Separado do resto da sociedade. Ocupa as beiras ou as margens. Improdutivo. Esses são alguns sinônimos da palavra marginalizado. O termo, geralmente, é utilizado para uma condição social humana, mas esquecemos que ele também se aplica à realidade dos animais. As pessoas e os animais em situação de rua são seres que são excluídos da comunidade e, por isso, muitas vezes, eles se unem, construindo um relacionamento genuíno e de ajuda mútua.
Hoje em dia, estudos comprovam que ter um animal por perto pode ser terapêutico em várias esferas, como uma pesquisa realizada pela Edellman Intelligence em parceria com a HABRI e a Mars Petcare, que apontou que 80% das pessoas se sentem menos sozinhas na companhia de um pet, ou seja, o animal pode auxiliar em problemas de saúde mental, como a depressão.
Agora, levando em consideração a realidade das pessoas em situação de rua, os benefícios podem alcançar uma escala muito maior. Essas pessoas se sentem sozinhas no mundo, uma vez que são invisíveis perante o corpo social. Logo, ter algo que proporcione afeto, amor e senso de responsabilidade, como um animal doméstico, pode fazer muito bem, trazendo inspiração e um motivo para viver. Cuidar de outro ser os obriga a cuidarem de si mesmos.
Segunda a professora Juliana Andrade, do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG, o vínculo criado entre animal e pessoa em situação de rua vai muito além de amizade e companheirismo, também é uma ligação protetiva.
“O cão encontra no homem um ser que o protege e o homem encontra no cão a sua proteção de muitos perigos da rua, uma vez que ele sinaliza qualquer situação diferente do normal”, diz. Ou seja, essa relação funciona como uma via de mão dupla, um ajuda o outro.
A especialista faz referência a um livro que vai de encontro com tais reflexões: Um gato em situação de rua chamado Bob, escrito por James Bowen. A obra conta a história de uma amizade entre um gato e uma pessoas em situação de rua. A ligação deles é tão forte que o homem passa a almejar uma vida diferente para tirar ele e seu amigo de quatro patas daquela situação.
O psicólogo, palestrante e escritor Leonardo Abrahão afirma que possuir responsabilidades em relação a seres mais frágeis é mais um dos fatores de proteção que diminuem as chances de suicídio, segundo a moderna suicidologia.
A amizade entre homem e animal é extremamente poderosa e capaz de provocar mudanças internas e externas. Contudo, nem sempre é fácil. Por serem marginalizados, muitas vezes, há uma concepção distorcida de que os animais que convivem com pessoas em situação de rua são maltratados ou doentes. Juliana conta que esse pensamento é equivocado, pois muitos deles são tratados como filhos e a relação se aproxima muito de um vínculo familiar.
Entretanto, por mais que esse contexto seja inspirador, Leonardo alerta que não devemos romantizar essas situações, pois, no fundo, elas são um reflexo das injustiças sociopolíticas que caracterizam a sociedade brasileira, que é uma das mais desiguais do mundo.
Fonte: Revista Casa e Jardim