Por Roscoe G. Bartlett
Tradução de Natalia Cesana (da Redação)
Antes de ser eleito para o Congresso, eu trabalhava como fisiologista na Escola da Marinha de Medicina da Aviação. Para o sucesso de nossas missões em transportar os homens à Lua e trazê-los de volta à Terra em segurança, inventei uma série de dispositivos de suporte respiratório, os quais eram testados em primatas, incluindo Baker, um macaco esquilo.
Antes que humanos fossem lançados ao espaço, Baker foi o primeiro macaco a sobreviver a uma viagem espacial. Able, sua parceira no voo, morreu devido a uma reação alérgica a um anestésico administrado durante um procedimento feito após a aterrissagem.
Na época eu acreditei que, em nome de tal pesquisa, valia à pena infligir um animal à dor. Mas com os anos, nossa compreensão sobre os efeitos causados em primatas progrediu, ao ponto de eu não mais acreditar que experimentos como esse façam sentido – científica, financeira e eticamente. Este é o motivo pelo qual eu introduzi uma legislação bipartidária para a fase de pesquisas invasivas feitas com grandes primatas nos Estados Unidos.
Começa hoje audiência pública de dois dias convocada pelo Instituto de Medicina, cujo objetivo é analisar se ainda se faz necessário este tipo de pesquisa. Enquanto isso, nove países e a União Europeia já proíbem ou restringem pesquisas invasivas feitas em grandes primatas. Os americanos têm que decidir se os benefícios aos humanos superam a ética e os custos financeiros e científicos.
Crescem as evidências de que não. Por um lado, muitas novas técnicas baratas, rápidas e mais efetivas, incluindo modelos computadorizados e o teste de pequenas doses em voluntários humanos. Métodos in vitro agora fazem com que células e tecidos humanos cresçam para estudos biomédicos, deixando de lado então a necessidade de usar animais.
Tais avanços levaram a uma queda na pesquisa feita com primatas. Muitos chimpanzés, cujo tutor era o governo federal, foram criados para dar suporte a pesquisas sobre o vírus HIV, mas depois ficou provado que este método era inferior que tecnologias mais modernas. Como resultado, mais de 500 chimpanzés estão abandonados. Acabar com a pesquisa feita em chimpanzés e enviá-los para santuários poupará cerca de US$ 30 milhões ao ano dos contribuintes.
Nós também conhecemos mais sobre as consequências de pesquisas invasivas em animais. Procedimentos biomédicos que são simples quando realizados em humanos geralmente exigem limitações traumatizantes dos chimpanzés para proteger os pesquisadores de danos, pois os macacos são cinco vezes mais fortes que os humanos. Por exemplo, coletar uma amostra de sangue de um macaco exige que o animal seja dominado com tranquilizantes. Filmagens claramente mostram como o procedimento é estressante e terrificante.
Além disso, até o mais simples confinamento em jaulas de laboratório priva os chimpanzés de sustentos básicos, físico, social e emocional. Vários estudos feitos em santuários de primatas que foram anteriormente confinados em laboratórios atestam desordens comportamentais associadas a estresse pós-traumático. Estresse crônico e traumático prejudica a saúde dos macacos e compromete os resultados das experiências feitas com eles.
Não há dúvidas de que as experiências dolorosas pelas quais passam os chimpanzés, o estresse e o isolamento social são notavelmente parecidos com o que sentem os humanos. O documentário “Projeto Nim”, de James Marsh, narra a vida de 27 anos de Nim Chimpsky, o chimpanzé que foi objeto de um controverso projeto de pesquisa que o criava como se fosse um humano. A Nim foi ensinado a linguagem de sinais, que ele usava para dizer a seus interlocutores que ele estava traumatizado por viver naquelas condições.
Nim não é o único. No livro “Próximo à consanguinidade”, Roger Fouts conta como foi seu reencontro com o chimpanzé Booee. Depois de 13 anos de isolamento e depois de ser deliberadamente infectado pelo vírus da hepatite C, Booee reconheceu Fouts, acenou e brincou com ele usando sinais. Outros visitantes relatam que Booee usou o gesto de “chaves”, indicando que queria sair da gaiola.
Histórias como essas, assim como a minha compreensão da situação atual da pesquisa biomédica, me convenceu a apoiar a lei de proteção a primatas da senadora Maria Cantwell, do Partido Democrata de Washington. O projeto acabará com as pesquisas invasivas e libertará 500 chimpanzés de laboratórios.
Inovar encontrando alternativas à pesquisa invasiva feita em grandes primatas é uma forma civilizada de ir adiante no século 21. Civilizações passadas foram medidas pelo modo como tratavam de seus idosos e deficientes. Acredito que nós seremos medidos, em grande parte, pela forma como tratamos nossos animais, particularmente os grandes macacos.
Os americanos não podem mais justificar o confinamento e a traumática prisão perpétua destes animais magníficos e inocentes em favor da investigação invasiva.
As informações são do Global Animal