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A exploração de animais para a alimentação e a insustentabilidade ambiental

30 de dezembro de 2010
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O relatório O impacto sobre o meio ambiente do uso de animais para alimentação elaborado pela SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira – é um passo a grande distância na discussão sob o ponto de vista da ética, do consumo consciente e da sustentabilidade ambiental sobre os atuais parâmetros da economia e da administração que explora animais. O documento mostra que o uso de animais – considerando todas as etapas de criação, alimentação, tratamento, abate, distribuição e estocagem – além de cruel, é insustentável. Disponível para download gratuito no site www.svb.org.br, o texto destaca uma pesquisa de grande relevância para promoção e comprovação científica da insustentabilidade do consumo de animais.
Além do desrespeito aos animais, os números do relatório revelam como a sociedade contemporânea contribui para destruir de forma irreversível o planeta, apenas para satisfazer o delírio de comer a carne de um cadáver animal, ou “alimentos” como ovos, leite, mel, coalho e outros dessa origem. Poluição, contaminação e destruição ambiental; desperdício de água e proteínas; inexistência de custo ambiental para criadores; lucro máximo para pouquíssimas pessoas; geração baixíssima de empregos; no caso da pecuária, o estrago chega à eliminação de florestas inteiras, além, claro, da aberração da exportação de bois vivos no Pará. Esta é a face real da associação entre a exploração animal e a destruição do planeta presente no relatório da SVB.

Os números que o relatório fornece sobre o design da economia do uso de animais não poderiam resultar mais pavorosos. Tal forma de consumo irresponsável põe em risco todo o ecossistema, à custa da dor e sofrimento, sendo, inclusive, no exemplo da pecuária sozinha, um dos maiores responsáveis pela emissão de gases que corroboram o aquecimento global. Segundo os números do relatório, 18% dos gases estufa são produzidos pelo sistema digestivo dos animais explorados pela pecuária e pela indústria de laticínios. Só para termos de comparação, a poluição gerada por veículos automotores é tamanha, que na Europa já se discute a proibição da publicidade de automóveis. E sabe qual a percentagem de emissão de gases dos carros? 14%. Sim, a “indústria” de corte e bombeamento – no caso da produção de laticínios – de animais já polui 4% mais do que os veículos de transporte.

A diferença é que se fala muito pouco sobre isso, pois, em tempos de midiatização, o campo da mídia, que deveria ocupar seu lugar para esclarecer sobre uma mudança urgente de hábitos de consumo, visando mesmo à tomada de consciência pela sobrevivência do planeta, funciona como legitimador da barbárie e da insustentabilidade. A mídia perde-se em devaneios econômicos neoliberais sobre o “mercado de derivativos da agropecuária no mercado futuro”, como se isso fosse uma atividade inata, que deve ser incentivada, mantida e aumentada.

O relatório da SVB é claro: “A produção industrial de carne é uma das fontes mais importantes de poluição do meio ambiente”. E tem mais: “Dentre as indústrias, a criação maciça de animais para consumo humano é a que faz o uso mais ineficiente dos recursos hídricos”. Neste item, vale lembrar que o Brasil possui cerca de 12% do volume de água doce mundial. Mas, ao sabermos que 70% desse potencial vai para a agricultura e que mais da metade dessa produção serve para alimentar animais no país ou no exterior, a situação soa muito mais crítica. Recorro ao relatório novamente: “Hoje, exportar grãos ou carne significa, em última instância, exportar água – de graça. Assim como produzir grãos e carne em território alheio é poupar água no próprio país”.

A sociedade das nuvens escuras

Esta é a sociedade de consumo inconsciente. Gilles Lipovetsky, polêmico pensador da sociedade contemporânea, diz que o “ciclo pós-moderno se deu sob o signo da descompressão cool do social; agora, porém, temos a sensação de que os tempos voltam a endurecer-se, cobertos que estão de nuvens escuras”. Pois bem, a metáfora da nuvem serve exatamente para essa reflexão sobre o dióxido de carbono que continuamos a lançar em nossa atmosfera. A sociedade e sua ode ao neoliberalismo é conivente com a exploração animal quando consome produtos que exploram animais. Ao mesmo tempo, usa esses mesmos animais como armas para a destruição violenta de biomas inteiros e dos recursos mais preciosos disponíveis a nós e às futuras gerações, como o solo, o ar e a água. E faz isso sob o discurso da repetição intrínseca, como se o fato de um dia o homem ter morado em cavernas e comido carne justificasse que não há que se desenvolver também um perfil ético.

A prática de consumo animal evoca o comércio da morte do planeta no “mercado futuro”. Elizabeth Kolbert, jornalista do New Yorker, fez uma pesquisa relevante sobre o aquecimento global publicada no Brasil em 2008, no livro Planeta Terra em perigo. A jornalista viajou a vários centros de pesquisa e pontos naturais críticos mundiais onde é clara a ação do aquecimento global. Mas o que chama a atenção nessa obra não são só as comprovações sobre o aquecimento global, que, em geral, são as que deveriam levar o mercado a se reorganizar de forma mais ética. O que me impressionou foi uma única frase, porque numa realidade imposta de consumo de sofrimento animal, parece profética. Numa entrevista com Thompson Webb, paleoecologista e professor da Universidade de Brown, percebe-se a quase irreversibilidade das perturbações climáticas que essa civilização promoveu no planeta devido ao abuso dos recursos naturais. E disso concluo que só nos restam duas opções. Você pode se tornar vegano e colaborar para o fim da morte de animais para consumo e, por conseqüência, para a vida do planeta. Ou, então, guarde a frase de Webb em homenagem ao seu padrão de consumo e prepare-se para tomar o lugar das suas vítimas: “No fundo, eu acho que o que vem por aí é a morte”.

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