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DESCOBERTA

A comunicação secreta das tartarugas marinhas e outros animais

28 de outubro de 2022
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As tartarugas conseguem comunicar-se, mas só agora os seres humanos se dispuseram a ouvi-las. Foto: Getty Images

Um cientista estudou 53 criaturas aquáticas que, segundo se acreditava, não emitiam sons. E ele descobriu que, na verdade, elas conseguem se comunicar.

Gabriel Jorgewich-Cohen indica que essas criaturas sempre emitiram suas mensagens, mas os seres humanos nunca haviam pensado em ouvi-las.

Ele usou microfones para gravar as espécies, incluindo tartarugas, comunicando que queriam acasalar-se ou que estavam saindo dos seus ovos. E suas descobertas reescrevem parte do que sabemos sobre a evolução.

Elas indicam que todos os vertebrados que respiram pelo nariz e usam o som para comunicar-se descendem de um ancestral comum, que viveu 400 milhões de anos atrás.

Existe forte debate na biologia evolutiva para descobrir se as coisas vivas descendem de um único ancestral ou de diversas origens diferentes.

Jorgewich-Cohen é estudante de PhD da Universidade de Zurique, na Suíça, e começou a trabalhar com a hipótese de que os animais marinhos poderiam comunicar-se usando o som. Ele empregou equipamento de som e vídeo para gravar 53 espécies em cativeiro em todo o mundo, incluindo o zoológico de Chester, na Inglaterra. Elas incluíram 50 tartarugas, um tuatara, um peixe-pulmonado e uma cobra-cega.

Tartaruga sul-americana comunicando-se durante a pesquisa. Foto: GABRIEL JORGEWICH-COHEN

 

Acreditava-se que esses animais não emitissem sons, mas Jorgewich-Cohen sugere que eles só não foram ouvidos por que é difícil detectá-los.

“Conhecemos o canto de um pássaro. Você não precisa de ninguém para saber o que é. Mas alguns desses animais são muito silenciosos ou emitem um som a cada dois dias”, explicou ele à BBC News.

Jorgewich-Cohen também sugere que os seres humanos têm preferência pelas criaturas que vivem em terra e, por isso, ignoram as espécies aquáticas.

Vídeos dos animais gravados quando eles emitem ruídos permitiram a ele associar os sons a determinados comportamentos, diferenciando-os de sons acidentais que não transmitem mensagens.

“As tartarugas marinhas cantam de dentro dos ovos para sincronizar a eclosão”, ele conta. “Se elas chamarem de dentro [dos ovos], todas elas saem juntas e é mais fácil evitar que sejam comidas.”

Os tuataras fazem ruídos para impedir que outros animais invadam seu território. Foto: GETTY IMAGES

O pesquisador afirma que as tartarugas também fazem ruídos para indicar que querem acasalar-se. Ele indica vídeos de sons de acasalamento das tartarugas que são populares nas redes sociais.

Jorgewich-Cohen também gravou ruídos emitidos por tuataras — uma espécie de réptil da Nova Zelândia — para proteger seu território. Ele então começou a analisar o que a descoberta revela sobre a evolução dos animais que emitem sons.

Os fósseis, muitas vezes, não “contam” o suficiente aos cientistas sobre animais que viveram milhões de anos atrás. Por isso, eles comparam o comportamento dos animais vivos.

Usando uma técnica conhecida como análise filogenética, Jorgewich-Cohen rastreou a relação entre os animais que produzem sons.

A técnica compara o comportamento de uma espécie, mapeando-a como em uma árvore genealógica. Se, por exemplo, um ser humano e um chimpanzé se comportarem fazendo ruídos, isso sugere que o ancestral comum às duas espécies também produzia sons.

O pesquisador concluiu que toda a comunicação acústica dos vertebrados descende de um ancestral comum, 400 milhões de anos atrás – no período devoniano, quando a maioria das espécies vivia embaixo d’água.

Esta conclusão contradiz pesquisas recentes que rastrearam a comunicação por som a diversas espécies diferentes, 200 milhões de anos atrás.

A bióloga Catherine Hobaiter, que não fez parte da pesquisa, afirmou à BBC News que as gravações dessas 53 espécies foram bem recebidas e aumentam nosso conhecimento sobre a comunicação acústica.

“Comparar espécies como chimpanzés e seres humanos só nos leva até poucos milhões de anos atrás”, explica ela. “Precisamos observar como as características comuns entre parentes muito mais distantes ampliam nossa compreensão até centenas de milhões de anos atrás.”

A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Communications.

– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63410505

Fonte: BBC

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