Por Fátima Chuecco (da Redação)
A ANDA abre espaço para uma série de reportagens que abordará a proteção animal na infância, pois, é nessa fase que boa parte de nossa personalidade se forma. Muitas das experiências que temos quando crianças nos marcam para o resto da vida. Aliás, é lá na infância que muitos ativistas começaram a abraçar a causa animal mesmo sem se dar conta disso. Por isso, alimentar as crianças com atividades, livros, filmes e tudo o que possa motivar o amor e respeito aos animais é essencial para um futuro em que a natureza seja protegida e os bichos fiquem livres da escravidão.
Educadores com visão futurística percebem o quanto é importante falar de meio ambiente englobando tudo que está em torno da criança e não só de rios, praias e florestas, como se a natureza só existisse distante dela, só onde ela passa as férias. A Educação Ambiental moderna entende que a criança precisa ser motivada a respeitar a borboleta que pousa em seu quintal, as árvores das calçadas, os passarinhos que moram na cidade e os cães e gatos que vê na rua. Tudo faz parte da natureza: nós, as águas, as florestas, os demais animais… tudo. Ensinar a preservar apenas rios e florestas é ensinar pela metade porque grande parte das criaturas nasce e cresce nas grandes cidades.
Essa série vai mostrar iniciativas que trabalham proteção animal com crianças em escolas, comunidades ou eventos. Haverá dicas de livros e filmes que podem sensibilizar as crianças nesse sentido. Aliás, quantos de nós não tivemos esse “despertar para a causa animal” a partir de algum filme ou livro onde um bichinho era o protagonista?
Como vemos pelas notícias, há um crescente número de pessoas se envolvendo com a causa animal ou, pelo menos, prestando ajuda a animais eventualmente. Chovem denúncias e resgates. São pessoas de várias idades e profissões, além de policiais e bombeiros que têm socorrido animais em situações extremas como nunca víamos acontecer anos atrás. São manifestações pelos direitos animais em toda parte do planeta. No entanto, vai depender das gerações futuras a criação de leis, de posturas e de uma nova visão. Que essa nova série da ANDA inspire a todos (educadores, pais, avós, tios etc) a envolver as crianças numa atmosfera de comunhão com a natureza e respeito aos animais, afinal, uma coisa não é possível sem a outra!
Capítulo I
Ensinando amor aos animais com arte
Oficinas de arte e concursos nacionais e internacionais de desenho e pintura fazem parte do caminho escolhido pelo MICA – Movimento Infanto-juvenil Crescendo com Arte, de SP, para sensibilizar as crianças e jovens com relação aos animais. A fundadora do MICA, Maria José Soares (bióloga e coordenadora pedagógica), salienta que não há sede, patrocinadores e nem ligação a alguma filosofia política ou religiosa. As atividades são realizadas em espaços cedidos e desenvolvidas por um grupo de professores voluntários que tentam contribuir com sua parte na sociedade: “Nosso objetivo é criar oportunidades, por meio da arte-educação, para que crianças e jovens se tornem cidadãos mais criativos, produtivos e, principalmente, mais felizes”, comenta.
Os conceitos trabalhados em prol do respeito aos animais e pela natureza são desenvolvidos no Projeto “Conhecer para Preservar”. As crianças ouvem histórias, assistem a filmes e a fixação dos conceitos é feita em oficinas de arte: desenho, pintura (em tela, canecas de cerâmica e seda), dobradura, kirigami, mosaico, máscaras (em papietagem, porcelana, faiança e com elementos caídos da natureza), escultura, modelagem em argila, música, dança, teatro, canto, coral e poesia, entre outros. O MICA já atuou em escolas como o Colégio Cermac no Mandaqui e, no Tremembé, na Escola Municipal Raul de Leoni e no CCI do IF – Centro de Convivência Infantil do Instituto Florestal.
Nos últimos dois anos, o trabalho tem sido feito com as crianças da Comunidade do Sapo, no Jardim Peri, na zona norte de SP, com o apoio de um conhecido ativista da causa animal, o “Marcelinho Protetor” (Marcelo da Silva Viera). “A ideia do trabalho com essas crianças surgiu do desejo de Marcelinho levar mais conhecimento aos moradores da comunidade sobre a importância da valorização da vida animal. Por meio da educação podemos minimizar os problemas de abandono e crueldade cometidos contra os animais domésticos e silvestres”, explica Maria José.
As crianças da Comunidade do Sapo fazem um passeio pelo Parque Estadual da Cantareira e aprendem sobre higiene bucal, educação ambiental e proteção animal. Também visitam abrigos de animais como da Uipa (União Internacional Protetora dos Animais). A veterinária Débora Gabriel Rovigatti participa das atividades preparando vídeos e passando ensinamentos sobre alimentação, doenças e castração. A protetora Fabiana Pino participa falando sobre guarda responsável, maus-tratos, superstições e assuntos em defesa do bem-estar animal.
“Um problema grave que tentamos sanar é a captura de animais silvestres para vender ou comer, feita pelos moradores da comunidade. Outro problema é a degradação causada às matas e a poluição dos mananciais. Para isso as crianças fazem uma trilha na Mata Atlântica, dentro da Reserva do Parque Estadual da Cantareira, com a orientação de monitores de educação ambiental”, comenta Maria José.
Arte e bichos
Os concursos de arte são anuais e nas versões paulista, nacional e internacional. Os temas sempre procuram motivar as crianças e jovens a pensarem sobre a natureza e animais a sua volta. Alguns dos temas:
Paulista – Meu Amigo de Estimação e Vida de Cachorro & Vida de Gato (desenho e pintura)
Nacional – ReDobrando a Esperança na Vida Animal (dobradura), Pedacinhos da Natureza (mosaico), Conservar Hoje para o Amanhã Sustentar (propaganda), Meu Amigo de Estimação (desenho e pintura), Amazônia Azul (desenho e pintura), Artes e Artistas da Natureza (arte e poesia), Minha Arca de Noé (poesia) e Minha Árvore Favorita (fotografia e arte)
Internacional – Arte pela Valorização da Vida Animal, Arte pela Conservação do Mar, Arte pela Águas do Planeta, Arte pela Liberdade das Aves do meu País, Arte pelas Florestas do meu País e Arte pela Floresta Amazônica Plantando sementes, colhendo frutos
Com 23 anos de idade, o MICA já sensibilizou crianças que hoje são adultas e formadas em diversas profissões onde podem continuar difundindo a proteção animal. Tem professor, advogado, dentista, veterinário e vários ex-alunos que abraçaram a causa animal. “Procuramos introduzir temas em nossas atividades que levem à preservação dos patrimônios históricos, culturais e naturais do planeta. Temos ex-alunos que já são mestres e doutores. Os que não fizeram faculdade, geralmente por falta de condições econômicas, na sua maioria sabemos que estão constituindo suas famílias de um modo muito responsável. Isso já nos dá a certeza da missão cumprida e de que valeu a pena nossos esforços. Mas não fazemos caridade. Praticamos cidadania”, relata Maria José.
Ela cita ainda exemplos de crianças engajadas que participam dos concursos de arte ou oficinas: “A Maria Eduarda (estudante de 9 anos de SP) quer ajudar todos os animais que encontra. Ao chegar em casa, a menina toca piano para seu cachorrinho na angústia de buscar soluções para o abandono dos animais. E, junto com a avó (professora e escritora), escreve poesias como um grito de socorro pelos animais. A Ana Clara, de Piracicaba, escreve poesias e faz muitos desenhos que pedem respeito e compaixão pelos animais”.
Para conhecer melhor o trabalho do MICA, apoiar ou participar das ações acesse o site ou entre em contato pelo email [email protected] e fone (11) 95428-1020, com Maria José.