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SALVOS

Justiça Federal mantém a suspensão do abate de jumentos

5 de fevereiro de 2022
Bruna Araújo | Redação ANDA
7 min. de leitura
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Foto: Divulgação

A Justiça Federal da Bahia determinou a suspensão da matança de jumentos para consumo no Brasil. A decisão foi tomada por 10 dos 13 desembargadores do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), em Brasília, na última quinta-feira (03). Os animais mortos seriam exportados para a China. A determinação é uma vitória jurídica para uma ação iniciada em 2018 por ativistas em defesa dos direitos animais que pedem a proibição definitiva da matança dos animais.

A Prefeitura de Amargosa (BA), onde estão concentrados os principais matadouros de jumentos, não conseguiu comprovar que a proibição da morte dos animais para exportação traz prejuízos econômicos. “Não se demonstrou (no argumento) a existência de uma grave lesão à economia pública”, afirmou o desembargador Carlos Eduardo Moreira Alves, que foi favorável à suspensão. Ele disse ainda que falta organização e cadeias produtivos de matadouros de jumentos são inexistentes no país.

O desembargador Carlos Augusto Pires Brandão também votou pela proibição e citou a riqueza cultural que envolve o jumento. “Há músicas e poemas sobre o jumento. Há uma música do Luiz Gonzaga (Apologia ao Jumento) que fala que o animal é nosso irmão, que relata essa proximidade do jumento como um animal doméstico. Imagina se a gente começa a exportar carne de cachorro e de gato para outras culturas que não têm essa proximidade com o animal”, salientou.

A decisão foi celebrada por ativistas. “Recebemos a decisão com muita felicidade, com sentimento de que vale a pena lutar pelo que é o correto. A morte de jumentos é inaceitável do ponto de vista ético, ambiental e cultural. Não existe motivo para exterminar um animal que faz parte da nossa história, uma espécie com tantos laços afetivos com o Brasil”, disse a advogada Gislane Brandão, coordenadora-geral da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos.

Entenda

Os jumentos, que sempre foram explorados, trabalharam arduamente obrigados pela humanidade, podem ser dizimados em diversos países. Os animais conhecidos por serem dóceis, pacíficos e muito inteligentes, estão sendo mortos de forma desenfreada em abatedouros da Bahia, no Nordeste do Brasil. Nessa quinta-feira (03), essa realidade poderá tomar um novo rumo e os jumentos podem ser salvos pela Justiça. Haverá julgamento no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), em Brasília, que pode novamente suspender a morte dos jumentos nos abatedouros da Bahia.

As entidades de defesa desses animais apela para que a sociedade se mobilize ao máximo para conseguir fazer com que os desembargadores votem pela manutenção da vida dos jumentos. Os jumentos estão sendo mortos e serão extintos caso a Justiça não proíba as mortes nos abatedouros da Bahia. Para colaborar com a causa, o cidadão pode acessar o site www.salveosjumentos.org.br e enviar os e-mails para os julgadores.

O link do site está na bio da @frentedefesajumentos.

Comércio é responsável pela dizimação do jumento

O comércio da pele e da carne do animal tem sido responsável pelo abate desenfreado dos jumentos na Bahia. A atividade acontece de forma irregular e com diversas irregularidades de 2016 e coloca em risco a biossegurança, uma vez que os animais não possuem rastreabilidade.

Eles são mortos com um tiro de ar comprimido entre os olhos. Depois, o couro é retirado, embalado em caixas e levado para a China, onde é transformado em uma gelatina que é usada para produzir o ejiao, um produto medicinal bastante popular e lucrativo da Tradicional Medicina Chinesa. A carne normalmente é separada e exportada para o Vietnã.

Não há comprovação científica de que o ejiao funcione.

Para fabricar o produto, os animais são retirados do meio ambiente em grande volume, sem que exista uma cadeia de produção que renove o rebanho, como ocorre com o gado. Ou seja, eles são abatidos em uma velocidade maior do que a capacidade de reprodução, o que acendeu um alerta de que a população de jegues pode ser eliminada nos próximos anos no Nordeste.

De acordo com a Frente de Defesa dos Jumentos, foram confirmadas zoonoses como o mormo, que possui até 95% de letalidade para humanos. Também foi relatado crime ambiental, trabalho análogo ao escravo, e maus-tratos animais.

Todas essas informações têm sido protocoladas e acompanhadas pelo Ministério Público das regiões onde a atividade ocorre, bem como no Ministério Público Federal (MPF). No entanto, as medidas cabíveis ainda não foram tomadas, como a suspensão imediata da atividade.

Abrigo para jumentos

A educadora Márcia Freitas criou o Abrigo Menino Vaqueiro há nove anos, quando encontrou um jumentinho acuado em um dos cantos da cidade de Fortaleza, capital do Ceará. O animal estava com as patas machucadas, mas ninguém parou para ajudá-lo. Olhando de mais perto, se via que era uma fêmea. Márcia também foi embora, sem saber o que poderia fazer, mas a situação tirou seu sono.

“Como pode alguém judiar de um bicho que carregou Jesus Cristo?”, se perguntava. No dia seguinte, ouvindo um conselho da irmã, Márcia reencontrou a jumenta no mesmo canto do dia anterior, ainda machucada, chamou um veterinário e decidiu adotá-la e chamá-la de Princesa. Assim, Márcia inaugurou o abrigo.

A educadora mantém cerca de 30 jumentos. A única fonte de renda da instituição são doações. São cerca de 3 a 4 sacos de ração por dia, cada uma com 40 kg, mais o valor das consultas veterinárias.

No início do abrigo, os animais eram resgatados e deixados em um terreno provisório. Hoje estão em uma área reservada, mas há casos de furtos de animais e dificuldade financeira para tocar o projeto. “Já deixei de comprar quentinha para mim para comprar ração para eles”, diz Márcia.

A espécie é símbolo da resistência e trabalho nas regiões áridas do país, mas há uma luta para criar novas relações de bem-estar com esses equídeos. Há iniciativas que permitem adotar jumentos ou a resgatá-los das ruas brasileiras.

A sociedade civil tenta proibir as mortes em ações no Ministério Público e com denúncias nas redes sociais. Em 2018, vídeos com jumentos abandonados, com fome, sede e a caminho do abate geraram comoção e investigações policiais na Bahia.

A queda de braço e as cenas de maus tratos reduziram a atratividade do negócio entre brasileiros, mas estudos mostram que jumentos ainda são mortos de maneira ilegal.

Se a diminuição de jumentos continuar no mesmo ritmo, há risco de uma queda drástica no número de animais no Brasil, como ocorreu na China.

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