Pirilo é um bull terrier de aproximadamente cinco anos. Um cachorro de raça, que chega a custar até R$ 7 mil num canil especializado. Só que, em maio do ano passado, ele foi largado na rua com graves problemas de saúde, quase entrando em sepse (por infecção generalizada).
Essa é apenas uma das muitas histórias de abandono de animais na cidade, drama que registrou um aumento de quase 250% no último ano, de acordo com a Comissão de Direitos dos Animais da Câmara dos Vereadores do Rio. Em abril, esse número cresceu ainda mais, chegando a 357% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Resgatado pela ONG Paraíso dos Focinhos, após passar por um tratamento de seis meses que custou cerca de R$ 9 mil, ele é um cão saudável, dócil e à procura de um lar. Cuidando de aproximadamente 500 animais, entre cães, gatos e cavalos, a instituição dispensa identificação nos muros e portas de seus três sítios para evitar que novos animais sejam deixados por lá.
“O Pirilo é um dos muitos casos de cães de raça abandonados depois de ficarem doentes que a ONG recebe diariamente. Gastam na compra do animal e não querem gastar no seu tratamento. Preferem abandonar”, diz Hanri Soares, presidente da Paraíso dos Focinhos, que percebeu um aumento de 40% nos pedidos de resgate de um ano para cá: “Na pandemia, esse número cresceu vertiginosamente. Recebemos, por dia, uma média de 35 pedidos de resgate, mas conseguimos atender no máximo cinco por semana devido aos altos custos. Somente de ração, são R$ 46 mil por mês”.
Com 2.200 animais, a Sociedade União Internacional Protetora dos Animais, a Suipa, é outra entidade que não tem mais condições de receber novos animais. Mesmo assim, é comum as pessoas deixarem animais amarrados em postes próximos da ONG.
Em abril, no dia do jogo entre o Flamengo e o Palmeiras pela Libertadores, foi preciso abrir uma exceção: uma vira-latas foi abandonada na porta da instituição com uma das patas decepada, ainda sangrando. A hemorragia foi estancada em uma cirurgia de emergência. A cadela recebeu todo o tratamento, e está lá até hoje. Como o time de São Paulo venceu a partida, ela recebeu o nome de Palmirinha e também aguarda por um tutor.
“As pessoas abandonam animais por má-fé, falta de condições financeiras para arcar com os custos ou como um pedido de ajuda, como em casos de atropelamento, por exemplo”, acredita Marcelo Marques, presidente da Suipa, que registrou um aumento de 40% nos abandonos desde o início do ano: “As adoções subiram um pouco no início da pandemia mas, com a flexibilização, as pessoas passaram a abandonar os animais como se fossem objetos. Tivemos meses de receber 70 animais, mais que o dobro da média mensal de adoções, de 30”.
Uma outra desculpa para defenestrar um cachorro da vida doméstica é a expectativa em relação ao comportamento do animal, comprado ou adotado. Ainda que algumas raças sejam de charme irresistível ou estejam na crista da onda, nem sempre a vida real é tão tranquila quanto nas redes sociais. O resultado é frustração e abandono.
Abandono é considerado crime de maus-tratos no Brasil, com punição que vai de multa e perda da guarda do animal a prisão. A legislação também prevê pena de detenção de três meses a um ano e multa para quem pratica violência contra animais.
Embora resgate seja uma das opções do 1746, número de apoio da prefeitura, essa escolha não está disponível. Quem tenta é orientado a procurar uma ONG. Denúncias de maus-tratos não podem ser anônimas e levam até sete dias úteis para serem checadas.
Fonte: Extra