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ENTREVISTA

'A morte é um processo, não um momento', diz veterinária que ajuda a dizer adeus aos animais

Paliativista fala sobre como crianças e adultos podem lidar com essa hora difícil

5 de novembro de 2022
4 min. de leitura
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Lápide de um animal no cemitério e crematório de animais Reino Animal, em Itaquera – Ezyê Moleda/Folhapress

Quando a gente é criança, muitas vezes a primeira experiência que tem com a morte de alguém querido é vendo partir o animal. É que, pela ordem natural das coisas, eles vão viver menos que os humanos da família —e, puxa, como parece que eles vivem pouquinho.

O mais comum é que os animais morram já velhinhos, talvez por alguma doença. E a parte boa nisso tudo é que existem médicos especializados em acompanhar as famílias e os animais nesse processo da morte.

A Deborah Calgaro é uma dessas médicas: uma veterinária paliativista. Na Clínica For de Lótus, em São Paulo, ela atende animais com doenças sem cura, e contou à Folhinha como crianças e adultos podem lidar com essa hora tão difícil.

Por que você acha que é tão triste quando um animal doméstico morre?

A vida é cheia de despedidas, e algumas delas, como a morte, são para sempre. Então, toda vez que sabemos que não vamos mais encontrar alguém que amamos muito, seja uma pessoa ou um animal, nós ficamos tristes e passamos por um período de sofrimento, o qual chamamos de luto. É triste quando eles morrem porque sabemos que vamos sentir muita saudade de todas as brincadeiras e companheirismo que eles nos dão.

Muitos animais morrem quando ficam velhinhos. Eles morrem “de velhice”?

O ciclo de vida esperado para todos os seres vivos é o de nascer, crescer, envelhecer e morrer. Quando nascemos e começamos a crescer, vemos nosso corpo ficando mais forte e resistente, mas, quando começamos a envelhecer, o corpo passa a ficar mais fraco e frágil. Na velhice é mais comum termos doenças e esse acúmulo de fatores (o corpo ficando fraquinho e precisando batalhar contra as doenças que surgem) que traz a morte. Podemos dizer que os animais domésticos morrem de velhice, sim.

De que forma quem tem um animalzinho que está com uma doença grave e incurável pode ajudá-lo?

É essencial termos um médico veterinário que seja responsável pelo cuidado médico dele, para que ele tenha medicações para se sentir confortável. O mais importante para quem está doente é se sentir amado e cuidado. Então, as crianças podem dar muito carinho, ajudar os pais a lembrar os horários dos remédios e da comida, auxiliar na limpeza e tarefas de casa, e também participar das consultas com o veterinário para entender o que está acontecendo.

Os animais costumam morrer em casa ou no médico?

A morte dos animais pode ocorrer tanto em casa, quanto no médico. Vai depender muito de como está a saúde do animalzinho, quais cuidados ele vai precisar nessa fase e quais desses cuidados podem ser ofertados dentro de casa. Essa é uma decisão que a família toma em conjunto com o médico veterinário.

Tenho medo desse momento. Como é essa hora da morte?

A morte é um processo e não um momento. Então, nós vemos aos poucos os sinais que esse processo dá para a gente: eles vão ficando fraquinhos e magros, sonolentos, ficam sem fome e podem ficar com a respiração diferente também. Quando o processo ocorre de forma natural e tranquila, é como se o animal estivesse pegando num sono bem profundo.

O que você costuma fazer para dar conforto para os animais que estão morrendo?

Costumo conversar bastante com as famílias, para orientar como será esse processo, e os ajudo a pensar nas melhores formas de cuidar: roupas quentinhas, comidas gostosas, massagens, muita conversa e o que mais for preciso. Também ajudo a decidir as medicações certas para esse momento, a decidir se vamos nos despedir em casa ou no hospital, e a possibilitar que memórias gostosas sejam formadas antes de termos que dar tchau.

Você chora quando os tutores choram?

Às vezes eu choro junto, sim. Trabalhar com a morte é muito emocionante, e como eu também já perdi animais, eventualmente fico emotiva quando estamos falando sobre essas despedidas. É um trabalho que também depende de termos muita empatia, e a empatia dá espaço para nos emocionarmos. Chorar não é errado e nem ruim, mas, nesse contexto, não posso me esquecer de que estou ali como profissional, e o meu papel é oferecer acolhimento e consolo à família, e não o contrário.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

 

Fonte: Folha de SP

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