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RESTAURAÇÃO

A biodiversidade é fator de proteção aos incêndios florestais

Florestas nativas restauradas com biodiversidade como base criam defesas naturais contra queimadas. A variedade de espécies cria uma mistura de ecossistemas que interrompe o caminho do fogo

14 de janeiro de 2025
Adrien Pages
3 min. de leitura
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Foto: Ed Alves/CB/DA.Press

Em 2024, a Amazônia passou por sua pior temporada de incêndios desde 2005, e quase metade do total anual das queimadas aconteceu em um único mês, o de agosto. E não foi só a maior floresta brasileira, o país inteiro enfrentou uma temporada devastadora de queimadas. Dados da MapBiomas, ONG brasileira que, desde 1985, monitora mensalmente as cicatrizes de fogo, revelam que as chamas devastaram mais de 11 milhões de hectares de terra entre janeiro e agosto de 2024 — pouco mais que o equivalente à área da Guatemala.

O número marca 2024 como o segundo pior ano desde o início dos registros, apenas 1987 apresentou mais destruição pelo fogo até esse ponto do ano. Em São Paulo, os moradores da capital mais rica do país enfrentaram graves consequências, com cinco dias consecutivos em setembro trazendo a pior qualidade do ar entre as principais cidades do mundo. Céus escurecidos pela fumaça e problemas respiratórios generalizados são um lembrete sombrio da crescente crise ambiental.

Isso levanta uma pergunta difícil: por que devemos restaurar as florestas se elas vão ser consumidas pelas chamas? Alguns argumentam que não há sentido em restaurar florestas porque elas podem queimar. Embora isso pareça lógico à primeira vista, a alegação rapidamente se desfaz quando fazemos paralelos com outras áreas. Devemos parar de tratar pacientes porque alguns procedimentos médicos falham? Devemos parar de investir em educação porque alguns estudantes abandonam os estudos? Claro que não.

O mesmo se aplica à restauração florestal. Usar o risco de incêndios como desculpa para interromper os esforços de recuperar matas devastadas não é apenas simplista, mas também perigoso. Na verdade, restaurar florestas é uma das maneiras mais eficazes de prevenir incêndios futuros.

A pergunta-chave, nesse caso, é: quais alternativas podemos oferecer àqueles que provocam incêndios para limpar terras para exploração? Há dois anos, conheci uma dessas pessoas. Ele passava seus dias explorando e degradando a floresta, mas estava tentando mudar. Atualmente, ele lidera uma rede local de coleta de sementes e provê insumos para o serviço de restauração, incluindo nós em sua lista de clientes. Sua mudança de destruidor a construtor da natureza foi transformadora — para ele e para as pessoas ao seu redor.

De acordo com um estudo de 2023 do Instituto Escolhas, o Brasil precisa investir R$ 228 bilhões para restaurar 12 milhões de hectares de florestas. Os potenciais benefícios são impressionantes: R$ 776 bilhões em receita líquida, 2,5 milhões de novos empregos, 156 milhões de toneladas de alimentos e a remoção de 4,3 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera. Com mais de 35 milhões de hectares de terras severamente degradadas, o Brasil está em uma posição única para liderar os esforços globais de restauração. O estado das florestas brasileiras é uma questão de escolhas individuais, que nos levam a repensar nossos hábitos de consumo. Também é uma questão de escolhas de investimento. No mercado de carbono, por exemplo, um preço mais alto poderia permitir uma compensação mais justa para os trabalhadores que implementam esses projetos no terreno. Por fim, é uma questão de decisões governamentais — tanto locais quanto globais.

Fonte: Correio Braziliense

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