Em uma cena digna de um episódio de humor ruim e sombrio, funcionários de um aquário em Yamaguchi, no Japão, decidiram criar visitantes de papelão para “animar” um peixe-lua em cativeiro. A justificativa? Combater a solidão do animal durante a reforma do aquário.
Mas o que deveria ser uma reflexão sobre a fragilidade da vida em cativeiro acabou sendo uma exposição da completa falta de consideração, respeito, compreensão sobre as necessidades de um animal que nunca deveria ter sido aprisionado.
Os peixes-lua, por natureza, são criaturas solitárias. Na vastidão do oceano, eles habitam águas profundas, movimentando-se de forma livre em espaços que não têm qualquer paralelo com as frias e limitadas paredes de vidro de um tanque. O confinamento priva esses animais de espaço e estímulo e os expõe a uma rotina artificial, sob constante vigilância e exposição.
Segundo os responsáveis pelo aquário, o peixe-lua apresentou sinais de apatia e perdeu o apetite quando o fluxo de pessoas diminuiu. Essa explicação reflete mais a inadequação do cativeiro do que qualquer evidência de “solidão”.
Animais marinhos não existem para entretenimento humano, e sua adaptação às condições artificiais do cativeiro é uma falácia que agrava ainda mais seu sofrimento.
A ilusão da “companhia”
Colocar figuras de papelão como substitutos para visitantes humanos é uma solução tão absurda quanto simbólica. Mostra o quanto o aquário está disposto a mascarar os problemas gerados pelo cativeiro em vez de solucioná-los. A suposta “melhora” do apetite do peixe-lua após a inserção dos visitantes falsos revela, talvez, mais um reflexo de estresse do que um sinal de bem-estar.
Os peixes têm a capacidade de reconhecer e sentir, algo frequentemente ignorado por pessoas e instituições que os exploram. Essa sensibilidade, no entanto, não implica que eles desejem companhia, e sim que são profundamente afetados pelo confinamento.
Uma espécie vulnerável e constantemente ameaçada
Os peixes-lua, classificados como vulneráveis pela Lista Vermelha da IUCN, já enfrentam inúmeras ameaças na natureza, como pesca acidental, ingestão de lixo plástico e redes fantasmas. A captura intencional para cativeiro é mais uma das crueldades impostas por uma humanidade que insiste em tratar a fauna marinha como uma atração de parque temático.
Enquanto o aquário tenta projetar uma narrativa de cuidado e preocupação, a realidade é que esses locais contribuem direta e contundemente para o sofrimento animal. Manter um peixe-lua aprisionado, exposto à luz artificial e sob o olhar constante de visitantes, é brutal e desrespeitoso.
Os animais nasceram para ser livres e não viver aprisionados em cativeiro para alimentar a ganância e o lucro de alguns.