O Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos propôs a retirada de 23 espécies da Lei de Espécies Ameaçadas (ESA) na última quarta-feira (29). Conforme o acordo com o órgão, aplicar recursos na manutenção desses animais que estão ameaçados de extinção desde o início dos anos 1960, não trará resultados: eles já se encontram extintos. A lista inclui oito mexilhões de água doce, dois peixes, um morcego, uma planta e 11 pássaros, entre eles, o pica-pau-bico-de-marfim, que inspirou o personagem de desenho animado Pica-Pau.
Existem diversas razões por trás do desaparecimento dessas espécies, mas têm um componente em comum: a ação humana. Essa intervenção segue desde a perda de habitat florestal e descarga industrial em corpos d’água a competições de espécies invasoras e captura de animais. “Prevê-se que os impactos crescentes das mudanças climáticas exacerbem ainda mais essas ameaças e suas interações”, declara Deb Haaland, secretária do órgão norte-americano, em comunicado.
Ao aconselhar que esses animais venham ser resgatados da ESA, o objetivo do órgão é liberar recursos financeiros para que a tentativa de conservação seja concentrada nas espécies que ainda têm uma chance de recuperação. Embora raro, é possível que uma ou mais dessas espécies ainda existam na natureza e, por isso, retirá-las da lista preocupa alguns cientistas.
A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), disse que o pica-pau-bico-de-marfim ainda não integra a sua lista de espécies extintas porque é possível que essas aves ainda existam em Cuba, segundo informou o órgão à agência de notícias Associated Press. Segundo o governo dos EUA, no entanto, não avistam o pássaro desde 1944.
“Além disso, não há evidências objetivas (como fotos nítidas, penas de origem recente, espécimes, etc) da existência continuada da espécie pica-pau-bico-de-marfim”, esclarece documento emitido pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem. “Esta proposta é baseada em uma revisão dos melhores dados científicos e informações comerciais, o que indica que essas espécies não existem mais e, como tal, não se enquadram mais na definição de espécie em extinção ou espécie ameaçada ao abrigo da Lei das Espécies Ameaçadas de 1973″, esclareceu em outro trecho.
De acordo com os cientistas, o desaparecimento dessas espécies é um alerta para que as iniciativas de conservação venham avançar antes que declínios de outros animais se tornem irreversíveis. “Com a mudança climática e a perda de área natural empurrando mais e mais espécies para o limite, agora é a hora de levantar esforços proativos, colaborativos e inovadores para salvar a vida selvagem”, analisa Haaland.
Veja algumas das espécies que deverão ser declaradas extintas pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA:
1. Pica-pau-bico-de-marfim
O animal que inspirou o personagem do desenho animado Pica-pau foi listado em 1967 como ameaçado de extinção pelo órgão precursor da ESA, a Lei de Preservação de Espécies Ameaçadas (ESPA). Segundo o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA, a última aparição do pássaro se deu em abril de 1944 no Singer Tract, na região do rio Tensas, no nordeste do estado da Louisiana. Entre as principais ameaças que levaram à sua extinção, estão a perda de habitat florestal maduro e a captura por humanos.
2. Toutinegra de Bachman
O pequeno pássaro migratório, a Toutinegra de Bachman foi incluído na lista de espécies ameaçadas em 1967. Em 1953, já era uma das aves mais raras da América do Norte. Ela foi documentada pela última vez em 1981, em Cuba. Desde então, não houve avistamentos verificáveis do animal. Sua extinção se deve principalmente à perda de habitat de floresta madura e coleta generalizada.
3. Oito espécies de mexilhões de água doce
Os mexilhões de água doce estão entre os animais mais ameaçados dos EUA. A sobrevivência desses mariscos depende de riachos e rios saudáveis com água limpa e confiável, locais cada vez mais ameaçados pela industrialização no país. Todos os mexilhões incluídos na lista de extinção pelo órgão norte-americano viviam na região sudeste do país.
4. San Marcos Gambusia
Este peixe de água doce não é avistado desde 1983 e é considerado ameaçado desde 1980. Algumas razões para sua extinção incluem alteração do habitat devido ao esgotamento das águas subterrâneas, fluxos reduzidos de nascentes, aração de fundo, vegetação aquática reduzida e hibridização com outras espécies de gambusia.
5. Bagre de Ohio
O Bagre de Ohio (Noturus trautmani) era uma espécie de peixe que podia ser encontrada em uma pequena seção do Big Darby Creek, um afluente do rio Scioto, em Ohio, conhecido por se esconder durante o dia sob as rochas ou na vegetação e emergir após o anoitecer para se alimentar ao longo do fundo do riacho. Ele foi visto pela última vez em 1957. O motivo do seu declínio é desconhecida, mas tudo indica que ocorreu devido à modificação de seu habitat por assoreamento, descarga industrial em cursos de água e escoamento agrícola.
6. Espécies do Havaí e Guam
Os longos bicos curvos da ave kauai akialoa (Hemignathus procerus), o chamado assustador do kauai `o`o, e as cores brilhantes dos maui akepa e molokai creepers estão entre as características das espécies do Havaí e de Guam, ilha estadunidense localizada na Micronésia, que deverão ser incluídas na lista de extinção dos EUA. Endêmicas das ilhas, estão enfrentando um grande risco de extinção devido ao seu isolamento e pequenas extensões geográficas.