EnglishEspañolPortuguês

SEJAMOS HUMILDES

A sabedoria da natureza: podemos aprender segredos médicos com macacos, pássaros e até borboletas

26 de março de 2025
2 min. de leitura
A-
A+
Foto: Ilustração | Freepik

Na Cidade do México, pardais e tentilhões domésticos estão usando um recurso inusitado para proteger seus ninhos: pontas de cigarro. Pesquisadores descobriram que as aves não apenas incorporam as fibras do tabaco em seus ninhos como isolamento, mas também como medicamento — a nicotina age como um pesticida natural, repelindo ácaros e outros parasitas.

Esse comportamento surpreendente é um dos muitos exemplos de automediação animal explorados no livro Doctors By Nature, do biólogo holandês Jaap de Roode, professor da Emory University, nos EUA. A obra revela como diversas espécies — de macacos a abelhas — usam plantas e substâncias naturais para tratar doenças e proteger suas crias.

Por muito tempo, acreditou-se que a capacidade de usar medicamentos era uma característica exclusivamente humana. No entanto, observações científicas mostram que animais também recorrem a tratamentos naturais:

Macacos engolem folhas ásperas para eliminar vermes intestinais.

Lagartas da borboleta-monarca consomem plantas tóxicas para combater parasitas.

Abelhas usam própolis, uma resina vegetal, como antibiótico em suas colmeias.

“Na sociedade ocidental, amamos nos sentir únicos”, diz De Roode. “Mas muitas características que consideramos exclusivas — como o uso de ferramentas, cultura e medicina — também são encontradas em outros animais.”

A relação entre humanos e medicina pode ter começado com a observação de animais. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu na Tanzânia, nos anos 1980, quando primatologistas registraram chimpanzés mastigando folhas amargas para tratar infecções intestinais — as mesmas folhas usadas pela medicina tradicional local.

Até mesmo nossos ancestrais pré-históricos já faziam uso de plantas medicinais. Ötzi, o Homem do Gelo, mumificado há 5.300 anos, carregava fungos com propriedades antibióticas, possivelmente usados para tratar uma infecção parasitária.

Lições para a medicina moderna

O estudo da automedicação animal não é apenas uma curiosidade científica — ele pode inspirar novos tratamentos para humanos e animais domésticos. Algumas descobertas recentes incluem:

Bois selecionam plantas ricas em tanino para combater vermes.

Abelhas produzem mais própolis (uma substância antiviral) quando expostas a patógenos.

Borboletas-monarca escolhem plantas medicinais para proteger suas larvas de parasitas.

“Para cada espécie que perdemos, perdemos um potencial remédio”, alerta De Roode. “A biodiversidade não é apenas sobre salvar animais e plantas — é também sobre preservar conhecimentos que podem beneficiar a humanidade.”

Um futuro em harmonia com a natureza

À medida que a ciência avança, fica claro que a medicina não é uma invenção humana, mas uma herança do mundo natural. Compreender como os animais se automedicam pode ajudar no desenvolvimento de tratamentos mais sustentáveis e no combate à resistência a antibióticos.

“Proteger a natureza não é apenas uma questão ética — é também uma questão de sobrevivência”, conclui De Roode. “Quando preservamos a biodiversidade, estamos também protegendo nossos próprios futuros recursos medicinais.”

    Você viu?

    Ir para o topo