A lei tem grande apoio de 60 por cento da população. E todos os principais partidos já anunciaram que vão votar a favor. Quem estaria contra uma lei humanitária como essa?
Muçulmanos e judeus. Nos dois casos, alegando motivos religiosos. As tradições mantidas pelas duas comunidades exigem que os animais estejam conscientes da própria morte até o final. Ou a carne se torna “impura”. As fortunas imensas que circulam no mercado frigorífico internacional garantem que qualquer forma de abate seja realizada de acordo com o desejo do cliente.
Restaram não mais que 50 mil judeus em Amsterdam, e pela reportagem do New York Times, já estão meio conformados com a possível nova lei. O que os fará importar sua carne kosher de algum outro país. Mas os muçulmanos somam 1,2 milhões. É muita gente.
Acontece que a Holanda está preparando medidas para limitar o hoje incontrolável crescimento da população muçulmana. E uma lei que nasceu da consciência de um direito mínimo dos animais está sendo jogada na fogueira da política comum. É acusada de fazer parte de uma campanha “para expulsar os muçulmanos do país”.
O que está em jogo é um princípio básico e fundamental, independente de qualquer conjuntura política ou social. A questão é: que vale mais? O humanismo ou as tradições religiosas? A evolução do comportamento humano ou instruções registradas em livros milenares e levadas ao pé da letra em pleno século 21?
Tenho absoluto respeito por qualquer fé religiosa. Mas nem tanto respeito pelo que alguns fazem em nome dessas religiões. Como a Farra do Boi, que chegou ao Brasil como uma tradição católica e se reduziu a um festim de sádicos embriagados. Entre o direito dos animais e qualquer prática religiosa que os prejudique, eu estou com os animais.