Quem tem um animal sabe a alegria que eles trazem para as nossas casas. Isso se as pessoas souberem como cuidar e respeitar as espécies que não podem ser domesticadas. Algumas entidades lutam pelos direitos dos animais. E, por incrível que pareça, é muito comum encontrar cenas de desrespeito.
As aves foram impedidas de voar. Um falcão, símbolo de inteligência no mundo animal, não escapou do abuso do ser humano. “Ele teve as penas das asas cortadas. É uma técnica que as pessoas usam para manter esses animais em cativeiro”, explica Daniel Porto de Nogueira, analista ambiental do Ibama de Lorena.
E a história se repete com centenas de bichos. Só no Ibama de Lorena existem quase 900 animais. Todos foram salvos do tráfico ou dos maus-tratos. Os tucanos e outras aves silvestres, por exemplo, não podem ser domesticados. Mas há papagaios e araras retirados da natureza e contrabandeados. Os jabutis também são comuns. A maioria é adotada irregularmente e os cuidados inadequados comprometem a estrutura do casco e a vida da tartaruga.
O macaco-prego, quando é retirado da natureza, não se adapta em ambientes fechados. Quando o tutor percebe o temperamento selvagem, o primata é abandonado e condenado a viver em cativeiro. E só mesmo a conscientização pode resolver isso. É necessário que “as pessoas se neguem a ter animais silvestres em cativeiro”, salienta Daniel.
Hoje, quem recebe animais silvestres irregulares é principalmente o Ibama, que tem 50 centros de triagem em todo o Brasil. São unidades que recebem cerca de 50 mil animais por ano.
Para cuidar de tantas vidas, a ajuda de voluntários é essencial até para atividades básicas. “Nós nunca tivemos um veterinário, o que quer dizer que temos atendimento veterinário, mas voluntário”, explica Daniel.
Lumoa Cristina Ramos Santos é voluntária e ajuda no dia a dia do centro de triagem de Lorena. “Junto com eles eu tive a conscientização de que a minha casa não é a casa deles, não tem como levá-los para minha casa”, fala.
Mudam os animais, mas não a realidade. Pepa, Branca e Abu são exemplos da matilha da protetora Judite. Eles chegam abandonados e ficam até aparecer um tutor. “Quando ele vai, eu desocupo o lugar para outro que está precisando”, disse a voluntária. O voluntariado é essencial, já que a proteção aos animais é uma área pouco atendida pelo poder público.
O “Terra, Vida ou Morte” fez um levantamento nas maiores cidades da região: Bragança Paulista, Caraguatatuba, Guaratinguetá, São José dos Campos e Taubaté. Desde o início do ano, três delas não castraram nenhum animal. A boa notícia vem com os números de Caraguá e Taubaté.
No quesito doação, destaque novamente para Taubaté. Já Guaratinguetá conseguiu guarda para apenas seis animais. A prefeitura de Bragança nem sabe responder.
Nos abrigos municipais, nota zero novamente para Bragança, que não tem alojamento para animais. Guaratinguetá está com sete animais do centro de controle de zoonoses. São José dos Campos e Caraguatatuba abrigam 46. E Taubaté 592.
A falta de atendimento é compensada, em parte, por organizações não governamentais, como o Iepa, de São José dos Campos. Nos últimos dois anos a entidade fez mil castrações. Encaminhou para novos lares mais de 4 mil animais desde 2004. A fiscalização também fica por conta do voluntariado, que atende pedidos do Ministério Público. Acompanhamos um dia de trabalho da organização.
O primeiro caso é para atender um chamado comum. Um filhote de passarinho caiu de uma árvore. “O certo é as pessoas verificarem se não é possível colocar de volta no ninho”, disse o biólogo Marcelo Godoy. Partimos então para a fiscalização. A primeira parada é em uma casa onde haveria um cão magro e abandonado. O responsável não mora no local.
“O cachorro já era do antigo inquilino, então a gente deixa o cachorro aqui, tem a ração dele, tem a água, um lugar protegido e um acompanhamento veterinário, mas as pessoas acham que ele está maltratado por não ter ninguém morando na casa”, explicou o engenheiro, José Ricardo Campos. A equipe vai acompanhar o caso.
Já na segunda visita do dia, más notícias. O cão que o Iepa procurava já não estava mais no local indicado, havia morrido. Na semana de proteção à fauna, vimos que há pouco a ser comemorado. Melhor seria se todos os humanos pudessem enxergar os animais como parte da natureza. Uma natureza que queremos viva.
Fonte: VNews