Por Monika Schorr (da Redação)
Boas notícias estão chegando da China. A demanda por sopa de barbatana de tubarão teve acentuado declínio nesse país. As informações são do Care2.
Ainda há duas questões sem resposta: qual a magnitude do decréscimo e quais os motivos que o provocaram. O fato concreto é que há cada vez menos pessoas consumindo barbatanas de tubarão.
Sopa de barbatana de tubarão é considerada uma iguaria na gastronomia chinesa, mas não há nada de requintado na forma como os pescadores obtêm essas barbatanas. Eles agarram o tubarão e o arrastam até o barco e decepam suas barbatanas (shark finning), jogando-o de volta ao mar onde, incapaz de nadar, terá morte certa. A cada ano, mais de 70 milhões de tubarões mutilados por essa prática cruel morrem asfixiados, sangram até a morte ou são devorados vivos por predadores.
O jornal Washington Post relatou que a prática do “finning” ameaça a sobrevivência de dezenas de espécies de tubarão no planeta: “dez das quatorze espécies de tubarões mais capturadas por causa de suas barbatanas encontram-se em alto risco de extinção, enquanto as quatro remanescentes estão próximas de se enquadrar nesta classificação”.
A chacina e o desaparecimento de uma espécie podem causar graves desequilíbrios em um ecossistema, o que significa que servir sopa de barbatanas de tubarão causa danos não só ao tubarão, como também a incontáveis criaturas marinhas.
Tudo isso faz com que a notícia da diminuição da demanda por barbatanas de tubarão seja muito bem recebida, mesmo que ainda haja dificuldades de se estabelecer uma estimativa do quanto representa numericamente esta redução. Há algumas evidências de que o consumo de sopa de barbatana de tubarão na China teve uma queda entre 50 e 70 por cento desde 2011. Apesar de o site Treehugger advertir que os dados divulgados pelo governo chinês devam ser vistos com cautela, o fato do setor industrial da China corroborar essas informações, acrescenta-lhes credibilidade. Há, também, evidências de que em Hong Kong a demanda caiu em torno de 20 a 30 por cento.
Muitos fatores estão colaborando com a mudança dos hábitos dos consumidores. Um deles é a campanha nacional de conscientização sobre a crueldade existente por trás da sopa. O popular astro chinês do basquetebol, Yao Ming, é o representante desta campanha educativa. Ele aparece em um comercial onde clientes bem vestidos e sentados à mesa de restaurantes empurram para longe as tigelas cheias de sopa de barbatanas, depois de ver o sangrento e violento percurso da barbatana desde sua origem em um saudável e majestoso tubarão até sua chegada à mesa de jantar.
O posicionamento da opinião popular contra a sopa de barbatana de tubarão desmente o estereótipo de que a população asiática não está interessada na defesa animal. O ecologista William J. McShea disse à revista The New Yorker “que os chineses são muito utilitaristas” e não se interessam em proteger animais que não possam ser explorados para fins rentáveis, como os ursos negros asiáticos que têm sua bílis extraída de forma brutal para uso na tradicional medicina chinesa, ou que não sejam símbolos de seu orgulho nacionalista, como os ursos-panda.
Contrariando a visão de McShea, os chineses aderiram à causa de Yao Ming, cuja campanha estimulou um empresário de sucesso a se tornar um ativista em tempo integral e que mobilizou dezenas de milhares de usuários da rede social Weibo, versão chinesa do Twitter, contra a cruel e bárbara remoção das barbatanas dos tubarões. Esse tipo de mobilização em massa contra a crueldade com animais não é novidade na China, onde existem, em números absolutos, mais vegetarianos e veganos (50 milhões) do que nos EUA (30 milhões). Todos os países são palco de crueldade contra animais. Nos EUA, apenas, sete bilhões de frangos são assassinados anualmente para consumo. Também em todos os países despontam movimentos pelos direitos animais, inclusive na China.
A campanha de conscientização teve início em 2006, há sete anos e, provavelmente, não se deve apenas a ela a acentuada queda da demanda nos últimos dois anos. Um recente acontecimento deve ter tido um papel de destaque nesta questão: a repressão do governo contra a corrupção no setor público.
Restaurantes chineses chegam a cobrar 325 dólares (aproximadamente 711 reais) por uma tigela de sopa de barbatana, o que sugere que ou o seu sabor é “divino” ou que as pessoas a pedem para ostentar riqueza e status. Reportagens dizem que o prato tem um sabor agradável, na melhor das hipóteses (o chef Gordon Ramsey diz que a sopa não tem gosto de nada). Isto é clara e literalmente um caso de consumo exibicionista.
O governo chinês baniu a sopa de suas cerimônias porque seu consumo por parte das autoridades públicas poderia sugerir corrupção. Organizações com interesses “especiais” serviam a sopa aos funcionários públicos em banquetes dispendiosos para atraí-los, e os próprios servidores do governo compravam a sopa, eles mesmos, provavelmente à custa do dinheiro público. A nova proibição fez com que a sopa de barbatana de tubarão desaparecesse de alguns cardápios “sofisticados”.