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Peixes e pássaros mantidos para lazer

2 de outubro de 2021
14 min. de leitura
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Peixes

Muitos tipos de animais, incluindo peixes, são prejudicados significativamente por serem mantidos por humanos como itens de exibição, para companhia ou para satisfazer o desejo de criar coleções. Peixes sofrem danos quando são mantidos em tanques, e os que não nasceram em cativeiro sofrem danos adicionais devido à captura e ao deslocamento para o tanque. Esses danos ocorrem como consequência do fato de serem utilizados como ornamentos vivos porque são esteticamente agradáveis, estimulantes, ou relaxantes, enquanto que os interesses dos peixes dificilmente são levados em conta, exceto na medida em que isso afeta sua lucratividade como mercadoria ou seu uso contínuo por um consumidor.

Captura de peixes para uso como ornamento

Entre 20 e 24 milhões de peixes são capturados da natureza anualmente. Além disso, entre 9 e 10 milhões de outros animais aquáticos, como moluscos e camarões, são capturados anualmente.1.

Embora “aquários” possa soar como um nome benigno, para os animais que vivem neles são tanques que os confinam e frustram. Além disso, um método comum de captura de peixes para exposição envolve pulverizar uma mistura de cianeto de sódio nos ambientes selvagens onde os peixes vivem. Essa substância química atordoa os animais e os torna imóveis para que possam ser facilmente capturados. Usar esses venenos prejudica não só os peixes alvos da captura, mas também outros seres sencientes que vivem nas mesmas áreas. Estima-se que entre 70 e 90% dos peixes capturados nas Filipinas para exibição são pegos usando esse método de pesca. Tanto em peixes quanto em humanos, venenos de cianeto impedem o transporte de oxigênio para as células e resultam numa condição similar ao envenenamento por monóxido de carbono.

Peixes em áreas marinhas tropicais que são capturados usando a técnica de envenenamento por cianeto de sódio sofrem altas taxas de mortalidade por várias semanas após sua captura2. Demonstrou-se recentemente que o choque e o estresse sofridos por peixes devido ao uso de venenos de cianeto resultam em taxas de mortalidades de até 75% nos primeiros dois dias após serem capturados. Já que sua taxa de mortalidade é tão alta, um número ainda maior de peixes é capturado para tentar atender a demanda lucrativa.

Danos sofridos por peixes como consequência do deslocamento

Muitos dos peixes que sobreviveram ao envenenamento por cianeto de sódio morrem durante o transporte para seus destinos pretendidos. Estima-se que até dois terços dos peixes de corais capturados para exposição em aquários morrem durante o transporte. Muitos morrem devido ao choque e estresse de serem capturados e transportados, e muitos morrem devido às condições físicas adversas a que são submetidos durante o transporte (muitas vezes eles são apenas embalados e transportados em sacos plásticos). Estima-se que ocorra uma taxa de mortalidade de 5 a 10% durante os deslocamentos e nas instalações de retenção3. Durante o período de aclimatação após a chegada ao destino, a taxa de mortalidade aumenta, com um adicional de 30% dos peixes que morrem nessa parte do processo4.

Danos sofridos pelos peixes mantidos para exposição

Os danos sofridos por peixes usados para exposição não estão limitados ao sofrimento e à morte durante a captura e o transporte. As condições típicas nos tanques onde os peixes vivem também são bastante prejudiciais. Alguns dos danos que afetam os peixes nos tanque são descritos a seguir.

Consequências da reprodução seletiva. Muitos peixes são escolhidos para reprodução de acordo com suas aparências, a maneira como se comportam ou como servem aos propósitos humanos, mesmo que isso signifique que eles estão propensos a sofrer de problemas congênitos.

Temperatura inapropriada. Tanques e piscinas muitas vezes têm temperaturas de água que são muito frias ou muito quentes para os seus habitantes. Isso não promove boa saúde ou conforto; pode também causar sofrimento significativo e levar à morte prematura. Há uma diferença entre os níveis de temperaturas nos quais um animal pode sobreviver e aquele em que ele pode se sentir confortável. E, embora o desconhecimento sobre as configurações de temperatura de água possa ser parte do motivo para o ajuste incorreto, outros fatores como economia de dinheiro ou a colocação de peixes incompatíveis no mesmo tanque também contribuem para o problema.

Baixa qualidade da água. A baixa qualidade da água é provavelmente a causa mais comum de morte em peixes que são usados como ornamentos para exposição. Isso muitas vezes ocorre com pessoas que têm tanques em casa e não sabem muito sobre as necessidades dos animais, tais como sua necessidade por água que seja devidamente oxigenada e filtrada.

Dietas inadequadas. As dietas erradas são muitas vezes dadas aos animais mantidos por pessoas que não sabem sobre as necessidades nutricionais deles. Mesmo quando peixes que vivem sem nutrição adequada não são mortos por isso, uma deficiência na dieta pode ser a causa de sofrimento crônico e/ou agudo considerável.

Habitats inadequados. De modo a se sentirem seguros e confortáveis, alguns peixes precisam ter certos elementos ao seu redor como pedras, corais e algas, ou coisas que possam ter função similar, especialmente quando estão sendo mantidos em aquários com outros animais incompatíveis de quem eles gostariam de se esconder.

Densidades inadequadas. Peixes que vivem em condições de aglomeração podem sofrer de estresse agudo, como pode ser evidenciado por seus níveis de cortisol elevados. Eles também sofrem alterações em sua atividade imunológica e se tornam mais suscetíveis aos efeitos prejudiciais do estresse. A agressão entre peixes aglomerados pode causar ferimentos, especialmente nas situações em que há intensa competição por comida, como foi observado em peixes criados na aquicultura 5. Em tais situações os peixes podem ser impedidos de comer, podem crescer fracamente e podem se tornar mais suscetíveis à doenças.

Situações Sociais Inadequadas. Outra fonte de estresse para os peixes envolve o ambiente social e isso se aplica tanto aos que vivem em escolas quanto aos demais. O contato social ou a falta dele, dependendo das tendências naturais do animal, pode causar sofrimento e saúde precária.

Predadores e presas. Estima-se que em até 19% dos tanques ornamentais predadores e presas sejam mantidos juntos6. Mesmo uma breve exposição a um predador causa sinais de estresse severo como níveis de cortisol elevados, ritmo acelerado de respiração e alimentação reprimida7.

Tingimento e mutilações. O tingimento de peixes com cores se tornou uma prática comum entre aqueles que expõem peixes. Peixes-vidro em particular são injetados com corantes fluorescentes8. Isso pode ser prejudicial à sua saúde, em muitos casos levando à doenças e frequentemente acabando em mortes prematuras9. Às vezes são colocados piercings ou são feitas tatuagens nos peixes por razões estéticas ou financeiras e grande sofrimento é causado pelas mutilações10.

Pássaros

Aprisionar pássaros para companhia e ornamentação é uma prática muito comum, conhecida como avicultura. A criação desses animais pode prejudicá-los não apenas através dos danos de viver em cativeiro. As razões para as pessoas manterem pássaros em cativeiros são variadas; elas podem simplesmente gostar de ter pássaros ao redor por causa de sua aparência ou comportamento, podem gostar de coleciona-los por curiosidade ou podem criá-los para obter lucro financeiro.

Em alguns países os pássaros não são criados, mas capturados e transportados para outros lugares. A Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora (CITES) proíbe a venda de algumas espécies. Entretanto, essa proteção se deve apenas a razões conservacionistas para a preservação das espécies; não é devido à preocupação com os animais em si. A CITES também cobre somente certo número de animais. Outros são deixados desprotegidos uma vez que as necessidades de preservação sejam satisfeitas. Além disso, essa convenção não salva os animais que ela supostamente protege de serem prejudicados de maneiras que não impeçam a conservação das espécies a que pertencem.

Visto que o método de preservação é limitado, embora seja ilegal capturar certos pássaros para fins de comercialização, é perfeitamente legal fazer isso com muitos outros.

Como os pássaros sofrem em consequência do confinamento

Independentemente de serem capturados ou criados em cativeiro, os pássaros que são mantidos em gaiolas normalmente sofrem. Eles geralmente não têm qualquer espaço para ter uma vida normal. Muitos sofrem de tédio e estresse significativos. Às vezes, pássaros engaiolados podem ser observados cantando, e embora algumas pessoas acreditem que o fato de estarem cantando demonstre que eles estão felizes, isso pode não ser verdade. A maioria dos pássaros não tem nem mesmo as condições de higiene básica que precisariam para se sentirem confortáveis em um ambiente cativo, como acesso permanente à água ou a pó para banho, e isso pode resultar em grande estresse. Mesmo aqueles com algum espaço podem sofrer com tédio e frustração na maior parte do tempo. A frustração é geralmente demonstrada por comportamento anormal conforme os pássaros tentam lidar com suas circunstâncias11. Além disso, os pássaros que estão entediados podem exibir comportamentos destrutivos, e até autodestrutivos. Alguns comportamentos podem começar na forma de estratégias inofensivas de adaptação, como puxar as penas na tentativa de aliviar seu estado geral de desconforto. Porém, esses comportamentos podem progredir em obsessões com risco de vida conforme eles tentam lidar com o estresse contínuo de suas vidas.

Em alguns casos os pássaros têm anéis identificação fixados a eles. Para alguns indivíduos esses anéis são uma grande fonte de estresse, tanto que em suas tentativas de remover esses anéis eles acabam se mutilando. Todo esse estresse pode levar também a outros problemas de saúde. Muitos pássaros em cativeiro sofrem porque a temperatura de seu ambiente não é adequada. Eles também podem sofrer quando sua dieta é desagradável ou nutricionalmente insuficiente12. Vários problemas de saúde podem resultar de uma dieta errada13.

Doenças em pássaros

As situações nas quais os pássaros em cativeiro são forçados a viver os tornam muito suscetíveis a uma ampla variedade de doenças14.

  • A psitacose (febre do papagaio) é uma forma da bactéria clamídia que pode afetar todos os psitaciformes. É altamente contagiosa e pode ser transmitida também a outros tipos de animais. Os sintomas podem incluir dificuldades respiratórias, infecções e inflamações nos olhos, fraqueza, fezes aquosas e letargia geral.
  • PBFD (doença do bico e das penas dos psitacídeos) é uma doença que pode afetar membros da família do papagaio. Geralmente ela afeta pássaros com idade inferior a dois anos, mas também pode afetar pássaros de qualquer idade. Os sintomas podem incluir perda de penas, desenvolvimento anormal de penas, ausência de pulviplumas, tumores, lesões e anomalias no bico.
  • O poliomavírus faz as penas de voo e da cauda se desenvolverem de forma anormal, ou mesmo não se desenvolverem. Os sintomas podem incluir perda de apetite, abdómen dilatado, paralisia e diarreia. Alguns pássaros podem ser portadores do vírus sem demonstrar os sintomas; quando estão estressados e perdem as penas, outros pássaros podem ser infectados15.
  • Infecções por cândida ou candidíase envolvem o crescimento excessivo de leveduras que são normalmente encontradas no sistema digestivo. Os sintomas podem incluir lesões brancas na boca e garganta, vômitos, perda de apetite e esvaziamento lento do papo.
  • A doença de dilatação proventricular é uma doença que causa perda de peso, vômitos, papo inchado e alterações nas fezes.
  • Doenças causadas por parasitas, como aspergilose, giárdia, lombrigas e Sarcocystis também causam sofrimento às aves em cativeiro.

Leituras adicionais

Duncan, I. J. H. & Hawkins, P. (eds.) (2010) Welfare of domestic fowl and other captive birds, Dordrecht: Springer.

Gollerstein, G. A. (1994) The complete bird owner’s handbook, New York: Howell.

Graham, D. L. (1998) “Pet birds: Historical and modern perspectives on the keeper and the kept”, Journal of the American Veterinary Medical Association, 212, pp. 1216-1219.

Halim, A. (2002) “Adoption of cyanide fishing practice in Indonesia”, Ocean & Coastal Management, 45, pp. 313-323.

Indrawan, M. (1999) “Live reef food fish trade in the Banggai Islands (Sulawesi, Indonesia): A case study”, SPC Live Reef Fish Trade Information Bulletin, 6, pp. 7-14.

Lima, S. L. (1998) “Predator induced stress and behaviour”, Advances in the Study of Behaviour, 27, pp. 215-290.

McAllister, D. E.; Caho, N. L. & Shih, C. T. (1999) “Cyanide fisheries: where did they start?”, SPC Live Reef Fish Information Bulletin, 5, pp. 18-21.

Metcalfe, N. B. & Thomson, B. C. (1995) “Fish recognize and prefer to shoal with poor competitors”, Proceedings of the Royal Society B, 259 (1355), pp. 207-210.

Moberg, G. P. (1999) “When does an animal become stressed?”, Laboratory Animals, 23, pp. 22-26.

Pet, J. S. & Pet-Soede, L. (1999) “A note on cyanide fishing in Indonesia”, SPC Live Reef Fish Information Bulletin, 5, pp. 21-22.

Reavill, D. R. (2004) “Tumors of pet birds”, Veterinary clinics of North America: Exotic animal practice, 7, pp. 537-560.

Reimchen, T. E. (1994) “Predators and morphological behaviour in the threespine stickleback”, en Bell, M. A. & Foster, S. A. (eds.) The evolutionary biology of the threespine stickleback, New York: Oxford University Press, pp. 207-240.

Startup, C. M. (1970) “The diseases of cage and aviary birds (excluding the specific diseases of the budgerigar)”, en Rogers, A. & Norris, K. A. (eds.) Encyclopedia of aviculture, I, London: Blandford, pp. 46-58.

Tsai, S. S.; Park, J. H.; Hirai, K. & Itakura C. (1993) “Eye lesions in pet birds”, Avian Pathology, 22, pp. 95-112.

Vriends, M. M. (1987) Aviaries: A complete introduction, Neptune City: TFH Publications.

Wendelaar Bonga, S. E. (1997) “The stress response in fish”, Physiological Reviews, 77, pp. 591-625.

Wolf, P. & Kamphues, J. (2003) “Hand rearing of pet birds – Feeds, techniques and recommendations”, Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, 87, pp. 122-128.


Notas

1 Wabnitz, C.; Taylor, M.; Green, E. & Razak, T. (2003) From ocean to aquarium, Cambridge: UNEP World Conservation Monitoring Centre, pp. 6-7.

2 Hignette, M. (1984) “Utilisation du cyanure pour la capture des poissons tropicaux marins destinés a l’aquariologie: Methodes de diagnostic”, Oceanis, 10, pp. 585-591.

3 Ferraz de Oliveria, E. (1995) Studies on parasites of ornamental fish from South America with potential for transfaunation, tese de doutorado, Stirling: University of Stirling [acessado em 17 de abril de 2020].

4 FitzGibbon, D. (1993) “UK restriction proposals”, Ornamental Fish International Journal, 10, pp. 12-14.

5 Isso foi estudo em particular por sua relevância para a aquicultura: Greaves, K. & Tuene, S. (2001) “The form and context of aggressive behaviour in farmed Atlantic halibut (Hippoglossus hippoglossus L.)”, Aquaculture, 193, pp. 139-147; Carter, C. G.; Purser, G. J.; Houlihan, D. F. & Thomas, P. (1996) “The effect of decreased ration on feeding hierarchies in groups of greenback flounder Rhombosolea tapirina: Teleostei)”, Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom, 76, pp. 505-516.

6 Czányi, V. & Dóka, A. (1993) “Learning interactions between prey and predator fish”, Marine Behaviour and Physiology, 23, pp. 63-78.

7 Metcalfe, N. B.; Huntingford, F. A. & Thorpe, J. E. (1987) “The influence of predation risk on the feeding motivation and foraging strategy of juvenile Atlantic salmon”, Animal Behaviour, 35, pp. 901-911.

8 MacMahon, S. & Burgess, P. (2007) “Why it’s cruel to dye”, Practical Fishkeeping, 22 April.

9 Sharpe, S. (2014) “Artificially colored aquarium fish: Death by dyeing“, Freshwater Aquariums – About.com, November 24 [acessado em 9 de janeiro de 2016].

10 Clarke, M. (2006) “Company offers custom fish tattoos with laser”, Practical Fishkeeping, 23 February [acessado em 13 de maio de 2013].

11 Hollmann P. (1997) “Behavioral disorders in psittacines. 2: Therapeutic measures”, Tierarztliche Praxis, 25, pp. 356-362. Van Hoek, C. S. & ten Cate, C. (1998) “Abnormal behavior in caged birds kept as pets”, Journal of Applied Animal Welfare Science, 1, pp. 51-64.

12 Em relação aos problemas de nutrição, ver, por exemplo: Wolf, P.; Bayer, G.; Wendler, C. & Kamphues, J. (2009) “Mineral deficiency in pet birds”, Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, 80, pp. 140-146.

13 Wallach, J. D. (1970) “Nutritional diseases of exotic animals”, Journal of the American Veterinary Medical Association, 157, pp. 583-599.

14 Patrak, M. L. (ed.) (1996 [1969]) Diseases of cage and aviary birds, 3rd ed., Philadelphia: Lea and Febiger.

15 Gerlach, H. (1984) “Virus diseases in pet birds”, Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 14, pp. 299-316.

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