Talvez isto não seja novidade para as pessoas que acompanham a ultrapassagem da capacidade de resiliência do Planeta. Mas não existia um estudo aprofundado avaliando o real tamanho do coquetel químico que está destruindo os ecossistemas terrestres.
Essa lacuna, em grande medida, foi preenchida com a divulgação do artigo “Outside the Safe Operating Space of the Planetary Boundary for Novel Entities”, liderado pela pesquisadora Linn Persson, publicado no prestigioso periódico acadêmico Environmental Science and Technology, no dia 18/01/2022.
O artigo conclui que a poluição química cruzou mais uma “fronteira planetária”, aquele ponto em que as mudanças feitas pelo ser humano empurram na Terra para fora do ambiente estável dos últimos 10.000 anos. Não só os plásticos são uma preocupação particularmente alta, mas há algo como 350.000 produtos químicos sintéticos, incluindo pesticidas, compostos industriais e antibióticos degradando as condições da vida natural. A poluição plástica já é encontrada desde o cume do Monte Everest até os oceanos mais profundos, e alguns produtos químicos tóxicos possuem efeitos duradouros e generalizados.
Os autores dizem que, há muito tempo, as pessoas sabem que a poluição química é uma coisa ruim. Mas poucos pensam nível global e o presente trabalho traz a poluição química, especialmente os plásticos, para o centro da história de como a humanidade está mudando o planeta. Houve um aumento de cinquenta vezes na produção de produtos químicos desde 1950 e isso deve triplicar novamente até 2050.
A produção de plásticos e produtos químicos continua aumentando nos anos 2000, conforme mostra o gráfico abaixo. O artigo destaca a necessidade de uma regulamentação tão eficaz quanto as metas de redução de carbono para limitar o aquecimento global. A quantidade de plásticos no planeta, já supera a massa total de mamíferos.
Isto quer dizer que o aumento das atividades antrópicas, provocadas pelo grande crescimento demoeconômico dos últimos 250 anos, mas especialmente após o fim da Segunda Guerra, fez a civilização global ultrapassar a capacidade de carga da Terra. Assim, o ritmo que as sociedades estão produzindo e liberando novos produtos químicos no meio ambiente não é consistente com a permanência em um espaço operacional seguro para a humanidade.
Em 2009, uma equipe internacional de pesquisadores identificou nove limites planetários que demarcam o estado notavelmente estável em que a Terra permaneceu por 10.000 anos – desde o início da civilização. Esses limites incluem as emissões de gases de efeito estufa, a camada de ozônio, florestas, água doce e biodiversidade. Os pesquisadores, ligados ao Stockholm Resilience Centre, quantificaram os limites que influenciam a estabilidade da Terra e, atualizando o estudo, concluíram em 2015 que quatro limites foram violados. Mas o limite para novas entidades era um dos dois limites que permaneciam não quantificados. Contudo, a figura abaixo mostra que o mundo já ultrapassou 5 das 9 Fronteiras Planetárias.
Segundo o Stockholm Resilience Centre, a metodologia das Fronteiras planetárias não visa ditar a forma como as sociedades humanas deva se desenvolver, mas pode ajudar a sociedade civil e os tomadores de decisão na definição de um espaço operacional seguro para a humanidade e a vida na Terra. O que fica claro é que existem “pontos de inflexão” que não devem ser ultrapassados.
O mundo já ultrapassou cinco das nove fronteiras planetárias
Em 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – conhecida como Conferência de Estocolmo – e foi publicado o livro “Os limites do crescimento” (Meadows et. al.) Há 50 anos, a população mundial era de 3,85 bilhões de habitantes, a economia global era 5 vezes menor que a atual e a concentração de CO2 na atmosfera estava em 330 partes por milhão (ppm). Agora em 2022, a população mundial se aproxima de 8 bilhões de habitantes, a concentração de CO2 deve atingir, em maio, 422 ppm e a temperatura da Terra já está 1,3º C acima do período 1850-1900, segundo o Global Temperature Report for 2021, do centro de pesquisa Berkeley Earth.
Fica claro que o vício do crescimento desregrado e o atual padrão global de produção e consumo já provocam grandes danos à natureza e estão nos levando a um futuro insustentável. As novas gerações terão muita dificuldade para manter a qualidade de vida atual e para sobreviver numa Terra com amplas áreas inabitáveis. A história tem mostrado que as civilizações seguem um ciclo de ascensão e queda. Quando ficam presas aos valores tradicionais e sem capacidade de alterar o rumo da insustentabilidade, em geral, entram em colapso.
Fonte: EcoDebate