano inicial de eutanásia paracia muito drástico.
Na terça-feira, ele pediu ao Ministro de Segurança Comunitária, Rick Bartolucci, para atrasar o processo de eutanásia para que soluções alternativas pudessem ser exploradas, mas Bartolucci disse que o governo provincial não tinha nenhuma autoridade sobre a OSPCA.
Klees quer mudar a legislação provincial para dar mais autoridade sobre as agências como a OSPCA “, para ter certeza de haver uma supervisão adequada.”
Um dos maiores eventos de arrecadação de fundos da OSPCA, a caminhada “walk-a-thon”, foi cancelado. Em vez da caminhada, os protestantes estão planejando uma marcha fúnebre para os animais mortos.
Fonte: The Star