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MEDIDAS DE PROTEÇÃO

A nossa sobrevivência depende da amazônia

É preciso entender que sem a amazônia a temperatura média do mundo subiria e a sobrevivência humana em partes do planeta seria inviável

26 de agosto de 2024
Marcia Castro
3 min. de leitura
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Região de garimpo ilegal em afluente do rio Tapajós, em operação Caribe Amazônico – Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

No mês passado, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) lançou um relatório ressaltando a necessidade de enfrentar a tripla crise planetária: mudança climática, perda da biodiversidade e poluição/resíduos. Esta tripla crise interage com crises humanitárias, tais como conflitos, migração involuntária e deterioração da saúde, resultando em um estado de policrise.

Passar de policrise para um estado de equilíbrio múltiplo exigirá que governos entendam as interações entre as diferentes crises e promovam ações que as minimizem. Ações que sejam intersetoriais, cooperativas e que integrem as vozes dos tradicionalmente marginalizados incluindo mulheres, jovens, comunidades locais e povos indígenas. O relatório do PNUMA propõe que essas ações são a base para um desenvolvimento sustentável.

Focando na amazônia, o que é desenvolvimento sustentável? Os modelos historicamente empreendidos na região são baseados unicamente na exploração de recursos, ignorando o bem-estar e as necessidades locais. A história mostra as distorções e injustiças ocorridas desde os diversos ciclos da borracha, até os planos de “desenvolvimento” promovidos durante a ditadura e entre 2019-22. Dados da coleção nove do Mapbiomas, lançados semana passada, mostram que 33% das áreas antropizadas (agropecuária, áreas urbanizadas, mineração e aquicultura), desde a chegada da colonização europeia, surgiram nos últimos 39 anos (1985-2023).

Importante ressaltar que o crescimento populacional não pode ser usado como argumento único para as mudanças antrópicas. O crescimento médio anual da população entre 1872 e 1980 foi de 2,3%, enquanto entre 1980 e 2022 foi de 1,2%. Isto porque a transição demográfica precede os anos 80 e o Brasil vem observando envelhecimento populacional, ressaltado pelas estimativas divulgadas pelo IBGE na semana passada.

A velocidade das mudanças antrópicas afeta o clima, e o sul da Amazônia já observa uma estação seca mais longa do que a média histórica. No ano passado a seca na Amazônia isolou comunidades e causou a morte de peixes e botos. Segundo o Mapbiomas, a retração da superfície de água na Amazônia em 2023 foi de 22%.

De 7 a 17 de agosto visitei várias áreas ao longo dos rios Negro, Solimões e Amazonas, e vi longas marcas de umidade nos troncos das arvores da floresta alagada que mostram a queda acelerada do nível da água.

O último Boletim Hidrológico da Bacia do Amazonas mostra que essa queda é mais acelerada do que o observado no ano passado. No dia 23 de agosto, o rio Negro em Manaus apresentou uma redução de 21 cm em 24 horas. Para entender o que essa redução significa, o Rio Negro é o maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas e é o sétimo maior rio do mundo em volume de água (o primeiro é o Amazonas).

Depois da seca em 2023, e com uma seca talvez mais severa se anunciando para este ano, que medidas foram planejadas para mitigar os efeitos de eventuais secas na Amazônia? Por exemplo, por que não se pensar em adaptar o Projeto Cisternas para o contexto da Amazônia ribeirinha?

É preciso entender que sem a amazônia a temperatura média do mundo subiria, o volume de chuvas se reduziria (cerca de 25% no Brasil), haveria uma perda irreparável de biodiversidade, e a sobrevivência humana em partes do planeta seria inviável.

O Pacto pela Transformação Ecológica assinado semana passada tem objetivos louváveis que, se executados como sugerido no relatório do PNUMA, seriam um passo concreto na mitigação da policrise na amazônia. Entretanto, não está claro como isso ocorrerá considerando que o Congresso defende medidas que vão na direção oposta, e que ainda se discute o marco temporal.

Fonte: Folha de S. Paulo

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