Os peixes formam um grupo de animais bastante diverso, ocupando diferentes ambientes aquáticos, como rios, estuários, recifes rochosos e de coral e o mar profundo. Sardinha, atum, mero, garoupa, linguado, corvina, pescada, baiacu… são todos peixes bastante conhecidos, consumidos como alimento ou apreciados pelos mergulhadores em seu hábitat.
O que a pessoas normalmente desconhecem é que os peixes nascem com poucos milímetros de comprimento e pesam alguns poucos miligramas, sejam eles pequenos como a sardinha ou gigantes como o majestoso mero – que pode atingir mais de dois metros de comprimento e pesar mais de 400 quilos.
A história da maioria dos peixes começa quando fêmeas e machos liberam seus gametas na água, onde o encontro do espermatozoide com o óvulo gera um embrião que se desenvolve dentro do ovo. Quando o embrião está completamente formado, ele rompe a membrana que envolve o ovo e eclode. Daí em diante, o novo indivíduo é chamado de larva.
A fragilidade no início da vida
Todos os animais nascem relativamente mais frágeis em relação aos adultos. São menores e sem experiência, tornando-se presas fáceis para predadores astutos ou podem morrer de fome, se não forem alimentados pelos adultos. Por isso, em muitos casos, principalmente em aves e mamíferos, observa-se o cuidado parental. Ou seja, a mãe, o pai, os dois juntos ou até mesmo outros membros da população, cuidam da prole até que estejam aptos a sobreviverem sozinhos.
Mas no caso da maioria dos peixes ósseos marinhos, não há cuidado parental. Isso significa que os ovos e as larvas ficam à deriva na coluna d’água, lançados à própria sorte. Imagine-se um ser de 2 milímetros de comprimento nadando em milhares de quilômetros cúbicos de água, cercado por predadores dos mais variados tipos. Como sobreviver a todos os perigos que se apresentam?
Quanto aos ovos, não há o que fazer. O embrião dos peixes não pode se defender dos predadores e nem fugir para uma condição ambiental melhor. Ele conta apenas com os nutrientes estocados no vitelo (equivalente a gema do ovo da galinha) que foram cedidos pela mãe e, com a sorte de estar na corrente certa, será levado para um lugar adequado a seu desenvolvimento.
Já as larvas dos peixes, embora minúsculas, podem nadar verticalmente pela coluna d’água e, assim, pegar carona na corrente mais adequada. Olhando bem de perto, mas bem de perto mesmo, através de um estereomicroscópio, percebemos que as larvas já são peixes em miniaturas, com olhos bem desenvolvidos desde muito cedo, nadadeiras que se tornam mais robustas com o crescimento e as bandas musculares bem características. Elas melhoram sua capacidade natatória, sua visão, seu olfato e sua percepção do ambiente conforme crescem e se desenvolvem. Dessa forma, as larvas podem perceber a presença de predadores e fugir ou encontrar uma presa e abocanhá-la. Mesmo assim, sobreviver é uma tarefa difícil: para muitas espécies, apenas algo em torno de 1% a 2% dos indivíduos chegam até a fase adulta.
Isso parece pouco, mas, considerando que a população de sardinha-brasileira produz bilhões de ovos ao longo de uma temporada de desova, essa mortalidade alta é tida como natural – ou então não haveria mar para tanto peixe! Esse foi o caminho da seleção natural para a maioria dos peixes ósseos marinhos: produzir muitos indivíduos para que alguns garantam a sobrevivência da espécie.
Podemos notar também que a variedade de formas das larvas de peixes é incrível! E na maioria das vezes, elas em nada se parecem com os adultos. As larvas de peixes podem ter espinhos e raios alongados que aparentemente servem para auxiliar na flutuação ou para torná-las menos apetitosas aos olhos dos predadores. Estudos recentes têm mostrado ainda que apêndices e nadadeiras alongadas podem ter outras funções, como para associar-se a outros organismos ou para camuflagem.
Alterações no hábitat
No entanto, todas as adaptações das larvas de peixes para garantir sua sobrevivência podem não ser suficientes às novas condições impostas pela humanidade no nosso planeta. O excesso de CO2 (gás carbônico) na atmosfera pode elevar o pH do oceano, causando o que chamamos de acidificação, prejudicando diretamente o desenvolvimento dos esqueletos das larvas ou a sobrevivência de suas presas. Além disso, a elevação da temperatura dos oceanos pode acelerar o metabolismo das larvas, que precisarão de mais alimento para suprir sua demanda energética.
A perda de hábitat também é considerada um grave problema, principalmente em áreas costeiras, estuários e manguezais, que funcionam como berçário para larvas e juvenis de peixes, proporcionando alimento em abundância e abrigo. A maioria desses ambientes sofre em algum nível com a presença de esgoto sem tratamento, poluentes químicos, assoreamento, mudança no fluxo de água doce e perda de vegetação.
Já deu para notar que a vida das larvas de peixes, que já não é nada fácil, torna-se ainda mais difícil. E se um número de indivíduos menor do que o esperado chega à fase adulta, significa que haverá menos peixes se reproduzindo, levando ao risco de colapsar os estoques pesqueiros e de levar muitas espécies ao risco de extinção.
Assim, se queremos peixes no mar, devemos ir além do que é visível aos nossos olhos e entender como é a vida de pequenos seres em um oceano com grandes mudanças.
Fonte: Fauna News