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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A importância do Acordo de Paris para a vida selvagem

Agendas do clima e da biodiversidade não podem mais serem tratadas de forma separada.

27 de janeiro de 2025
Elisângela de Albuquerque Sobreira
5 min. de leitura
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Foto: Andreas Weith/CC BY-SA 4.0

Durante as discussões históricas do Acordo de Paris em 2015, os países se comprometeram a criar um processo para que as nações se olhassem regularmente no espelho e literalmente “fizessem um balanço” dos pontos em que estavam progredindo na direção do cumprimento das metas propostas e, mais urgentemente, em quais pontos não estavam.

Esse processo, coletivamente chamado de inventário global, é projetado para expor claramente as principais áreas em que os países estão falhando em seus compromissos climáticos e que precisam da atenção mais imediata. Ele também visa destacar uma gama de soluções potenciais que ajudarão os países a fortalecerem seus planos de ação climática existentes.

De áreas florestais que sequestram carbono a ecossistemas marinhos que regulam o clima, vemos diariamente os benefícios da proteção da biodiversidade, não apenas para plantas e animais, mas também para o clima. Análises recentes mostraram que, em todo o mundo, pelo menos um bilhão de toneladas de carbono estão sendo bloqueadas na vegetação, solo e sedimentos de locais protegidos por organizações de proteção ambiental.

A luta pelo clima

Proteger áreas importantes de armazenamento e sequestro de carbono, que também são ricas em biodiversidade, é essencial para a luta pelo clima. O resultado do balanço global deve, portanto, fornecer orientação aos países sobre como eles podem melhor incorporar, financiar e acelerar a implementação de soluções de alta integridade baseadas na natureza para as mudanças climáticas, tanto terrestres quanto marinhas, em seus planos nacionais de ação. É importante ressaltar que o resultado deve amplificar a natureza como um mecanismo vital que funciona ao lado, e não como um substituto, da rápida eliminação dos combustíveis fósseis, se esperamos realmente progredir em direção às metas do Acordo de Paris.

Nove em cada dez espécies de plantas e animais selvagens enfrentarão desafios se a atual trajetória de aquecimento global continuar. Mas a maioria das espécies pode ser salva da extinção se o mundo cumprir o Acordo de Paris.

Se o planeta esquentar 3° C ou mais acima dos níveis pré-industriais, 95% das espécies terrestres e 95% das espécies marinhas enfrentarão consequências negativas. Cerca de metade das espécies enfrentará riscos de extinção. A ONU estima que o mundo estará 3,2°C mais quente em 2100. Todas as regiões e tipos de hábitat verão espécies nativas enfrentando a extinção nessa trajetória. No entanto, montanhas e ilhas enfrentam riscos maiores. Nesses locais, 84% e 100% dos animais e plantas endêmicos enfrentarão a extinção até 2100, respectivamente.

As crises do clima e da natureza estão interligadas uma à outra. O aquecimento pode diminuir o número de espécies, mas com menos plantas e animais, os hábitats estão menos preparados para absorver carbono e calor.

Se o mundo cumprir a trajetória mais ambiciosa de 1,5° C do Acordo de Paris, apenas 2% das espécies terrestres e marinhas endêmicas enfrentarão a extinção. Essa proporção sobe para 4% no cenário de 2° C. Em qualquer cenário, o potencial para reduzir o risco da natureza é mais de dez vezes maior do que em um caminho 3° C. O risco das espécies selvagens se perderem para sempre aumenta mais de dez vezes se não atingirmos as metas do Acordo de Paris.

A biodiversidade tem mais valor do que aparenta. Quanto maior a diversidade de espécies, maior será a saúde da natureza. A diversidade também protege de ameaças como as mudanças climáticas. Uma natureza saudável fornece contribuições indispensáveis ​​às pessoas, como água, alimentos, materiais, proteção contra desastres, recreação e conexões culturais e espirituais.

A agricultura é o maior impulsionador do desmatamento tropical em todo o mundo. O desmatamento para agricultura pode ter efeitos prejudiciais e intensificadores no clima, diminuindo a capacidade das florestas de absorver e armazenar carbono, contribuindo para mudanças nos padrões de precipitação e aumentando a suscetibilidade das florestas ao fogo. Os impactos não são sentidos apenas localmente. Por exemplo, o desmatamento na Amazônia brasileira demonstrou impactar os padrões de chuva e de queda de neve tão distantes quanto à Califórnia, a potência agrícola dos EUA.

Oportunidades de adaptação e mitigação

Embora já estejamos lidando com impactos das mudanças climáticas, as oportunidades de adaptação e mitigação no setor de uso da terra são extensas. A conservação de florestas como parte de uma estratégia mais ampla de mudanças climáticas pode fornecer uma ampla gama de benefícios para o clima, pessoas, comunidades e vida selvagem. Proteger florestas ajuda a restaurar serviços ecossistêmicos, garante a segurança alimentar e hídrica, e é vital para a conservação do hábitat e da biodiversidade.

A fauna selvagem depende de florestas saudáveis ​​para sobreviver. Há grandes sinergias entre clima e o restante da natureza, pois muitas das soluções para enfrentar as mudanças climáticas estão relacionadas à conservação de florestas, águas e oceanos, por exemplo.

A maneira como produzimos e consumimos alimentos precisa ser mudada, pois está poluindo a água, esgotando o solo e causando problemas de saúde. É preciso haver uma maneira nova e sustentável de olhar para o design urbano e dos edifícios, à medida que as pessoas se mudam cada vez mais para as cidades e as demandas por energia e água aumentam.

A natureza pode proporcionar grandes benefícios econômicos, especialmente no Brasil, que tem a maior concentração de recursos naturais do mundo.

Não podemos enfrentar as mudanças climáticas sem a ajuda da natureza, mas é verdade que quanto pior fica a mudança climática, mais a natureza – e sua inestimável capacidade de combate ao clima – é degradada. É um ciclo vicioso, mas quanto mais cedo cortarmos as emissões, e quanto mais cedo começarmos a alavancar o poder da natureza para nos ajudar a mitigar e nos adaptar às mudanças climáticas, mais seguro e habitável será o clima também, para a sobrevivência da vida selvagem.

Fonte: Fauna News

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