Por Marc Bekoff
Tradução por Vanessa Perez (da Redação)
Um estudo científico mostra que muitos animais são muito inteligentes e têm habilidades sensoriais e motoras como nós. Os cães são capazes de detectar doenças como o câncer, diabetes e alertar os humanos sobre ataques cardíacos e derrames. Os elefantes, baleias, hipopótamos, girafas e jacarés usam sons de baixa frequência para se comunicarem a longas distâncias, muitas vezes milhas; e morcegos, golfinhos, baleias, sapos e diversos roedores usam sons de alta frequência para encontrar comida, se comunicar com os outros e nadar.
Muitos animais também demonstram amplas emoções incluindo a felicidade, alegria, empatia, compaixão, dor, ressentimento e constrangimento. Não é de se surpreender que os animais, especialmente, mas não só, os mamíferos compartilham muitas emoções com a gente porque nós também compartilhamos estruturas cerebrais, localizadas no sistema límbico, que é a sede das nossas emoções. Em muitos aspectos, as emoções humanas são dons dos nossos antepassados animais.
Luto das raposas vermelhas: Dizendo adeus a um amigo
Muitos animais mostram profundo pesar pela perda ou ausência de um parente ou companheiro. Leões marinhos fêmeas lamentam ao ver seus bebês sendo comidos por baleias. Existem relatos de golfinhos vistos lutando para salvar um filhotinho morto, empurrando seu corpo para a superfície da água. Os chimpanzés e elefantes ficam de luto pela perda de familiares e amigos, e Gorilas tentam acordar os mortos. Donna Fernandes, presidente do Jardim Zoológico de Buffalo, presenciou um fato interessante com uma gorila fêmea, Lilica, que morreu de câncer no Franklin Park Zoo de Boston. Ela diz que o companheiro de longa data da gorila uivava e batia no peito, pegou um pedaço de aipo, alimento favorito de Lilica e colocou em sua mão, depois tentou acordá-la.
Certa vez, aconteceu um fato que parecia ser um serviço funerário. Um pombo havia sido atropelado por um carro. Quatro de seus companheiros de bando estavam ao seu redor, em silêncio e bicavam delicadamente em seu corpo. Uma, depois outra, voaram e trouxeram ramos de pinheiro e colocaram pelo seu corpo. Todos eles ficaram de vigília durante um tempo, balançaram a cabeça e voaram.
Eu também assisti uma raposa vermelha enterrar seu companheiro depois de um puma ter matado ele. Ela gentilmente colocou terra e galhos sobre seu corpo, parou, olhou para se certificar de que ele estava toda coberta, bateu a terra e os ramos com as patas dianteiras, ficou em silêncio por um momento, depois afastou-se, cauda e orelhas para baixo contra a sua cabeça . Após a publicação de minhas histórias eu recebi e-mails de pessoas de todo o mundo, que tinham presenciado um comportamento semelhante em vários pássaros e mamíferos.
A empatia entre os elefantes
Alguns anos atrás, quando eu estava observando elefantes na Reserva Nacional de Samburu, no norte do Quênia, com o pesquisador de elefantes Lain Douglas-Hamilton, notei uma fêmea adolescente, Babyl, que andava muito lentamente e teve dificuldades a cada passo. Eu soube que ela tinha sido paralítica por anos, mas os outros membros de sua manada nunca a deixaram para trás. Eles andavam um pouco, paravam e olhavam ao redor para ver onde ela estava. Se Babyl ficasse para trás, alguns poderiam esperar por ela. Se ela tivesse sido deixada sozinha, ela teria sido atacada por algum leão ou outro predador. Às vezes, a matriarca a alimentava. Os amigos de Babyl não tinham nada a ganhar com esta ajuda bem como ela não podia fazer nada por eles. No entanto, eles ajustaram seu comportamento para permitir que Babyl permanecesse com o grupo.
Os animais têm experiências espirituais?
Os animais se sentem maravilhados com os seus arredores, têm um sentimento de admiração ao ver um arco-íris, ou pensam de onde o relâmpago vem? Às vezes, um chimpanzé, geralmente um macho adulto, vai dançar em uma cachoeira em total desprendimento. Jane Goodall descreveu um chimpanzé se aproximando de uma cachoeira com um pouco do pelo eriçado, um sinal de grande excitação. “À medida que se aproximava, e o barulho da água caindo ficava mais alto, ele acelerava seu ritmo, seu pelo se tornava completamente ereto, e ao atingir a correnteza ele realizou uma magnífica exibição ao pé da cachoeira. De pé, ele oscila ritmicamente de pé para pé, batendo no raso, água correndo, apanhando e arremessaram pedras grandes. Às vezes, ele sobe nas videiras finas que pendem no alto das árvores e balança para fora da garoa da cachoeira. Esta “dança da cachoeira ” pode durar 10 ou 15 minutos. “Depois de uma exibição na cachoeira, o intérprete pôde se sentar em uma pedra com os olhos acompanhando a queda de água. Chimpanzés também dançam no início das fortes chuvas e durante violentas rajadas de vento.
Em junho de 2006, eu e Jane visitamos um santuário de chimpanzés perto de Girona, na Espanha. Nós fomos informados que Marco, um dos chimpanzés resgatados, costuma dançar durante tempestades parecendo estar em transe.
Shirley e Jenny: Lembrando dos amigos
Os elefantes têm sentimentos fortes. Eles também têm grande memória. Eles vivem em sociedades matriarcais que possuem fortes laços sociais entre os indivíduos que pode perdurar por décadas. Shirley e Jenny, dois elefantes fêmeas, foram reunidos depois de viverem separadas por 22 anos. Elas foram levados separadamente para um santuário de elefantes em Hohenwald, Tennessee, para viver suas vidas em paz, na ausência de abuso que sofreram na indústria do entretenimento. Quando Shirley viu novamente Jenny,esta ficou visivelmente ansiosa. Ela queria entrar na mesma barraca em que Shirley estava. Eles gritaram uma para a outra, o tradicional cumprimento entre amigos quando eles se reencontram. Ao invés de serem cautelosas e incertas sobre a outra, elas se tocaram por entre as grades que as separavam e se mantiveram unidas. Seus tratadores ficaram intrigados pela forma como as elefantes e deram tão bem. A busca nos registros, mostraram que Shirley e Jenny tinham vivido juntos em um circo a 22 anos atrás, quando Jenny era um bebê e Shirley tinha seus 20 anos. Elas ainda se lembram uma da outro como quando elas ainda estavam juntas.
A gratidão de uma baleia
Em dezembro de 2005, uma baleia de 50 toneladas, uma fêmea de jubarte se enroscou nas linhas de uma rede e estava quase se afogando. Depois de uma equipe de mergulhadores livrarem ela das redes, ela se aninhou a cada um dos seus salvadores, por sua vez e nadou em torno deles, o que um especialista em baleias disse ser “um encontro raro e extraordinário.” James Moskito, um dos mergulhadores recordou que “Parecia que ela queria nos agradecer, sabendo que estava livre e que tínhamos ajudado ela. A baleia, parada cerca de um metro longe de mim, me intimidou um pouco mas nos divertimos, disse Mike Menigoz. Os outros mergulhadores também foram profundamente tocado pelo encontro: “A baleia estava fazendo pequenos mergulhos e os caras estavam lado a lado com ela…. Eu não sei ao certo o que ela estava pensando, mas é algo de que eu sempre me lembrarei. ”
Abelhas ocupadas como Matemáticos
Nós sabemos que abelhas são capazes de resolverem problemas complexos de matemática com mais rapidez que um computador – especificamente o que chamamos de “o problema do caixeiro viajante” – apesar de terem um cérebro do tamanho de uma semente de capim. Elas economizam tempo e energia encontrando a rota mais eficiente em meio à flores. Elas fazem isso diariamente enquanto um computador poderia levar dias para resolver o mesmo problema.
Cães farejando doenças
Como já sabemos, os cães possuem um olfato muito apurado. Eles cheiram aqui e ali tentando descobrir quem esteve por lá e também são conhecidos por meterem o nariz onde não deveriam. Comparado aos humanos, os cães possuem a área do epitélio nasal (que carrega as células receptoras), 25 vezes maior e mais centenas de células olfativas na região cerebral. Cachorros podem diferenciar qualquer diluição à medida de um para um milhão, seguir trilhas pelo odor, e são dez mil vezes mais sensíveis a alguns odores que os humanos.
Cães aparentam serem capazes de detectarem diferentes tipo de câncer – de ovário, pulmão, bexiga, próstata e mama – e diabetes, talvez pela respiração da pessoa. Considerando uma collie chamada Tinker e seu companheiro humano, Paul Jackson, que possui dois tipos de diabetes. A família de Paul percebeu que sempre que ele estivera prestes a ter um ataque, Tinker ficava agitado. Paul disse: “Ele lambia a minha cara, ou chorava suavemente, ou até mesmolatia. Então percebemos que este comportamento acontecia quando eu estava tendo um ataque de hipoglicemia por isso juntamos as peças. “Pesquisas ainda são necessárias, mas os estudos iniciais da Pine Street Foundation e outros sobre o uso de cães para diagnóstico são promissoras.
Tudo bem ser um cérebro de pássaro
Os corvos, da remota ilha no Pacífico, da Nova Caledônia mostram suas habilidades incrivelmente de alto nível, quando fazem e usam ferramentas. Eles conseguem a maior parte de sua comida usando ferramentas, e eles fazem isso melhor do que os chimpanzés.Sem nenhum treinamento prévio, eles podem fazer anzóis de peças e arame retos para obter alimento que estiver fora de seu alcance. Eles podem adicionar recursos para melhorar uma ferramenta, uma habilidade supostamente exclusiva dos humanos. Por exemplo, eles fazem três tipos diferentes de ferramentas com as folhas, arame farpado e espinho do pinheiro. Eles também modificam a ferramenta dependendo da necessidade, um tipo de invenção não vista em outros animais. Essas aves podem aprender a puxar uma corda para recuperar uma vara curta, usa a vara para pegar uma mais longa, então usa o bastão para pegar um pedaço de carne. Um corvo, chamado Sam, ficou menos de dois minutos inspecionando a tarefa e resolvê-lo sem erros.
Corvos da Caledônia vivem em pequenos grupos familiares e os mais jovens aprendem o uso das ferramentas por observarem os adultos. Pesquisadores da Universidade de Auckland descobriram que os adultos levam os jovens a lugares específicos chamados “escola de ferramentas” onde eles podem praticar o uso delas.
Amor de cachorro
Como nós já sabemos, os cães são os melhores amigos dos homens. Eles também podem ser amigos entre eles. Tika e seu companheiro de longa data, Kobuk, criaram oito filhotes juntos e estavam curtindo sua aposentadoria na casa de minha amiga Anne. Mesmo sendo companheiros de longa data, Kobuk geralmente espantava Tika, pegando sua cama favorita ou seu brinquedo.
Mais tarde, Tika desenvolveu um tumor malign0 e teve que ter sua perna amputada. Ela tinha problemas em se movimentar enquanto estava se recuperando da cirurgia, Kobuk não saia do seu lado. Kobuk parou de empurrar ela ou se importar se ela tinha permissão de usar a cama sem ele. Por volta de duas semanas após a cirurgia de Tika, Kobuk acordou Anne no meio da noite. Ele correu em direção a Tika. Anne pegou Tika e levou os dois cães para fora mas eles só deitaram na grama. Tika estava gemendo baixinho e Anne percebeu que sua barriga estava muito inchada. Anne a levou para a emergência da clínica veterinária em Boulder, onde ela foi submetida à cirurgia que salvaria sua vida.
Se Kobuk não tivesse buscado Anne, Tika certamente teria morrido. Tika estava recuperada, e como sua saúde melhorou após a amputação e operação, Kobuk tornou-se o cão mandão que sempre tinha sido, até mesmo com Tika que andava em três pernas. Mas Anne tinha testemunhado a sua verdadeira relação. Kobuk e Tika, como um casal de velhinhos casados de verdade, estariam sempre lá um para o outro, mesmo que a personalidade nunca mudassem.
Jethro e o coelhinho
Depois que eu peguei Jethro na Humane Society de Boulder e o trouxe para minha casa na montanha, eu soube que ele era um cão muito especial. Ele nunca perseguiu os coelhos, esquilos, veados, ou qualquer um que nos visitasse. Muitas vezes ele tentou abordá-los como se fossem amigos.
Um dia Jethro veio à minha porta, me olhou nos olhos, arrotou, e deixou cair um peludo, pequeno, a bola coberta de saliva de sua boca. Eu me perguntava o que no mundo que ele tinha trazido de volta e descobri que a bola molhada do pelo era um coelho muito jovem.
Jethro continuou a fazer contato visual direto comigo, como se ele estivesse dizendo, “Faça alguma coisa”. Peguei o coelho, coloquei em uma caixa, dei-lhe água e aipo, e percebi que ela não iria sobreviver à noite, apesar dos nossos esforços para mantê-la viva.
Eu estava errado. Jethro permaneceu ao lado dela e se recusou a fazer os passeios ou comer, até que eu o afastei para que pudesse atender ao chamado da natureza. Quando eu finalmente libertei o coelho, Jethro seguiu seu caminho e continuou a fazê-lo durante meses.
Ao longo dos anos, Jethro se aproximou de coelhos, como se fossem seus amigos, mas geralmente eles fugiam. Ele também resgatou os pássaros que voaram em nossas janelas e, em certa ocasião, um pássaro que havia sido capturado por uma raposa vermelha e caiu na frente do meu escritório.
Cão e Peixe: Amigos improváveis
Os peixes são muitas vezes difíceis de se identificar ou sentir algo por eles. Eles não têm rostos expressivos e parecem não nos dizer muito comportamentalmente. No entanto, Chino, um golden retriever que viveu com Maria e Dan Heath, em Medford, Oregon, e Falstaff, um pequeno peixe, tinham reuniões regulares na beira da lagoa onde moravam em Falstaff. Todo dia, quando chegava Chino, Falstaff nadava até a superfície, cumprimentava e mordiscava as patas de Chino. Falstaff fez isso várias vezes e Chino observava com um olhar curioso e perplexo no rosto. Esta amizade foi extraordinária e encantadora. Quando o Heaths mudaram, eles foram tão longe a ponto de construir um novo viveiro, para que Falstaff pudesse se juntar a eles.
Um chimpanzé envergonhado : Eu não fiz isso!
Vergonha é uma coisa difícil de se observar. Por definição é um sentimento que faz alguém tentar se esconder. Mas a mais famosa primatóloga Jane Goodall acredita ter observado algo que possa ser chamado de “embaraço” em um chimpanzé.
Fifi era uma chimpanzé fêmea que Jane conhecia a mais de 40 anos. Quando o filho mais velho de Fifi, Freud, tinha cinco anos, seu tio Figan, irmão de Fifi, era o macho Alfa da comunidade. Freud sempre seguia Figan como se ele idolatrasse o grande macho.
Uma vez, quando Fifi estava limpando Figan, Freud subiu no tronco fino de uma árvore. Quando chegou à copa frondosa, ele começou a balançar violentamente para trás e para frente. Se ele fosse uma criança humana, teríamos dito que ele estava se mostrando. De repente, o galho quebrou e Freud caiu na grama. Ele não ficou ferido. Ele veio perto de Jane, e como se sua cabeça mergulhasse na grama, Jane viu que ele olhava para Figan. Ele percebeu? Se ele percebeu, não prestou atenção nenhuma, mas continuou sendo limpo por Fifi. Freud muito calmamente subiu em outra árvore e começou a se alimentar.
O Psicólogo da Universidade de Harvard, Marc Hauser, observou o que poderia ser chamado de constrangimento em um macaco rhesus macho. Depois de acasalar com uma fêmea, o macho escorregou e caiu em uma vala. Levantou-se rapidamente e olhou em volta. Depois sentindo que os outros macacos não viram ele cair, ele saiu, costas, cabeça e cauda alta para cima, como se nada tivesse acontecido.
Resgate de animais : sentindo compaixão por quem precisa
Histórias sobre animais resgatando membros de sua própria espécie e outras, incluindo seres humanos, não faltam. Eles mostram como os indivíduos de espécies diferentes exibem compaixão e empatia para com os necessitados.
Em Torquay, na Austrália, depois que um canguru foi atropelado por um carro, um cão descobriu um bebê em sua bolsa e levou-o ao seu dono, que cuidou do jovem animal. O cão de 10 anos de idade e o pequeno filhote de 4 meses de idade, se tornaram melhores amigos.
Em uma praia na Nova Zelândia, um golfinho foi resgatar duas baleias-pigmeus encalhadas em um banco de areia. Depois que as pessoas tentaram em vão levar as baleias para águas mais profundas, o golfinho apareceu e as duas baleias o seguiram de volta para o oceano.
Os cães também são conhecidos por ajudar aqueles que estão em necessidades. Um pit bull perdido acabou com uma tentativa de assalto a uma mulher que saáa do playground de um parque com seu filho, em Port Charlotte, Florida. Um oficial de controle animal disse que estava claro que o cão estava tentando defender a mulher, que ele não conhecia. Em Buenos Aires, na Argentina, um cachorro salvou um bebê abandonado colocando ele de forma segura entre os seus próprios filhotes recém-nascidos. Surpreendentemente, o cachorro carregou o bebê por cerca de 150 metros de onde seus filhotes estavam, após encontrar o bebê coberto por um pano em um campo.
Justiça de Raven?
Em seu livro, Mind of the Raven, a bióloga e especialista Bernd Heinrich, observara que os corvos se lembravam de um indivíduo que de forma consistente. Às vezes, um corvo ataca um intruso mesmo que ele não veja que seu local esteja sendo invadido.
Isso é moral? Heinrich parece pensar que é. Ele diz que esse comportamento, “Era um corvo buscando o equivalente humano de justiça, porque ele defendia o interesse do grupo a um custo potencial para si mesmo.”
Em experiências posteriores, Heinrich confirmou que os interesses do grupo que poderia conduzir o que um corvo decide fazer.
Marc Bekoff escreveu este artigo em Can animals save us? na primavera de 2011 para a YES! Magazine. Marc tem escrito vários livros e ensaios sobre a vida emocional e moral dos animais, incluindo The Smile of a Dolphin, The Emocional Lives of Animals, Wild Justice: The Moral Lives of Animals (com Jessica Pierce), e Animal Manifesto: Six Reasons for Expanding Our Compassion Footprint. A página da web de Marc é: marcbekoff.com e, de Jane Goodall : ethologicalethics.org.