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CONSEQUÊNCIAS

A Amazônia enfrentou mais de 12.500 desastres climáticos em uma década e muitos deles não foram relatados oficialmente

14 de dezembro de 2025
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

A Amazônia enfrenta todo tipo de desastres. Os efeitos das mudanças climáticas não apenas impactam seus ecossistemas, mas também milhões de pessoas que dependem deles para subsistir.

Um novo estudo publicado na plataforma IOPscience detectou que entre 2013 e 2023 a região registrou mais de 12.500 desastres climáticos —inundações, deslizamentos de terra, incêndios, tempestades e secas— que afetaram mais de três milhões de pessoas em um único ano e danificaram milhares de obras de infraestrutura pública.

Sub-registro e falta de informação

Os números refletem apenas o que aconteceu em cinco países amazônicos, já que Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa não forneceram informações. Além disso, o estudo detectou inconsistências na forma de relatar os desastres climáticos, o que impediu a obtenção de um panorama completo e evidenciou um sub-registro de eventos como secas e ondas de calor.

Para os autores, isso revela uma crise socioambiental subestimada e mal compreendida, mas também uma oportunidade para coordenar ações de monitoramento e prevenção que permitam à população se adaptar a eventos cada vez mais intensos.

Tipologia dos desastres climáticos

Do total de eventos analisados, os mais frequentes foram:

  • Inundações: 4.233 casos.
  • Deslizamentos de terra: 3.089 casos.
  • Tempestades: 2.607 casos.

As tendências variaram conforme o país:

  • Equador: mais de 300 deslizamentos em municípios do sopé andino.
  • Peru: maior frequência de tempestades.
  • Brasil: aumento de inundações.

Os incêndios florestais (2.016 casos) aumentaram em todos os países, vinculados a práticas agrícolas e apropriação de terras, especialmente na Bolívia, Brasil e Colômbia.

Secas e ondas de calor: informação insuficiente

Os fenômenos mais ligados às mudanças climáticas foram os menos relatados. Apenas Bolívia e Brasil registraram consistentemente secas e ondas de calor, apesar de pesquisas anteriores e dados de satélite confirmarem sua ocorrência em toda a região.

  • Ondas de calor: 105 casos, 97% no Brasil e 3% na Bolívia.
  • Secas: 95% no Brasil e Bolívia, 4% no Peru.

Ambas as categorias foram descartadas da análise por falta de dados confiáveis.

Municípios mais afetados

O estudo identificou que 41 municípios amazônicos registraram mais de 50 desastres em 10 anos, e 10 deles superaram os 100 eventos.

  • Equador: oito municípios com altos registros de deslizamentos, entre eles Zamora (313), Limón Indanza (251) e Morona (180).
  • Bolívia: Trinidad com 160 inundações.
  • Peru: Chachapoyas com 136 tempestades.
  • Colômbia: municípios como Puerto Rico, San José del Guaviare, Granada e La Macarena concentraram a maior quantidade de incêndios florestais, vinculados ao desmatamento pela agroindústria.

Impactos sociais e ambientais

O estudo adverte que as populações mais pobres e aquelas que dependem de florestas, cultivos e rios saudáveis são as mais vulneráveis e menos capazes de se adaptar.

As infraestruturas críticas —estradas, escolas, hospitais, represas e habitações— são as mais afetadas. Além disso, os impactos se estendem além da região: os incêndios amazônicos representam 80% do aumento da poluição regional por partículas finas, afetando 24 milhões de habitantes e provocando que cerca de 150.000 brasileiros necessitem de atendimento hospitalar, mesmo em cidades distantes como São Paulo.

Recomendações do estudo

As coautoras destacam que os eventos climáticos não reconhecem fronteiras, por isso a coordenação transnacional é fundamental. Entre as medidas propostas destacam-se:

  • Investir em sistemas de alerta precoce e infraestrutura de observação.
  • Melhorar a conectividade em territórios remotos.
  • Fortalecer a proteção social e serviços básicos.
  • Padronizar e publicar online os relatórios de desastres.
  • Destinar fundos regionais para comunidades locais.
  • Integrar a mitigação das mudanças climáticas no planejamento do uso do solo.
  • Melhorar a comunicação e atualização de estratégias diante de desastres.

A Amazônia enfrenta uma crise climática de magnitude continental, com impactos que transcendem fronteiras e perdurarão nas próximas décadas. A falta de informação e coordenação agrava a vulnerabilidade de milhões de pessoas, mas também abre a oportunidade de construir um sistema regional de monitoramento e prevenção que permita proteger tanto a população quanto os ecossistemas mais importantes do planeta.

Fonte: Noticias Ambientales

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