A seca severa que atinge o Pantanal, resultado das mudanças climáticas provocadas pela ação humana, condenaram o cavalo Branquinho ao sofrimento. A morte, para ele, veio como a única chance de por fim à debilidade que tomava conta de seu corpo frágil. Encontrado pela equipe do Grupo de Resgates de Animais em Desastres (GRAD), ele ganhou uma banana para se deliciar com o sabor da fruta antes de ser sacrificado.
O procedimento de morte induzida ao qual Branquinho foi submetido é, para a médica veterinária Carla Sássi, um sacrifício necessário, já que o estado de saúde do animal era grave. Diante da dor de ter que se deparar com as devastadoras consequências da seca, a profissional fez um desabafo.
“A seca mata tudo… mata planta, mata bicho, mata esperança. Quando o fogo severo agrava a seca, a vitória fica cada vez mais distante. Branquinho, um cavalo idoso, morador do Pantanal. A seca o deixou fraco, faminto, esquelético. Não teve forças para receber nossa ajuda. Nos restou a chance de deixá-lo descansar”, lamentou.
“Quem me conhece, sabe da luta pelos cavalos vítimas de maus-tratos, e como isso faz parte da minha vida. Branquinho não foi maltratado diretamente pelo bicho homem, mas indiretamente sim, por tudo que não estamos fazendo pela sua casa, nosso planeta”, completou.
Diante de tamanho sofrimento, Carla, que é coordenadora do GRAD, fez o que estava ao seu alcance para trazer um pouco de conforto ao cavalo em meio a um momento tão difícil: o tratou com carinho e respeito, além de ter dado uma banana para ele se deliciar.
“Me restou adoçar sua boca, dei banana, para que partisse pelo menos com uma lembrança saborosa da nossa equipe. Descansa Branquinho”, escreveu a coordenadora, que agradeceu aos funcionários do Ibama, que participaram da ação, e aos membros do GRAD “por toda a luta”.
Ariranhas resistem em meio à seca
A seca do Pantanal tem ameaçado a sobrevivência de inúmeros animais. Além do cavalo sacrificado e de centenas de jacarés realocados dentro do próprio bioma por uma força-tarefa que os levou para locais onde há água e alimento, as ariranhas também lutam pela sobrevivência no bioma degradado pelo fogo e pela estiagem.
Biólogo e fotógrafo, Fernando Faciole acompanhou de perto o sofrimento desses animais e documentou o que tem sido vivido pela fauna pantaneira através de fotografias. Uma delas (confira abaixo) mostra Juma, que, conforme relatado por Faciole, “é uma das pouquíssimas ariranhas que vivem na Transpantaneira”, como é conhecida a rodovia MT-060, situada no Pantanal de Mato Grosso.
“Até o momento foram identificados 5 indivíduos, incluindo o parceiro de Juma, o Pacato. Esses animais estão isolados em um corixo com pouca água, tendo que andar mais de 2km diariamente entre sua toca e corixo, comportamento incomum para a espécie”, relatou.
“Conseguimos encontrar a toca delas com o auxílio de cameras trap e agora estamos monitorando para averiguar a situação. Durante os últimos dias, caminhões pipas estão despejando milhares de litros de água no corixo para tentar combater a seca”, completou o biólogo, que reforçou que a condição em que vivem as ariranhas tem sido acompanhada pelas equipes do GRAD e do Projeto Ariranhas.
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