Sucessivas reações contra o comércio clandestino de aves silvestres, promovidas, em 2009, pelos órgãos responsáveis pelo controle ambiental, resultaram na apreensão de cinco mil pássaros da outrora diversificada fauna nordestina. Esse número dimensiona a extensão da atividade ilícita, para a qual a multa pecuniária e o enquadramento nos crimes ambientais não têm surtido o efeito desejado.
Quando se esperava arrefecimento nessa ação predatória, nela incluído o contrabando de espécies raras, a realidade demonstra o contrário. Nos últimos três meses foram apreendidos 628 pássaros silvestres, encontrados em condições de risco, muitos dos quais privados de alimentos. A última operação, conduzida pelo Ibama, com o apoio da Companhia da Polícia Militar Ambiental, foi efetivada em Aquiraz e resultou na apreensão de 51 aves.
A prática da comercialização de aves, de espécies da flora regional, bem como, dos animais fossilizados da região do Cariri, encontra incrustada na mentalidade de alguns grupos sertanejos, privados de informação sobre a riqueza e a relevância desses animais para o meio ambiente. Essa atividade, de tão danosa à natureza, é responsável pelo desaparecimento de animais únicos na espécie, sem a menor possibilidade de sua sobrevivência.
O valor pago pela troca mercantil, de tão ínfimo, demonstra apenas a pouca visão de quem se presta para esse tipo de negócio, sacrificando o patrimônio natural e incorrendo, de forma direta, no cometimento de crimes ambientais. O arcabouço jurídico disponibilizado para proteger a natureza ainda não conseguiu produzir efeitos preventivos e corretivos capazes de reverter essa atividade.
Os riscos de extinção transcendem o âmbito regional. Recentemente, a União Internacional para a Conservação da Natureza e os Recursos Naturais divulgou o resultado de uma pesquisa ornitológica alertando para o risco de extinção de, pelo menos, 10% de todas as aves do mundo encontradas no País. Esse levantamento destaca a realidade do Ceará, onde há 14 espécies de aves correndo o risco de eliminação pura e simples.
O universo ameaçado engloba, em âmbito nacional, 1.226 espécies. Dentre elas, há, particularmente, dois casos inusitados: o Soldadinho-do-Araripe (Antilophia bokermani) e o Periquito-Cara-Suja (Pyrrhura griseipectus). O primeiro é típico das encostas da Chapada do Araripe, particularmente onde se localizam suas fontes de água, enquanto o segundo é encontrado apenas no Maciço de Baturité.
A Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção destaca três outros animais tão ameaçados quanto o Soldadinho-do-Araripe e o Periquito-Cara-Suja. Estão arrolados o Peixe-Boi-Marinho, a Guariba-de-Mãos-Ruivas e a Tartaruga-de-Couro.
Para se evitar o destino atribuído ao Mutum-do-Nordeste ( Pauxi mitu) e à Ararinha-Azul (Cyanopsitta spixii), já extintos, só há dois caminhos: a preparação dos grupos em idade escolar para uma postura de respeito à natureza e a divulgação, de forma continuada junto ao público destruidor, do valor dessa riqueza natural.
Fonte: Diário do Nordeste