Em uma época de mudanças climáticas aceleradas e impacto ambiental crescente, o derretimento dos glaciares se tornou um dos maiores desafios globais. Como resposta a essa crise, a Assembleia Geral da ONU declarou 2025 o Ano Internacional da Preservação dos Glaciares, uma iniciativa proposta pelo Tajiquistão e adotada por unanimidade na 77ª sessão da Assembleia.
Os glaciares são fundamentais para o equilíbrio climático e ecológico da Terra, além de funcionarem como reservatórios de água doce que alimentam rios essenciais para milhões de pessoas. No entanto, nos últimos anos, o derretimento acelerado dos glaciares tem sido um dos indicadores mais visíveis e alarmantes das mudanças climáticas.
A velocidade desse processo é impressionante. Nos últimos 20 anos, os glaciares da região do Tien Shan, que abrange países como Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão, encolheram em 27%. No Tajiquistão, mais de 1.000 dos 14.000 glaciares já desapareceram, colocando em risco até 60% dos recursos hídricos da Ásia Central. Isso não é um problema isolado: em regiões como os Alpes Canadenses, Antártica e Groenlândia, os glaciares estão derretendo a uma taxa alarmante, com perdas anuais de centenas de bilhões de toneladas de gelo.
Não para aí: em maio de 2024, a Venezuela confirmou o derretimento de sua última geleira, a La Corona, que por décadas foi um popular destino turístico, especialmente entre os brasileiros. Localizada no Parque de Serra Nevada, a geleira cobria 4,5 quilômetros quadrados e era um dos principais atrativos nas décadas de 1950 a 1980. Após seu derretimento, a La Corona foi reclassificada pelos cientistas como um simples ‘campo de gelo.
O derretimento dos glaciares pelo mundo tem um impacto direto não só no nível do mar – que já aumentou 5% nas últimas décadas – mas também nos recursos hídricos, na agricultura e na produção de energia hidrelétrica. Estima-se que cerca de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo dependem dos glaciares para sua água potável e sustento.
O papel do Tajiquistão e a urgência de uma ação global
A iniciativa de declarar 2025 o Ano Internacional da Preservação dos Glaciares surgiu da crescente preocupação com a velocidade do derretimento e seus impactos diretos em regiões vulneráveis. O Tajiquistão, por exemplo, é um país altamente dependente dos rios alimentados pelos glaciares. A perda de suas geleiras poderia comprometer a segurança hídrica de toda a Ásia Central, afetando não apenas a população local, mas também a agricultura e a geração de energia.
Foi neste contexto que o presidente do Tajiquistão propôs a ideia durante uma reunião internacional sobre água e clima em 2021. A resolução, adotada pela ONU em 2023, busca alertar o mundo para a importância da preservação desses gigantes de gelo, que estão desaparecendo a um ritmo sem precedentes.
Um ano de mobilização
A declaração de 2025 como o Ano Internacional dos Glaciares não é apenas simbólica, mas também um chamado à ação global. Ao longo de 2025, haverá uma série de eventos, campanhas e, especialmente, uma grande conferência internacional no Tajiquistão, que reunirá países, cientistas, organizações ambientais e cidadãos para discutir estratégias de conservação dos glaciares. A ideia é não apenas aumentar a conscientização sobre o problema, mas também encontrar soluções práticas para a proteção desses recursos vitais.
Alguns dos principais temas que serão abordados incluem a criação de estratégias para a conservação dos glaciares (como proteger as áreas mais vulneráveis e retardar o derretimento?); a gestão sustentável da água, garantir que os recursos hídricos derivados dos glaciares sejam usados de forma equitativa e eficiente; a cooperação internacional para desenvolver uma ação conjunta nos países afetados, incluindo a criação de um fundo para financiar projetos de pesquisa e conservação.
Segundo as Nações Unidas, a cooperação global será essencial para reverter os danos já causados e evitar que mais glaciares desapareçam. Além disso, a conscientização pública será crucial para pressionar os líderes mundiais a tomarem ações concretas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a principal causa do derretimento acelerado.
Fonte: Um Só Planeta