“São animais que não gostam de barulho e as motosserras perturbam a migração”, descreve a técnica do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP) que acompanha as rotas de diversos animais de médio e grande porte no país.
Alguns elefantes, em número indefinido, costumam rumar da Guiné-Conacri para o sul da Guiné-Bissau anualmente, sobretudo entre maio e novembro, para evitar o alagamento das zonas onde habitam.
Ocupam um corredor que entra nos parques naturais de Cantanhez e Cufada, zona ao longo da qual encontram alimento e outras condições ideais para passarem algum tempo.
No entanto, este ano o ambiente está a ser alterado com o abate de madeira intensivo a meio do corredor de migração.
Os elefantes procuram outros caminhos, mas “como podem não encontrar alimentos” e cruzam-se com a população de aldeias “não se sabe que comportamentos vão ter”, referiu.
Para já, está confirmada a presença de dois elefantes na zona de Buba e outros dois, já fotografados, na zona de Cantanhez, mais perto da fronteira.
Uma equipa do IBAP avistou um destes animais em fevereiro, junto a Buba, episódio em que o animal “teve um comportamento agressivo e perseguiu a equipa mato a dentro”, descreveu Aissa Regalla.
O IBAP pediu à Direção-Geral de Florestas que fizesse parar o corte de árvores na zona sul, mas até agora ainda não obteve respostas e as motosserras continuam no terreno.
Geralmente são os caçadores que costumam alertar para a presença de animais menos comuns, porque só se encontram no interior das florestas, mas “este ano já houve elefantes avistados pelas comunidades” de algumas aldeias.
“É um bocadinho perigoso porque entram nas zonas de ?mpampam` (cultivo de arroz) e carvão”, explicou Aissa Regalla.
O elefante africano de floresta (existe também uma variedade de savana) “está na lista vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) como animal vulnerável, sob risco de extinção”, acrescentou.
De acordo com o IBAP, os animais avistados no sul da Guiné-Bissau são provenientes de uma comunidade instalada na Guiné-Conacri, perto da fronteira, junto ao rio Kogum (Bouliagne).
“Anteriormente existia uma boa conectividade ecológica pois o corredor de migração apresentava condições favoráveis: pontos de água (lagoas, bolanhas e rios) e presença de cibe (alimento favorito) e manpataz na mata de Sonco Ali”, detalha um relatório de Aissa Regalla.
“Mas com a desflorestação intensiva, o corredor de migração vem diminuindo drasticamente”, alerta.
Os níveis “sem precedentes” de destruição da floresta e de outros recursos naturais da Guiné-Bissau já foram motivo de alerta por parte das Nações Unidas.
Em causa, estão licenças de exploração emitidas pelo Estado em que “o país não ganha nada” e a população, maioritariamente dependente da agricultura, “fica com os ecossistemas destruídos”, denunciou também à agência Lusa Nelson Dias, representante da UICN em Bissau.
*Esta notícia foi escrita, originalmente, em português europeu e foi mantida em seus padrões linguísticos e ortográficos, em respeito a nossos leitores.
Fonte: RTP Notícias