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Em 5 anos, Zoonoses mata 63% dos animais recebidos no DF

29 de agosto de 2015
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(Foto: Anderson Valle/Reprodução)
(Foto: Anderson Valle/Reprodução)

Nos últimos cinco anos, a Diretoria de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde matou 9.531 dos 14.964 cães e gatos recebidos pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do Distrito Federal. O número corresponde a 63% dos animais que passaram pelo centro entre 2010 e 2014. Desse total, 3.912 (26%) foram adotados. Os outros 11% foram resgatados pelos tutores, chegaram em estado crítico ao centro e morreram ou se referem a fichas com inconsistência nas informações.
Chefe do Núcleo de Vigilância de Animais Domésticos, Frederico Tôrres Braz diz que o CCZ mata, em média, cinco cães e gatos diariamente. A média de adoção é de dois animais por dia.
Protetores de animais questionam o índice de animais diagnosticados com doenças pelo CCZ – alto, segundo eles. Na terça-feira, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Maus-Tratos a Animais solicitou à Dival laudo com a quantidade de casos de leishmaniose diagnosticados desde o início do ano.
Em 2013, a Associação Protetora dos Animais (Proanima) entrou com uma representação junto ao Ministério Público com dados sobre mortes supostamente desnecessárias no centro. “Levamos evidências de animais que estavam sendo mortos por micoses, algo completamente tratável; evidências de manejo inadequado, de falta de cuidado, a própria questão de não haver controle populacional, da doação de animais com capacidade reprodutiva”, disse a presidente Simone Lima.
O Ministério Público informou que existe um “procedimento de acompanhamento” do trabalho do CCZ, mas que não há investigação de maus-tratos. Em 13 anos de atuação, a Proanima conseguiu fechar um cemitério clandestino nas imediações do CCZ e interromper o uso de uma câmara de gás, alimentada pelo motor de um Fusca, que era usada para matar os animais.
“É preciso realmente de transparência e do laudo de cada animal para poder avaliar se o que realmente foi realizado foi morte induzida para abreviar o sofrimento do animal porque ele tem uma condição irreversível. Se não for isso, estão matando à toa, e isso constitui crime ambiental.”
O chefe do CCZ afirma que o alto índice de morte induzida se dá porque a maior parte dos animais recebidos pelo centro têm doenças. “Esse número de 60% [foram de animais que] chegaram com situação de morte induzida, como casos de leishmaniose ou em sofrimento. É sempre bom lembrar que aqui é uma gerência de controle de zoonoses, a indicação é de recebimento de animais que têm zoonoses”, diz.
Braz nega que animais que não são adotados são mortos. “Não existe prazo limite para os animais que não são adotados. Se em outro momento, em outro local, foi diferente por causa da quantidade de animais, hoje não é dessa forma. Alguns animais já ficaram aqui seis meses”, afirma.
No sábado, um grupo de defesa animal protestou em frente ao centro contra curso realizado pela Dival para servidores sem formação veterinária aprenderem a coletar sangue em cães que seriam mortos posteriormente. Uma funcionária que não concordou com o procedimento afirmou que os cães passavam por sofrimento.
Na segunda-feira, o Conselho Regional de Medicina Veterinária pediu esclarecimentos à Dival sobre o procedimento. Ao G1, a Secretaria de Saúde negou que houvesse maus-tratos e informou que agentes de vigilância ambiental passaram por treinamento para realizar o procedimento para atuarem em campanha contra a leishmaniose.
Cachorro resgatado com fraturas na pata do CCZ (Foto: Anderson Valle/Reprodução)
Cachorro resgatado com fraturas na pata do CCZ
(Foto: Anderson Valle/Reprodução)

Condições precárias
Vídeo feito pela ativista Carolina Mourão em visita ao CCZ nesta segunda-feira (25) mostra três cães de grande porte, capturados na semana passada no cemitério do Gama, em uma mesma cela, latindo e ganindo em meio a fezes e urina. Segundo ela, o ambiente estava com mau cheiro e com as celas sujas.
“Os animais ficam no cimento frio, não tem área para o animal pegar sol. De manhã, quando fazem a limpeza, fica um cheiro de água sanitária insuportável lá dentro”, diz o biólogo e membro da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais, Anderson Valle.
O chefe do CCZ nega condições precárias no órgão. Ele afirma que há estrados e colchonetes para os animais e que nunca falta comida ou água para os animais.
Comitê de ética
No ano passado, ativistas reuniram 10 mil assinaturas e solicitaram à Secretaria de Saúde a criação de um Comitê de Ética no CCZ. Embora o chefe do centro tenha afirmado que o pedido para criação do grupo foi encaminhado ao setor jurídico no ano passado, a Secretaria de Saúde informou ao G1 que “não tomou conhecimento” do requerimento. O objetivo do comitê, que teria participação da sociedade e de funcionários do centro, seria dar maior transparência ao trabalho realizado no CCZ, que para os ativistas, funciona como uma “caixa-preta”.
Animais resgatados
No ano passado, Valle visitou o CCZ e retirou de lá dois animais. Um deles parecia ter sido atropelado e tinha uma fratura na perna. “Ele estava havia três dias agonizando no CCZ e disseram que iriam esperar até dez dias para ver se ele tinha raiva, e depois matariam o cachorro porque não teriam como tratar ele, não teriam como fazer nada”, diz.
Batizado de Sultão, o animal foi levado para um veterinário particular, que após operá-lo, descobriu que o animal tinha diversas fraturas na pata, o que seria um indicativo de que era vítima de maus-tratos. O segundo cão, batizado de Tristonho foi registrado pelo CCZ como agressivo. “Tiramos o animal de lá e descobrimos que ele é extremamente manso. Quando questionamos a depressão dele, disseram que ele estava doente”, afirma.
O chefe do CCZ afirma que o centro não tem contrato de medicamentos porque não é um abrigo ou hospital veterinário, mas afirmou que busca parcerias com ONGs e com o Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB) para tratar os animais feridos. “Tem animais que estão em extremo sofrimento, que foram atropelados, e podemos receber para fazer a morte induzida. E temos animais que chegam com o laudo veterinário que está em sofrimento, indicando a morte induzida. O tutor nunca se livra do animal e deixa ele aqui, sempre tem que ter indicação.”
Braz afirma que dois testes para leishmaniose são feitos antes de os animais serem moortos com uma injeção letal. “Tendo animais com indicação para morte induzida, [o procedimento] é feito de segunda a sexta-feira, geralmente pela manhã. O tutor pode assistir, ele tem direito, até para ver que não tem sofrimento.”
“O animal recebe um sedativo, um anestésico geral, e depois uma medicação que paralisa o coração. Só depois que está com a anestesia bem aprofundada que é feita essa medicação”, afirma. Os animais mortos são colocados em tonéis e depois são levados para incineração.
Fonte: G1

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