Seis meses após a pior tragédia climática atingir Porto Alegre e diversas regiões do Rio Grande do Sul, cerca de 200 animais ainda aguardam por adoção em quatro abrigos na Capital. O dado é do Gabinete Municipal da Causa Animal.
Os animais estão no Vida Centro Humanístico, na Zona Norte, na Unidade de Saúde Animal Victória (Usav), na Lomba do Pinheiro, no Abrigo do Gasômetro, na Zona Sul, e no Largo da Epatur, na Cidade Baixa. Este último anunciou o encerramento das atividades para a próxima semana. Uma última feira de adoção acontece neste sábado.
Os locais onde estão os cães e gatos contam com apoio da prefeitura. O número de animais já reduziu significativamente. No auge da enchente eram aproximadamente 80 abrigos com 6 mil animais resgatados esperando por um lar. Agora, os remanescentes da tragédia aguardam por uma nova vida.
Segundo o Gabinete Municipal da Causa Animal, foi feito edital de chamamento público com o objetivo de obter parcerias com entidades protetoras e empresas prestadoras de serviço para oferecimento de creche e hospedagem. A ideia da prefeitura é realocar os animais, conforme o perfil deles, para os locais credenciados.
Os animais não adotados são, no geral, os de porte maior e os de pelagem caramelo ou preta. Para tentar reverter o cenário, estão sendo realizadas feiras de adoção periódicas.
Abrigo será fechado na próxima semana
Nessa quarta-feira (6), 21 cães aguardavam por adoção no abrigo do Largo da Epatur, localizado na Cidade Baixa. A situação dos animais preocupa os veterinários e os voluntários do local.
O espaço vai ter encerramento das atividades no dia 14 de novembro. A reportagem apurou que não há interesse dos coordenadores do lugar em renovar a parceria com a prefeitura.
Num primeiro momento, o abrigo do Largo da Epatur ficava situado no estacionamento do Shopping Iguatemi. Conhecido como Aubrigo Scooby, em julho foi realocado para o atual endereço.
Na Cidade Baixa, os animais são cuidados por voluntários da ONG Santuário Voz Animal e há serviço de veterinários 24 horas por dia. Há jovens protetores cedidos pela prefeitura para auxiliar. Trata-se das pessoas que passeiam três vezes ao dia com os cachorros.
A Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre (Cootravipa), em parceria com o Executivo municipal, cuida da limpeza. Os recursos para o abrigo chegam por meio de doações da sociedade. Em algumas situações, é preciso até levar os animais para atendimento particular, dependendo do problema.
Segundo a fundadora da entidade e coordenadora do abrigo Fernanda Ellwanger, o objetivo agora é conseguir adotantes para os remanescentes da enchente. Os cães que não forem adotados devem ser levados para Eldorado do Sul.
“Estamos terminando o espaço para receber os cachorros remanescentes em Eldorado do Sul (onde a entidade possui espaço). Só que nós só temos 10 canis e ainda restam 21 cães para serem adotados. Precisamos de bons adotantes”, explica Fernanda.
A veterinária e resgatista Fabíola Opitz, que trabalha no abrigo do Largo da Epatur, reforça o pedido para que a pessoas adotem os cachorros. Em função do verão e da temporada de férias, o receio é que muitos cães de lares temporários sejam devolvidos ao abrigo.
“Não é um lar que a gente precisa. Precisamos de adotantes mesmo. Para esses remanescentes e para os que estão voltando dos lares temporários”, pede Fabíola.
56 baias individuais entregues em abrigo
A secretária da Causa Animal de Porto Alegre, Fabiana de Araújo Ribeiro, assegura que nenhum animal será abandonado quando os abrigos temporários forem encerrados.
“Os animais que restarem vêm para a (tutela da) prefeitura. Vamos albergar os animais nos locais credenciados e temos feiras de adoção itinerantes”, afirma Fabiana, acrescentando que, desde maio, já foram investidos R$ 6 milhões por parte da prefeitura na causa animal.
Conforme Fabiana, serão entregues 56 baias individuais com piso lavável na Unidade de Saúde Animal Victória.
O Gabinete Municipal da Causa Animal também organiza evento de adoção na Feira do Livro, na Praça da Alfândega, durante a manhã, no dia 17 de novembro. Também estão sendo planejadas feiras mensais já com entidades credenciadas em outros pontos da cidade.
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) encaminhou posicionamento sobre as ações em andamento (confira mais abaixo). Na nota, destaca que “lançou o Plano Estadual de Resposta à Fauna, que contempla uma série de ações em prol do bem-estar dos animais atingidos pelas enchentes” e que tem “uma campanha publicitária com foco na adoção dos cães e gatos em abrigos”.
Feira de adoção neste sábado
Neste sábado (9), das 10h às 18h, será realizada a última feira de adoção no Largo da Epatur. O abrigo fica localizado na Travessa do Carmo, 120.
Quem quiser responder ao formulário de adoção pode ir no Instagram do Aubrigo da Luz (@aubrigodaluz).
Quem for direto na feira, precisa fazer fotos e vídeos da casa pelo celular para mostrar o ambiente para o qual o animal será levado após a adoção.
O Pix para auxiliar o abrigo Santuário Voz Animal é o seguinte e-mail: [email protected]
O que diz o governo do Estado
Questionado pela reportagem se tem algum plano para os animais que não forem adotados, o governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), encaminhou a seguinte nota:
“Desde o início das enchentes, o governo do Estado vem atuando para garantir o resgate, acolhimento e cuidado com os animais domésticos, sob a coordenação do Gabinete de Crise de Resposta à Fauna. Em maio, lançou o Plano Estadual de Resposta à Fauna, que contempla uma série de ações em prol do bem-estar dos animais atingidos pelas enchentes, entre as quais um programa de castração e microchipagem em massa – em uma parceria com o Ministério Púbico, Grupo de Resgate a Animais em Desastres e hospitais veterinários universitários – bem como campanhas de adoções de animais em abrigos.
Para seguir avançando nas políticas de manejo de animais após as enchentes no Rio Grande do Sul, o governo do Estado criou, dentro Câmara Temática do Meio Ambiente no âmbito do Conselho do Plano Rio Grande, um grupo de trabalho para discutir iniciativas pelos animais com entidades e protetores, e promoveu feiras de adoção.
O Decreto nº 57.768, de agosto de 2024, instituiu o Programa Emergencial de Manejo da População de Cães e Gatos em Abrigos, visando o bem-estar, adoção e esterilização dos animais resgatados das enchentes de abril e maio de 2024. Ele prevê repasses do Fundo do Plano Rio Grande para municípios em estado de calamidade, que deverão realizar feiras de adoção, garantir o bem-estar animal, microchipagem e castração, além de fiscalizar abrigos e lares temporários.
Os abrigos e lares, selecionados e fiscalizados pelos municípios, receberão recursos para manter os animais sob os padrões de bem-estar, com a meta de facilitar adoções responsáveis e garantir suporte direto e indireto para os animais acolhidos. Até o momento, os municípios de Canoas e Porto Alegre se habilitaram e enviaram toda a documentação necessária.
Para operacionalizar o Programa, foi criado o SISPET, plataforma digital que visa fornecer informações para o Governo do Estado sobre os abrigos, lares temporários e pets dos municípios afetados pelas enchentes do Rio Grande do Sul.
Dentro desse programa, os municípios devem encaminhar um plano de desmobilização de abrigos, conforme o número de animais previstos. Com base nesses dados e com o andamento do programa estaremos estudando alternativas de apoio aos municípios.
O governo lançou, também, uma campanha publicitária com foco na adoção dos cães e gatos em abrigos e a contratação de consultoria técnica do Instituto Medicina Veterinária do Coletivo (IMVC) para diagnóstico situacional e apoio na elaboração de políticas públicas. Com o conjunto de ações, o Estado busca estabelecer um sistema robusto de apoio a abrigos e lares temporários, garantindo que os animais recebam os cuidados fundamentais que precisam. As informações estão disponíveis no link.”
Fonte: Zero Hora