Os gatos descansam pelas sombras, logo na entrada. São eles que dão as boas-vindas aos visitantes do cemitério São Vicente de Paula, no Mucuripe. Qualquer sinal de comida numa sacola deixa os bichanos espertos. Além da fome, estão vulneráveis à sede e às doenças. Nas contas do coveiro José Carlos dos Santos, 47, existem cerca de 30 gatos no local. Mas o número já foi maior. “Quando junta muito gato, a gente leva lá para o Cocó. Lá, tem aquela área verde, tem mais apoio para eles. Mas dá um mês e aqui tá cheio de novo”, conta. Dentro do cemitério, ele alimenta, dá água e até reserva um pequeno abrigo, para protegê-los das chuvas. A vizinhança também ajuda.
O abandono de animais pelas ruas de Fortaleza pode ser constatado em várias praças e equipamentos públicos. De acordo com o Centro de Controle de Zoonoses (CCA), do Município, existem cerca de 200 mil animais, incluindo cães e gatos, em Fortaleza. Do total, em torno de 30 mil estão nas ruas. O que José Carlos e várias pessoas em outros pontos da cidade fazem é amenizar os sintomas do abandono. Engana-se quem pensa que, deixando em praças e cemitérios, os animais ficarão bem. Nas ruas, eles se tornam vítimas de maus-tratos.
“Tem gente aqui que faz é chutar os gatos”, conta Edileuza Diebi Pereira, 34, que trabalha próximo ao anfiteatro do Parque do Cocó. Ela lembra da matança de gatos em junho de 2008. Vários gatos mortos foram encontrados no local. “O pessoal tem raiva, por causa das crianças que não podem brincar aqui, por medo das doenças”, diz. Para ela, seria preciso levá-los para um local adequado.
O pedreiro José Ribamar Rodrigues, 44, reclama de quem abandona os gatos no Parque do Cocó. “Eu tenho cinco gatos em casa, mas não tenho coragem de pegar e botá-los aqui”. Ele destaca que já viu várias cenas de maus-tratos. Disse que, certa vez, chegou a chamar um soldado da Polícia Militar Ambiental, mas o agressor já havia fugido.
O bosque Eudoro Correia também é um dos pontos com vários gatos abandonados. A comerciante Evenir Vieira, 52, alimenta, dá água e remédio aos animais. “Eu já pedi várias vezes que o Governo oferecesse castração por preço mais em conta, mas não tem um veterinário que faça essa caridade”. Na opinião dela, os gatos tinham de ser levados para um local adequado. “No inverno, eles adoecem. Nesse ano, morreram uns 30 gatos pequenos aqui, por causa da chuva”.
RECURSOS PARA IMPLANTAÇÃO DE REGISTRO DE ANIMAIS
De acordo com Patrícia Facó, que gerencia o Centro de Controle de Zoonoses, o órgão precisa de recursos para implantar o registro geral dos animais (RGA), para realizar castração dos animais entre a população carente e, assim, evitar abandono em praças públicas.
O Centro de Controle de Zoonoses fica na rua Betel, 2.980, na Maraponga. Mais informações pelos telefones (85) 3131 7846 e (85) 3131 7849.
Fonte: O Povo