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POLINIZAÇÃO

Abelhas: flores por todo o lado pode ser a solução para a ameaça a um dos animais mais importantes do mundo

A crise das abelhas está inspirando soluções criativas. De colmeias reinventadas a pavilhões urbanos que alimentam esses insetos polonizadores, o design agora se junta à luta pela biodiversidade

16 de novembro de 2025
Francesca Perry
7 min. de leitura
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O Pollinator Pathmaker, na Serpentine, em Londres, era uma escultura viva feita de plantas. Foto: Royston Hunt/Cortesia de Alexandra Daisy Ginsberg Ltd

“Se os polinizadores desenhassem jardins, o que veriam os humanos?” Por videochamada, a artista londrina Alexandra Daisy Ginsberg fala sobre o “Pollinator Pathmaker”, uma ferramenta online que desenvolveu e que permite aos utilizadores criar jardins para o benefício dos insetos polinizadores, como as abelhas – muitas das espécies que estão ameaçadas de extinção.

Os projetos de plantação são gerados por um algoritmo que prioriza as flores que os polinizadores mais gostam de visitar. O resultado são jardins repletos de flores em todo o mundo, que Ginsberg descreve como “obras de arte vivas”.

O projeto é uma das muitas propostas em exibição em “More than Human”, mostra patente no Design Museum, em Londres, até 5 de outubro. A exposição explora a relação interligada entre humanos, animais, plantas e outros seres vivos, apresentando ideias sobre como viver em maior harmonia com o mundo natural.

Abelhas e outros polinizadores – como borboletas, vespas e beija-flores – são essenciais para manter a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas terrestres. À medida que se movem entre as flores, coletando néctar para se alimentar, eles carregam pólen involuntariamente, permitindo que as plantas se reproduzam.

Segundo as Nações Unidas, um terço da produção alimentar mundial depende dos polinizadores, incluindo as abelhas.

Mas as populações de abelhas têm diminuído drasticamente. Nos Estados Unidos, o Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas registrou uma redução de 5,9 milhões de colônias produtoras de mel em 1947 para 2,44 milhões em 2008. Entre junho de 2024 e fevereiro de 2025, os apicultores comerciais norte-americanos relataram a perda de 62% de suas colônias de abelhas manejadas.

“Uma das principais causas do declínio dos polinizadores é a alteração das paisagens e a perda de flores nos ambientes humanos”, explica Harland Patch, pesquisador do departamento de entomologia da Universidade Estadual da Pensilvânia e coautor do livro “The Lives of Bees”.

Os cientistas atribuem essa perda de habitat natural e biodiverso às alterações climáticas, à poluição, aos pesticidas e ao desenvolvimento humano.

“Devíamos ficar chocados se um bairro não estiver cheio de flores”

Uma das maneiras mais eficazes de apoiar as abelhas é garantir que elas tenham uma grande variedade de flores para se alimentar. Em resposta, arquitetos e designers começaram a criar jardins “amigos dos polinizadores”.

O pavilhão “Alusta”, criado pelo estúdio finlandês Suomi/Koivisto e também exibido em “More than Human”, é uma estrutura temporária e jardim concebido em Helsínquia, em 2022.

“Entramos em contato com um grupo de pesquisadores em ecologia para perguntar se era possível atrair polinizadores para um estacionamento pavimentado no centro de Helsinque”, diz a cofundadora Maiju Suomi por videochamada. “Disseram-nos que sim, se escolhermos as plantas certas.”

Com a ajuda de ecologistas, a equipe selecionou plantas favoráveis ​​aos polinizadores, como prímulas, tomilho-limão, morango selvagem e hissopo, arrumando-as em torno de um galpão feito de blocos de argila.

“Queríamos criar um espaço que representasse como os nossos destinos estão entrelaçados com os das espécies não humanas”, argumenta Miju Suomi. “Se elas não sobreviverem, nós também não.”

Trabalhar num projeto como este, acrescenta, ajuda os designers a compreender como as suas decisões podem apoiar – e não quebrar – essas relações.

No Arboreto da Universidade Estatal da Pensilvânia, um complexo de parque e jardim botânico, foi criado em 2021 um Jardim de Polinizadores e Aves para atrair insetos e aves locais.

Desenhado pelo Didier Design Studio, Claudia West e Phyto Studio, o jardim inclui plantas floridas como solidágos, hortelã-das-montanhas nativa e funcho. As equipas organizaram as plantações para unirem beleza estética e função científica.

Um dos objetivos do jardim é inspirar os visitantes a criar os seus próprios espaços amigos dos polinizadores, se tiverem recursos.

“A principal regra é plantar o maior número possível de plantas floridas”, diz Harland Patch, investigador e diretor do programa de polinizadores do Arboreto. “Criem clubes de plantação, envolvam os vossos vizinhos e a vossa cidade. No século XXI, devíamos ficar chocados se um bairro não estiver cheio de flores.”

Casas com privacidade

Além das flores para alimentação, designers têm criado abrigos inovadores para que as abelhas possam se refugiar e nidificar, ajudando na sobrevivência delas.

As colmeias, estruturas construídas por humanos para abrigar abelhas produtoras de mel, existem há milênios, mas os designs continuam a evoluir.

Na Semana de Design de Milão deste ano, foi apresentada a colmeia “Host”, criada pelo estúdio londrino Layer em colaboração com o fabricante espanhol Andreu World.

Com design modular, construída em madeira, metal e palha, a “Host” reformula o modelo tradicional de colmeias em caixas empilhadas.

“Analisamos colmeias existentes e vimos oportunidades para melhorá-las”, diz Benjamin Hubert, fundador da Layer.

O novo modelo inclui ventilação eficiente, proteção contra chuva e isolamento em palha em torno da câmara de criação, mantendo as abelhas mais quentes em climas frios – tudo para melhorar a habitabilidade da colmeia, explica Benjamin Hubert.

A artista e designer francesa Marlene Huissoud criou uma colmeia especial no Museu SFER IK, no México, para a abelha Melipona, uma espécie local em declínio.

A colmeia, chamada “Mama”, assemelha-se a um grupo de troncos de árvore interligados.

“É como uma árvore com vários canais, e em cada um vive um enxame diferente”, explica Marlene Huissoud.

Ela trabalhou com um apicultor local para criar uma estrutura confortável para as abelhas, oferecendo-lhes máxima privacidade em relação aos observadores humanos.

Huissoud cresceu entre colmeias – o pai era apicultor – e essa convivência despertou-lhe uma fascínio profundo por estes insetos.

“Viver com abelhas despertou o meu interesse”, afirma.

Muitas das suas peças são habitats para abelhas e outros polinizadores. A cadeira “Please Stand By”, feita em argila e perfurada com buracos para insetos, também está exposta em “More than Human”.

“Todas as nossas decisões de design que não combatem as alterações climáticas tornam piores as condições de vida de todos os seres – humanos e não humanos”, afirma Miju Suomi, da Suomi/Koivisto.

As colmeias destinam-se apenas às abelhas produtoras de mel, que representam uma pequena fração das cerca de 20 mil espécies de abelhas existentes. Muitas são solitárias, preferindo nidificar sozinhas.

Os chamados “hotéis para abelhas” usam feixes de canas ocas ou troncos de madeira perfurados, integrados em pequenas estruturas de madeira semelhantes a casas de pássaros, recriando os habitats naturais dessas abelhas solitárias. Versões desses hotéis podem ser encontradas em jardins e parques ao redor do mundo, incluindo o Arboreto da Penn State.

Em 2020, a designer dinamarquesa Tanita Klein, em parceria com os estúdios Bakken & Bæck e Space10 (antigo laboratório de pesquisa e design da IKEA), criou o “Bee Home”, um hotel modular para abelhas em madeira, com design aberto e paramétrico.

Através de uma ferramenta online, os usuários podiam escolher o tamanho, a altura e o estilo, baixando os arquivos para fabricar suas próprias versões.

Os resultados se assemelhavam a pequenas torres de madeira, com padrões de buracos semelhantes a janelas.

Há também os tijolos arquitetônicos perfurados, conhecidos como “bricks de abelha”, que podem ser integrados em fachadas ou paredes de jardim para criar oportunidades de nidificação. Na cidade inglesa de Brighton, esses tijolos tornaram-se uma exigência obrigatória para a aprovação da maioria dos novos projetos de construção.

Miju Suomi considera essas intervenções diretas de design essenciais, mas lembra que os designers também podem ajudar os polinizadores indiretamente, por meio de escolhas conscientes.

“As mudanças climáticas estão mudando as condições de vida de todos os seres, piorando-as na maioria dos casos e acelerando a perda de biodiversidade”, diz ele.

“Todas as nossas decisões de design que não combatem as alterações climáticas pioram as condições de vida de todos – humanos e não humanos.”

Fonte: CNN Portugal

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