As mudanças climáticas estão afetando a vida dos macacos na África. À medida que o planeta aquece, estes animais estão tendo de lidar com novas ameaças que poderão, inclusive, causar um trauma geracional, aponta um estudo publicado na revista científica PLOS Climate.
Uma equipe de pesquisadores internacionais analisou 333 locais onde vivem os primatas e descobriu que todos já passam por aumentos de temperatura. Além disso, usando projeções de um mundo entre 2°C e 3°C acima dos níveis pré-industriais, os envolvidos no trabalho constataram que esses habitats sofreriam impactos mais extremos no futuro.
Pelos resultados coletados, neste cenário, os primatas estariam mais expostos a incêndios florestais, secas, ciclones e ondas de calor, eventos que têm o potencial não só de reduzir a sua segurança alimentar, mas também de separar fisicamente algumas comunidades de primatas.
“Quando temos grupos realmente grandes, isso potencialmente separa os indivíduos de outros indivíduos que eles possam conhecer”, explicou Ammie Kalan, primatologista da Universidade de Victoria, do Canadá, à CBC News.
Segundo ela, o isolamento quebra as redes sociais dos animais e, quanto mais dura, piores são os danos. “Isso sugere um trauma geracional que vai acontecer com essas populações de macacos”.
A especialista destacou que mortes de membros mais velhos também podem afetar a resiliência de todo o grupo. “Se você eliminar gerações inteiras, perderá esses indivíduos conhecedores que têm o potencial de fornecer esse tipo de rede de segurança que pode ajudar os indivíduos mais jovens.”
Busca por água
A crise climática também tem gerado mudanças de comportamento nos primatas. “Muitos chimpanzés às vezes são bastante hidrofóbicos. Mas veremos chimpanzés que vivem nessas áreas onde a temperatura ultrapassa os 40°C durante o dia… eles vão sentar-se em poças de água”, pontuou Kalan.
Com os termômetros nas alturas, os animais não poderão sair livremente a procura de comida. Então, ou eles ficarão escondidos em cavernas ou ficarão na água para diminuir o calor.
Os especialistas também alertam que os chimpanzés não podem simplesmente migrar para áreas mais frias e, à medida que o clima esquenta, tenderão a brigar com outras espécies por maneiras de se refrescarem.
“Já vemos um aumento dos conflitos por recursos hídricos”, apontou a pesquisadora Stefanie Heinicke, do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático, da Alemanha. “Então, onde as pessoas usam água parada [para] o seu gado, os chimpanzés usam esses recursos.”
Como as principais ameaças aos macacos são o desmatamento e a caça, as mudanças climáticas não têm sido consideradas nos esforços de conservação. Mas os cenários projetados no estudo talvez mudem isso em um futuro próximo.“Estas projeções gerais podem ajudar basicamente a apoiar a necessidade de esforços de mitigação”, completou Kalan.
Fonte: Um Só Planeta