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ESTUDO

A crise climática está tornando as ondas de calor nos oceanos ainda mais mortais

Mares mais quentes potencializam tempestades e destroem ecossistemas críticos, como florestas de algas e recifes de coral.

4 de maio de 2025
Damian Carrington
4 min. de leitura
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Corais-de-chifre-de-veado branqueados e mortos próximos à Ilha Heron, na Grande Barreira de Corais. Foto: Mike Bowers/The Guardian.

A crise climática triplicou a duração das ondas de calor nos oceanos, segundo um estudo, potencializando tempestades mortais e destruindo ecossistemas críticos como florestas de algas e recifes de coral.

Metade das ondas de calor marinhas desde o ano 2000 não teria ocorrido sem o aquecimento global, causado pela queima de combustíveis fósseis. Além de se tornarem mais frequentes, essas ondas de calor também estão mais intensas: em média, 1 °C mais quentes, mas muito mais em algumas regiões, segundo os cientistas.

A pesquisa é a primeira avaliação abrangente do impacto da crise climática nas ondas de calor nos oceanos do mundo e revela mudanças profundas. Oceanos mais quentes também absorvem menos dióxido de carbono, o que contribui ainda mais para o aumento das temperaturas.

“Aqui no Mediterrâneo, temos ondas de calor marinhas que são 5 °C mais quentes,” disse a Dra. Marta Marcos, do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados em Maiorca, Espanha, que liderou o estudo. “É horrível quando você vai nadar. Parece uma sopa.”

Além de devastar ecossistemas submarinos como os campos de ervas marinhas, Marcos afirmou: “Oceanos mais quentes fornecem mais energia para as fortes tempestades que afetam pessoas na costa e também no interior.”

Um exemplo desastroso foi a chuva intensa que causou inundações catastróficas na Líbia em 2023, matando 11 mil pessoas. O evento foi até 50 vezes mais provável devido ao aquecimento global, que elevou as temperaturas no Mediterrâneo em até 5,5 °C. Isso resultou em mais vapor de água na atmosfera e, portanto, mais chuva.

“A única solução é cortar o uso de combustíveis fósseis. Essa relação é muito clara,” disse Marcos. “Mais de 90% do calor extra [retido pelas emissões de gases de efeito estufa] é armazenado no oceano. Se você parar de aquecer a atmosfera, vai parar de aquecer o oceano.”

Grandes ondas de calor marinhas recentes incluem um evento excepcionalmente longo no Pacífico em 2014–15, que causou mortalidade em massa de vida marinha. Calor intenso atingiu o Mar da Tasmânia em 2015–16 e temperaturas recordes foram registradas ao redor do Reino Unido e no Mar Mediterrâneo em 2023. Cientistas já haviam alertado em 2019 que ondas de calor nos oceanos estavam aumentando drasticamente, matando grandes porções da vida marinha como “incêndios florestais que devastam vastas áreas de floresta”.

A Dra. Zoe Jacobs, do Centro Nacional de Oceanografia do Reino Unido, que não participou do estudo, disse: “Ondas de calor oceânicas representam riscos significativos para a sociedade, com alguns eventos individuais causando perdas de milhões de dólares devido a impactos nas indústrias de pesca, aquicultura e turismo. Também foi comprovado que elas intensificam ondas de calor em terra e ampliam eventos climáticos extremos como furacões e tempestades.”

O estudo, publicado nos Proceedings of the National Academy of Sciences, construiu um modelo das temperaturas da superfície do mar desde 1940, retirando o aquecimento causado pela crise climática. Depois, os pesquisadores compararam esse modelo com medições reais dos oceanos para mostrar como o aquecimento global elevou as temperaturas. O foco foi nas ondas de calor do verão, por atingirem as temperaturas mais altas e, portanto, serem as mais danosas.

A análise revelou que havia cerca de 15 dias de calor extremo por ano na superfície dos oceanos nos anos 1940, mas esse número saltou para uma média global de quase 50 dias por ano. Algumas regiões, como o Oceano Índico, o Atlântico tropical e o Pacífico ocidental, apresentam 80 dias de onda de calor por ano — ou seja, um a cada cinco dias.

Os mares tropicais já são quentes, então o calor extra tende a prolongar a duração das ondas de calor. Nos mares mais frios, esse calor adicional também pode aumentar a intensidade, como observado no Mediterrâneo e no Mar do Norte.

O Dr. Xiangbo Feng, da Universidade de Reading, que fez parte da equipe do estudo, afirmou: “À medida que as temperaturas globais continuam a subir, as ondas de calor marinhas se tornarão ainda mais comuns e severas. As atividades humanas estão mudando fundamentalmente nossos oceanos. É necessária uma ação climática urgente para proteger os ambientes marinhos.”

Traduzido de The Guardian.

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