Por Patricia Tai (da Redação)
As drogas à base de substâncias beta-agonistas foram originalmente desenvolvidas para ajudar as pessoas com asma, mas nos últimos tempos têm sido misturadas à alimentação dos bovinos criados para consumo humano pois a indústria da carne descobriu que elas têm o poder de fazê-los crescer mais rápido em um curto período de tempo. A meta é “produzir mais carne com menos gado”. Um vídeo recente de bois “mancos” que haviam recebido tais drogas levantou preocupações sobre a segurança dos beta-agonistas para os animais e para os seres humanos que comem a sua carne. As informações são da Care2.
A carne de bovinos que receberam drogas como Zilmax da Merck ou Optaflexx da Eli Lilly é erroneamente etiquetada como sendo “natural; livre de hormônios e antibióticos” pois, segundo as diretrizes do Departamento de Agricultura Americano, os beta-agonistas não são enquadrados na categoria de hormônios de crescimento ou antibióticos. Mas os animais sob efeito de beta-agonistas, nas semanas antes de serem mortos, apresentam um acréscimo de 14 quilos aos seu peso, e a droga reduziu a gordura contida na carne.
Em outras palavras, os beta-agonistas são feitos sob encomenda para empresas como Tyson e Cargill, que produziram mais de 11 bilhões de quilos de carne no ano passado a partir de 91 milhões de bovinos. Em contraste, com 111 milhões de bovinos foram produzidos 9 bilhões de quilos de carne em 1952.
Como se andassem em metal quente
A Dra. Lily Edwards-Callaway, chefe da área que se diz responsável pelo “bem-estar” animal da JBS dos Estados Unidos, exibiu um vídeo no dia 7 de Agosto, na Associação Nacional Cattlemen’s Beef. Nas imagens, os animais podiam ser vistos “lutando para caminhar e mostrando outros sinais de sofrimento”, e pareciam “andar cuidadosamente, como se estivessem pisando em metal quente”, segundo a Reuters.
Edwards-Callaway argumentou que “o calor, o transporte e problemas de saúde” podem ter sido fatores a explicar o fato dos animais estarem mancando.
As imagens devem ter sido impactantes: no mesmo dia em que foi mostrado o vídeo, a Tyson Foods, segunda maior produtora de carne dos Estados Unidos, anunciou que deverá suspender a compra de animais alimentados com Zilmax. A empresa citou especificamente que “casos recentes de gado entregues para serem processados (sic) tinham dificuldade de andar ou eram incapazes de se mover”, e pontuou que “alguns especialistas em saúde animal sugeriram que o uso do suplemento Zilmax é uma causa possível”.
Zilmax é o nome comercial da Merck para a substância zilpaterol, que é “mais forte que os outros beta-agonistas do mercado”, de acordo com a Reuters. Outra substância parecida é a ractopamina, ingrediente ativo do Optaflexx, vendido pela Lilly. Conforme a reportagem, a Tyson “ainda está comprando bovinos medicados com Optaflexx”.
As discussões com relação à continuidade do uso destas drogas nada têm a ver com preocupações quanto aos problemas causados aos animais que estão sofrendo com os efeitos, e sim, como sempre, estão pautadas em interesses econômicos. A Rússia e a China proibiram a importação de carne de animais que receberam ractopamina. No intuito de ganhar uma fatia do lucrativo mercado chinês, a Smithfield Foods anunciou em Maio que deverá parar de ministrar ractopamina a metade de sua criação de porcos. Semanas depois, a China declarou que tinha planos de comprar da Smithfield.
Em publicação voltada para o mercado de criação de bovinos, a Cattle Network se refere aos beta-agonistas como “ferramentas poderosas para dar acabamento no gado” e afirma que, “se não se acrescentar Zilmax à alimentação dos animais, eles pesarão menos”. Em alinhamento com o que diz a Cattle Network está a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, USFDA (U.S. Food and Drug Administration), que tem dito atualmente que essas substâncias são “seguras” para os animais e aprovou a volta do uso do Zilmax em 2006. Os últimos relatórios de bovinos com sérios distúrbios contradizem isso, mas o que manda é o lucro, o mercado, o “produzir mais carne com menos gado”, a comoditização da vida.