Desde a adolescência, a paixão de Cláudia Erber, 48 anos, pelo mar e seus habitantes foi além do comum. Enquanto muitos jovens frequentavam festas, ela preferia participar de conferências sobre vida marinha, levando para casa todo o material disponível. Seu fascínio por baleias e golfinhos a levou a se formar em biologia marinha e se tornar referência em pesquisas oceânicas.
Em um ambiente majoritariamente masculino, Cláudia enfrentou hostilidade e preconceito. Como integrante de grupos ambientais, monitorava o impacto de embarcações e plataformas de petróleo no ecossistema marinho. “Nos primeiros anos, éramos vistos como inimigos. Hoje, somos parte das equipes”, relata. A bióloga, que atualmente acompanha golfinhos no Rio Tejo, em Portugal, também precisou lidar com a solidão de ser, muitas vezes, a única mulher a bordo. “Sabia me impor e nunca permiti assédio”, afirma.
Cláudia, mestre em ciências ambientais e doutoranda em biologia do comportamento, percebeu a dificuldade de outras mulheres em relatar assédio no trabalho. Por isso, criou o videocast Olhos no Mar, dando voz a profissionais que protegem mamíferos marinhos. “Muitas se recusam a falar sobre o tema, mas hoje as novas gerações estão mais conscientes”, diz.
Além do assédio, ela critica o preconceito contra mulheres que trabalham offshore. “Se um homem fica meses longe de casa, ninguém questiona. Mas para mulheres sempre perguntam: ‘E os filhos?'”. Quando decidiu pausar a carreira para ser mãe, ouviu cobranças. “Disseram: ‘Como você larga tudo no auge?’ Mas foi o que fiz”, conta.
Apesar dos momentos de êxtase no mar, Cláudia alerta para a crescente poluição. “Há plásticos por todos os lados. Tartarugas morrem em redes abandonadas, e o turismo predatório só pensa em lucro”. Colisões entre embarcações e baleias também são frequentes.
Para a bióloga, mesmo com leis ambientais rigorosas, como no Brasil, é preciso criar mais áreas de preservação. “As baleias mudam rotas por causa da pesca predatória. Precisamos de educação ambiental urgentemente”, defende.
Apesar dos desafios, Cláudia não desiste. “Sou viciada no que faço. Passo horas observando o mar em silêncio, mas também amo conversar”. Atualmente, dedica-se a monitorar golfinhos no Tejo. “É um encanto ver sua alegria”, diz, mantendo os olhos no mar – e no futuro da vida oceânica.