Com a ideia do ‘faça você mesmo’ ou ‘seja a mudança que você quer ver no mundo’, a moda está a cada dia com cara mais ecológica e até mesmo vegana. Muitas opções já aboliram a cultura do uso de couro/peles animais e apostam numa proposta mais reciclável e ecológica. A moda está se renovando aos poucos, mas está mostrando a face mais vegana e mais limpa do consumo.
Alguns podem afirmar que a moda é algo fútil, sem sentido, mas não é. A moda está no cerne de nossa capacidade intelectual, imaginativa, representa simbolicamente algumas das características de nossa espécie, a curiosidade, o cuidado e principalmente a escolha. A moda não é só mulheres e homens lindos desfilando em passarelas, ela está baseada na indústria têxtil, nas fábricas, nas relações internacionais de consumo e na arte.
É um modo de expressão e não há nada de errado nisso. O problema da moda é quando se brinca com a ingenuidade feminina/masculina a ponto de ditar regras e burlar a escolha, fazendo com que os consumidores se tornem escravos da própria capacidade de compra.
O uso de peles de animais, o culto ao couro, é uma dessa formas de se brincar com a ingenuidade das pessoas, fazendo-as crer que o objeto em questão é artigo de luxo, é mais durável, etc. Embora há muito já se saiba como funciona um curtume e como são as fazendas de peles, ainda há pessoas ingênuas que acreditam que estão usando algo chique e limpo, embora todos saibamos que couro e pele fedem muito se não houver um cuidado rigoroso. E que o couro do Brasil sequer é aceito em alguns países, por ser considerado tóxico.
As alternativas ao couro animal são muitas e podem ser tão duráveis quanto, desde que se tenha apreço e higiene com as peças. Eu tenho diversos materiais sintéticos (quando digo sintético, estou querendo dizer ‘livre de couro animal’), que podem ser recicláveis, que poluem menos, que são duráveis e bonitos.
Há empresas de calçados brasileiras que já aboliram o couro há muito tempo, e são consideradas as empresas que mais compromissos tem com o ambiente e seus produtos são duráveis e confortáveis. Eles apostam em tecidos, algodão, materiais reciclados e materiais que ‘imitam’ o couro, mas são de origem sintética ou vegetal.
A revista da empresa brasileira Melissa, que começou com uma pequena empresa em Farroupilha, interior do Rio Grande do Sul, mostra diversos temas ligados à moda ecológica, e relatos de modelos que afirmam que se sentem mal ao usar couro, e peles de outros animais. E buscam alternativas no seu dia a dia, na forma de se alimentar e de se vestir.
Essas afirmações, podem não ser ideais, mas já demonstram uma preocupação, um incômodo de se usar roupas vindas do sofrimento animal e do impacto ambiental.
A Melissa, que é uma marca de calçados de plástico, conquistou o mundo inteiro com seus modelos glamourosos, e ao mesmo tempo quase infantis, de sapatilhas, sapatos de salto e outros modelos atraentes, que conquistaram modelos, estilistas, artistas e famosos do mundo inteiro.
A elegante revista Florense, da empresa de móveis de mesmo nome, da Serra Gaúcha, com sede em diversas partes do mundo, está com diversas matérias sobre sustentabilidade. O artigo ‘Moda eticamente correta’ mostra a preocupação em se consumir menos e de que os materiais sejam a cada dia mais duráveis e recicláveis.
Há uma tendência à redução do consumo, e na aposta em artigos mais duráveis, mais ecológicos e com produção ética, que significa mão de obra valorizada, trabalho justo, ambiente respeitado e zero de sofrimento animal.
Acompanhem um trecho: ‘Com confecção na ensolarada Alicante, na Espanha, e vendas e criação na simpática, mas nem tão solar, Brighton, no Reino Unido, a Beyond Skin já calçou os pés de beldades como Natalie Portman e Sienna Muller com sapatos produzidos com a Dinamica, fibra 100% feita de PET oriundos de garrafas. “Tornei-me vegan há 10 anos. E não conseguia achar sequer um sapato de boa qualidade que não fosse feito de couro animal, que depois do tingimento sequer é biodegradável. Esta busca abriu um novo mundo para mim. Resolvi que meus calçados seriam feitos do modo mais ecológico possível, considerando-se o resultado que eu gostaria de obter. E tinha que ser perto da Inglaterra, para que também o transporte não impactasse tanto”, conta a fundadora e desenhista de calçados Natalie Dean. Em 2011 a Beyond Skin produziu 4 mil pares de seus ‘sapatos vegan’ e deve crescer 20% no ano que vem. Nos planos para o futuro próximo está “envolver a empresa ainda mais na produção”, a exemplo do que reza a cartilha do setor. “Queremos beneficiar uma comunidade de trabalhadores no Leste Europeu, em alguma cidade onde antes houvesse este tipode produção e na qual a reativação seja bem sucedida”, planeja.
Quanto ao fato de mesmo a fibra oriunda do PET não ser biodegradável, a fundadora da Beyond Skin reforça: “É totalmente impossível evitar algum impacto. Temos de ser realistas. Mas as escolhas que fazemos, se aumentam o tempo de uso de materiais, são importantes”, diz Natalie, fazendo coro com todos os demais empresários do setor. O ideal, dizem, seria que comprássemos muito menos, pagando mais por produtos de maior durabilidade, com impacto ambiental bastante reduzido e que garantam a sustentabilidade dos envolvidos em toda a cadeia da produção.’
Evitar a exploração dos animais, para que humanos continuem se vestindo, é um desafio que deve ser levado à sério e deve ser incluído na definição de moda eticamente correta.
Não podemos mais aceitar que para vestir uma espécie cheia de vaidade e de ímpetos de consumo, outras milhares de espécies da fauna devam sofrer abusos no seu ambiente e que outros animais ‘criados para o abate’ sigam vivendo vidas miseráveis, explorados e tendo sua liberdade de viver ceifada, para que humanos tenham o calçado da moda, a jaqueta da estação. Sobre o uso de animais na alimentação humana e o impacto ambiental, econômico e ético dessa atividade, não irei me alongar aqui, pois não é o objeto deste artigo.
O grupo Vanguarda Abolicionista fez seu primeiro DIDA (Dia Internacional dos Direitos Animais) dentro de um brechó. O brechó foi organizado pela entidade Bichos e Amigos, e passamos o dia inteiro distribuindo panfletos, explicando o que são os direitos animais e orientando as pessoas.
No mesmo dia fomos visitar o brechó do grupo Duas Mãos Quatro Patas, onde pudemos comprar artigos usados de excelente qualidade.
É importante reutilizar as roupas, usar tudo o que se tem até o fim.
Essa nova onda de se fazer ‘limpezas’ no armário a cada dois meses, doando o que não se usa, na verdade pode ser apenas uma desculpa para seguir enchendo as gavetas dos armários de mais e mais produtos.
Sempre enfatizo que é melhor doar o que não se usa, e, ao fazer a doação, verificar bem o estado das roupas, pois as entidades que fazem brechó não são latas de lixo.
Mas o ideal é seguir consumindo só o necessário, ajudando os grupos com doações e também com trabalho voluntário. Comprando apenas quando achar justo e necessário.
No dia a dia, recebo gratuitamente livros, revistas, materiais novos, por conta da minha profissão, que acabo não usando, e estes já têm destino certo, vão virar doações para brechós, escolas e creches. Portanto, uma maneira sensata de ajudar e ainda assim cuidar da natureza, é usar as suas roupas e coisas até o final, doando somente o excedente, o que ganha e não serve, artigos em bom estado que não tem utilidade para sua vida. Evitar o consumo estravagante e ser coerente em seus atos e palavras.