O problema das mudanças climáticas não é apenas a temperatura — é também a velocidade com que o clima está mudando hoje.
Historicamente, as mudanças climáticas na Terra geralmente aconteceram ao longo de milhares a milhões de anos. Hoje, as temperaturas globais estão aumentando cerca de 0,2 graus Celsius (0,36 graus Fahrenheit) por década.
Imagine um carro acelerando. Com o tempo, as atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, aumentaram a quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera. Esses gases prendem o calor do Sol. Isso é como pisar no acelerador. Quanto mais o motorista acelera, mais rápido o carro vai.
O século 21 viu uma aceleração dramática na taxa de mudanças climáticas, com as temperaturas globais subindo mais de três vezes mais rápido do que no século anterior.
O ritmo mais acelerado e as temperaturas mais altas estão mudando os habitats de plantas e animais. Em algumas regiões, essa rapidez também está desregulando o delicado sincronismo da polinização, colocando plantas e polinizadores — como as abelhas — em risco.
Algumas espécies já estão migrando
A maioria das espécies de plantas e animais consegue tolerar ou ao menos se recuperar de mudanças climáticas de curto prazo, como uma onda de calor. No entanto, quando essas mudanças duram mais tempo, os organismos podem precisar migrar para novas áreas para conseguir sobreviver.
Algumas espécies já estão se deslocando para latitudes e altitudes mais elevadas, onde as temperaturas são mais frias, alterando seu território geográfico para permanecerem dentro de seu clima ideal. Populações de peixes, por exemplo, têm se deslocado em direção aos polos com o aumento da temperatura dos oceanos.
Polinizadores, como as abelhas, também podem mudar suas áreas de ocorrência.
Os mamangavas, por exemplo, são adaptados a regiões mais frias devido a seus corpos peludos. Algumas populações desses insetos estão desaparecendo das partes mais ao sul de sua distribuição geográfica e sendo encontradas em regiões mais ao norte e em áreas montanhosas mais frias. Isso pode aumentar a competição com outras populações já existentes nesses locais.
Plantas e polinizadores podem se desincronizar
As plantas e seus polinizadores enfrentam outro problema com o aumento da taxa de mudanças climáticas: muitas plantas dependem de insetos e outros animais para a dispersão de sementes e pólen.
Grande parte dessa dispersão de pólen é realizada por polinizadores nativos. Cerca de 75% das espécies de plantas na América do Norte dependem de um polinizador — como abelhas, borboletas, mariposas, moscas, besouros, vespas, aves e morcegos. Na verdade, 1 em cada 3 mordidas de comida que você consome depende de um polinizador, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA.
Assim, mesmo que uma espécie consiga migrar com sucesso para um novo território, ela pode enfrentar uma descoordenação no tempo da polinização. Isso é conhecido como descompasso fenológico.
Durante o inverno, os insetos entram em um tipo de hibernação conhecido como diapausa, migram ou se abrigam no subsolo, sob pedras ou entre folhas secas. Esses polinizadores usam a temperatura e a duração do dia como sinais para saber quando devem emergir ou migrar para seus habitats de primavera e verão.
À medida que a taxa de mudança climática aumenta, crescem as chances de descompasso entre o momento em que os polinizadores emergem e o momento em que as plantas florescem.
Com o aumento da temperatura, muitas plantas estão florescendo mais cedo na primavera. Se as abelhas ou outros polinizadores emergirem no seu “horário normal”, as flores já podem ter florescido, reduzindo as chances de polinização.
Se os polinizadores emergirem cedo demais, podem ter dificuldade para sobreviver se suas fontes alimentares habituais ainda não estiverem disponíveis. As abelhas nativas, por exemplo, dependem do pólen como principal fonte de proteína para crescer e prosperar.
As abelhas silvestres estão surgindo mais cedo
Esse tipo de mudança no tempo já está ocorrendo com abelhas nos EUA.
Estudos mostram que a data de surgimento das abelhas silvestres nos EUA mudou para 10,4 dias mais cedo ao longo dos últimos 130 anos — e esse ritmo está acelerando.
Um estudo descobriu que as abelhas silvestres, em várias espécies, têm alterado sua fenologia (o momento das atividades sazonais), e que nos últimos 50 anos a data de surgimento avançou quatro vezes mais rápido. Isso significa que, em 2020, essas abelhas estavam emergindo cerca de oito dias antes do que em 1970.
Essa tendência de surgimento antecipado é geralmente consistente entre os organismos com o ritmo acelerado das mudanças climáticas. Se os descompassos no tempo continuarem a piorar, isso pode agravar ainda mais o declínio das populações de polinizadores e resultar em polinização inadequada para as plantas que dependem deles.
O declínio dos polinizadores e a polinização insuficiente já representam uma redução anual de 3% a 5% na produção global de frutas, legumes, especiarias e nozes, segundo um estudo recente.
Sem os polinizadores, os ecossistemas se tornam menos resilientes — ou seja, menos capazes de absorver distúrbios como incêndios florestais, se adaptar a mudanças e se recuperar de estresses ambientais como poluição, seca ou enchentes.
Lidando com as mudanças climáticas
Os polinizadores enfrentam muitos outros riscos causados por atividades humanas, como a perda de habitat devido à expansão urbana e os danos causados pelo uso de pesticidas. As mudanças climáticas se somam a essa lista.
Tomar medidas para reduzir as atividades que causam o aquecimento global pode ajudar a manter essas espécies vivas e atuantes na natureza no futuro.
Traduzido de The Conversation.