Há um ano, a bacia Potiguar — bacia sedimentar brasileira localizada ao longo da costa do Rio Grande do Norte e extremo leste do Ceará — entrou para a Rede Hemisférica de Reservas para Aves Limícolas (WHSRN) como Sítio de Importância Regional. Um marco que merece ser comemorado, ao mesmo tempo em que nos impõe um dever: garantir que essa conquista não seja apenas simbólica.
As aves limícolas são grupo de espécies aquáticas que utilizam zonas entremarés e ambientes próximos a corpos d’água e alagados de pouca profundidade.
A WHSRN é uma rede que se dedica a conectar e engajar atores públicos, privados e comunidades locais para a proteção dos hábitats essenciais às aves limícolas em todo hemisfério, buscando garantir condições adequadas para alimentação, descanso e reprodução nas áreas importantes ao longo das rotas migratórias.
A designação da bacia Potiguar como Sítio WHSRN é um reconhecimento ao seu valor ecológico e, também, um alerta sobre o que está em risco. As aves limícolas, que dependem desses hábitats para completar seus ciclos de vida, estão entre os grupos de aves mais ameaçados do planeta. A proteção de seus espaços é urgente — e a bacia Potiguar é uma área-chave nessa missão.
O trabalho de mobilização e engajamento na região, feito através do Projeto Flyways Brasil — liderado pela SAVE Brasil em parceria com o Instituto Neoenergia e com apoio do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) e das prefeituras de Galinhos, Guamaré e Macau — mostra o que a conservação pode ser na prática: Ciência, monitoramento e, sobretudo, engajamento de quem, todos os dias, compartilha os mesmos ambientes com as aves.
Resultados do trabalho
No primeiro ano da bacia Potiguar como Sítio WHSRN, mais de 3.470 pessoas foram alcançadas por ações educativas, consolidando a educação ambiental como um dos pilares fundamentais para a construção de políticas de conservação duradouras.
Outra inovação importante foi a inclusão de alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Norte (IFRN) na nova fase do projeto, proporcionando capacitação nas áreas de educação ambiental e monitoramento. Esses jovens terão a oportunidade de aplicar esse conhecimento em suas carreiras acadêmicas e profissionais, ampliando a formação de novos especialistas comprometidos com a conservação das aves limícolas e seus hábitats.
Além do impacto social do projeto, os esforços em campo trouxeram dados fundamentais: mais de 19 mil aves foram registradas na área ao longo do último ano. Esse número é um indicativo da importância da região, sinalizando o quanto ela vem cumprindo seu papel na manutenção das populações das aves limícolas migratórias.
Apesar dos avanços e resultados, as ameaças são reais: perda de hábitat, perturbações humanas, mudanças climáticas. Não faltam pressões ao longo das rotas migratórias, ameaçando o que vem sendo conquistado. Cinco espécies de limícolas figuram entre as globalmente ameaçadas que ocorrem na região da bacia Potiguar. Esse é um dado que precisa continuar mobilizando esforços.
Felizmente, o trabalho do Flyways Brasil mostra que é possível agir pela proteção das aves limícolas. A construção de parcerias sólidas — com prefeituras, órgãos estaduais, empresas e instituições de ensino — tem gerado resultados.
A influência e o apoio à criação de políticas públicas, como os planos diretores e o plano de manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual (RDSE) Ponta do Tubarão ou a lei que instituiu o Dia Municipal das Aves Migratórias, mostram que os efeitos positivos já ultrapassam os limites do sítio, ajudando a moldar decisões que impactam toda a região.
Preservar a bacia Potiguar é mais do que proteger aves. É proteger ecossistemas que sustentam comunidades; é defender qualidade de vida; é apostar em um futuro em que o desenvolvimento e a natureza coexistam.
Proteger é uma escolha consciente. E é essa escolha que vai definir se, no futuro, continuaremos tendo motivos para celebrar outros marcos e conquistas como a do sítio da bacia Potiguar.
Fonte: Fauna News