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Mais de 52 milhões de possibilidades!

15 de junho de 2015
3 min. de leitura
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No momento em que o IBGE divulga que Brasil já ultrapassou 52 milhões de cães (domésticos), superando o número de crianças de 0 a 14 anos, e que os gatos estão em quase 20% das casas, e que o assunto é capa de revista, matéria do Fantástico e tudo mais, penso ser possível fazer algumas perguntas e identificar algumas oportunidades.
Quando falamos de animais, não é de qualquer animal, mas sim daqueles que escolhemos ou elegemos como alvo de nossa atenção. Podemos então, para sermos mais objetivos, utilizar a expressão: amor, interesse ou cuidado com os gatos e cachorros. Para refinar mais essa leitura, sejamos sinceros, não se trata de qualquer cachorro e nem gato. São aqueles “de raça”, que compramos na loja, em agência ou do particular que oferece a “mercadoria”. Trata-se de uma relação comercial, um negócio e, para isso, trabalham com matrizes ou fêmeas reprodutoras. Aliás, é muito interessante para a economia que esse “amor” perdure. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, o país é o segundo maior mercado pet do mundo. A expectativa para o final de 2014 era de um faturamento de mais de R$ 16 bilhões. É bom lembrar que, à margem desses, existem milhares e milhares de outros perdidos, abandonados, sendo agredidos, atropelados e largados à própria sorte pelas ruas.

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

Falo até aqui como alguém que passou por todas essas fases. Fui tutora de um poodle que morou comigo durante 15 anos. Ele foi fruto desse comércio que, naquela ocasião, ajudei a alimentar. O Pug, era esse o seu nome, fez parte de nossa história de família e nos conquistou profundamente. Esse papo de que é “igual filho”, admito, era nesse nível. Entretanto, a convivência com ele permitiu alargar minha consciência. Mudei de forma radical (na raiz) o modo como me relacionava com os animais, daí imaginar uma grande possibilidade caso esses 52 milhões de cachorros, além dos gatos, considerados parte das famílias brasileiras, pudessem falar e fossem ouvidos na defesa dos seus e nossos irmãos, os “outros” animais não humanos. Imaginem esse diálogo! O que eles falariam? O que estamos dispostos a ouvir?
A Sociedade Vegetariana Brasileira, em 2007, lançou um post muito provocador. Utilizaram imagens para cada uma dessas situações que aqui traduzo: “Que espécie de bicho é contraditório o suficiente para proteger bicho em extinção, mimar o bicho de estimação, abusar do bicho de entretenimento, torturar o bicho de experimentação e comer bicho para exploração? ”. O Pug não falou, mas comunicou muito bem a minha própria esquizofrenia moral, traduzida na frase acima, por meio do seu olhar, tristeza, depressão e alegria. Ele comunicou que todos os animais, assim como ele, são sujeitos de uma vida. Querem viver tendo suas especificidades físicas, comunicativas, reprodutivas, alimentares e sua prole, sendo respeitadas. Nenhuma instituição (digo nenhuma mesmo: escola, família, igreja, rua, universidade) me ensinou sobre isso; ao contrário, atrasaram tanto essa consciência que precisei esperar que o Pug me ensinasse. Com ele aprendi que não preciso comer, explorar ou experimentar nenhum animal, nem usar como diversão. Eu não preciso e eles não merecem! Daí, por um instante, projetei essa possibilidade de ampliarmos o nosso restrito raio de amor e compaixão também para os patos, coelhos, vacas, bois, macacos, gansos, galinhas, porcos, pássaros, cavalos, baleias, peixes etc. etc. etc. Uma relação de compaixão que só pode vir de nós, animais humanos, sujeitos capazes de um agir moral e ético.

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