Nos próximos dias, completam-se sete meses do início do drama das enchentes no Rio Grande do Sul. De lá para cá, o cenário de grandes cidades mudou, assim como vida de milhões de pessoas, que lutam pela reconstrução e pelo recomeço. Há, porém, um silencioso drama daqueles que não podem expressar a situação que vivem: os milhares de animais que perderam seus lares e passaram a viver em abrigos.
Em um sítio localizado no bairro Lageado, na Zona Sul da Capital, cerca de 80 cães, além de dois cavalos, dezenas de galinhas e cinco patos, passaram a viver no local que foi alugado pela instituição Abrigo do Gasômetro, criada durante as enchentes para abrigar animais resgatados de diversas cidades gaúchas.
A sede, que ainda é improvisada para manter tantos animais, é uma conquista recente, alugada para oferecer conforto aos seres que, possivelmente, viverão ali pelo resto de suas vidas. Antes de ir para o sítio, o abrigo chegou a ficar ameaçado de fechar, mas conseguiu, através do trabalho dos voluntários que mantêm o local, a transferência para o novo endereço.
Desde então, baias de madeira foram construídas para que os cães tenham um local seguro para ficar, enquanto o grupo busca por auxílio para concluir o primeiro pavilhão que abrigará as novas baias, feitas em alvenaria. Além disso, o desafio da ampliação se faz necessário porque, nos próximos meses, outros 200 cães também devem ser transferidos para o sítio.
Conforme a voluntária Luisa Sigaran Machado, 25 anos, diariamente novos animais são encaminhados por outros abrigos para o local. “Estamos sem espaço para receber estes cães. Por isso precisamos, urgentemente, de ajuda para poder recebê-los”, explica.
Além de Luisa, outros três voluntários estão a frente do Abrigo do Gasômetro. O grupo se conheceu durante o trabalho realizado no recebimento dos animais que chegavam ao serem resgatados. Ao todo, durante os dias de inundação, mais de 6.500 animais passaram pelo hospital criado na Orla do Guaíba. Desde então, o grupo continua a zelar pelas suas vidas. “Vimos esta necessidade que não é só atual, mas algo permanente, de dar amor e carinho para eles. Como não tinham lugar para resgate e reabilitação física e emocional destes animais, organizamos este espaço”, conta a jovem.
Para viabilizar todo este cuidado, Luisa explica que precisou trancar a faculdade de psicologia e deixou o emprego para trás, se dedicando exclusivamente à causa animal. Entretanto, a manutenção do abrigo tem um custo. “Estamos dependendo de doações e contando com algumas ajudas, mas precisamos de um apoio permanente para continuar com este espaço”, relata.
Além das doações financeiras, que podem ser feitas pelo pix através da chave [email protected], também é possível auxiliar o grupo com a doação de materiais de construção e mão de obra para construção das baias, assim como rações para alimentar os animais. “Nosso maior objetivo é conseguir terminar as baias, pois alguns cães estão amarradinhos”, ressalta Luisa.
O contato com o abrigo pode ser realizado pela página @abrigodogasometro no Instagram, onde também pode ser acompanhado todo o trabalho realizado.
Adoção deixaram de acontecer
Mesmo que recebam os cuidados necessários no abrigo, os voluntários relatam que há necessidade de carinho e atenção individual para estes animais. “Por mais que o abrigo seja um local necessário, nunca vai substituir uma família”, afirma Luisa.
Nos primeiros meses após terem sido resgatados, diversos movimentos e ações resultaram na localização de antigos tutores e na adoção de milhares de animais. Vários deles, foram, inclusive, levados para outros estados brasileiros.
Meses depois, a realidade é outra e já não há o mesmo interesse da população em ofertar novos lares para os animais. “As Adoções pararam e não temos como levar nas feiras. Mas mesmo que tivesse, é um estresse (para os cães) ir até lá e voltar, por não serem adotados”, justifica Luisa.
Assim, o Abrigo do Gasômetro, possivelmente, será a moradia definitiva da maioria dos 80 cães que já estão no sítio e dos cerca de 200 que ainda serão transferidos para a Zona Sul da Capital. Assim, a instituição se define como o último abrigo de voluntários dedicado a cuidar dos animais resgatados das enchentes.
Ativista da causa animal há 14 anos, Luisa garante que todo o trabalho é movido, exclusivamente, por amor. “É 100% isso (amor). Moramos aqui também e abandonamos tudo, apenas por amor. Nada além disso”, conclui.
Infraestrutura
Incluindo Luisa, quatro coordenadores voluntários lideram o Abrigo do Gasômetro, cada um com uma diferente função. No sítio, localizado na rua Beco Calábria, 1230, estão sendo construídos “mini sítios”, em que ficarão divididos 40 cães. Os demais devem ser construídos de acordo com a arrecadação de materiais de construção e da disponibilidade de recursos para mão de obra.
No abrigo também há um “cachorródromo” para que os cães se divirtam e fiquem longe das correntes. Para isso, há um rodízio, de forma que todos possam, intercaladamente, aproveitar.
Além dos cerca de 200 cães que devem chegar ao local, há a previsão da transferência de dezenas de gatos que estão provisoriamente abrigados em um lar temporário, até que um espaço específico seja construído para eles. Outros dois cavalos também serão transferidos nos próximos meses para o abrigo.
Como ajudar
Chave Pix/E-mail: [email protected]
Instagram: @abrigodogasometro
Fonte: Correio do Povo