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DEVASTAÇÃO

Fogo no Pantanal destrói bioma em ritmo semelhante à destruição de 2020

O título de maior planície inundável do planeta já não é o único carregado pelo Pantanal, que cada vez está mais seco e atualmente é considerado o bioma mais ameaçado pelos incêndios no Brasil

23 de agosto de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
5 min. de leitura
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Fogo destrói vegetação na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso (Foto: Guilherme Silva/Divulgação)

Foram 261,8 mil hectares destruídos pelo fogo em 2021 no Pantanal. Os dados, que registram incêndios ocorridos do início deste ano até o último sábado (21), mostram que as chamas têm alcançado um ritmo semelhante ao registrado no mesmo período do ano passado, quando 265,3 mil hectares foram queimados no maior incêndio florestal registrado na história do bioma. Os números são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), órgão vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A situação no bioma é tão alarmante que Porto Murtinho (MS), do qual o Pantanal faz parte e que é considerado o último guardião do Rio Paraguai, decretou estado de emergência por conta dos incêndios. Em Corumbá (MS), a prefeitura pediu ajuda aos governos estadual e federal para combater o fogo.

“Pela legislação, a preservação do Pantanal é atribuição do estado e da União, mas não podemos e não vamos ficar de braços cruzados esperando uma solução. Precisamos de novo da união de todos, inclusive dos nossos deputados estaduais, para evitar uma tragédia ainda maior na nossa natureza”, escreveu o prefeito Marcelo Iunes (PSDB).

Assim como aconteceu nas queimadas do ano passado, o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e seus aliados têm sido criticados por não tomar as decisões corretas para impedir que o Pantanal seja destruído pelo fogo. De acordo com a Prefeitura de Corumbá, alertas foram feitos ao governo do estado de Mato Grosso do Sul, comandado pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB), e à bancada federal sobre o risco dos incêndios registrados em 2020 se repetirem este ano. Marcelo Iunes criticou ainda a falta de profissionais do Ibama de maneira permanente no município para combater as queimadas.

“Já cobrei isso vários vezes e volto a repetir: o Ibama precisa ficar aqui em Corumbá, pois eles possuem helicópteros e aviões preparados para essas situações. Os homens do Corpo de Bombeiros e os brigadistas do PrevFogo desempenham um excelente trabalho, mas sozinhos eles não conseguem dar conta de tantos focos de incêndio nessa gigante área do Pantanal”, pontuou o prefeito.

Homem cuida de bezerros feridos em incêndio em Santo Antônio de Leverger (MT), mas dois deles não sobrevivem (Foto: Lalo de Almeida – Folhapress)

No último final de semana, a força-tarefa composta por bombeiros e brigadistas recebeu um reforço de 36 militares para combater o fogo. Os profissionais atuam de maneira incansável e apagam as chamas até durante a madrugada. Na região de Porto Murtinho, ribeirinhos precisaram ser retirados de suas casas através do transporte marítimo por conta da rápida disseminação das chamas, que aumentam cada vez mais por conta do tempo seco.

Defensores da floresta, os indígenas também sofrem enquanto lutam para proteger a vegetação. A Oeste do Rio Miranda, na fronteira do estado de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, indígenas treinados integram um grupo com 55 brigadistas que tentam por fim ao fogo que devasta a Reserva Indígena Kadiwéu.

Coordenador estadual do PrevFogo em Mato Grosso do Sul, Márcio Yule relatou ao G1 que os últimos dias foram extremamente críticos em relação aos incêndios florestais no estado. “Houve um agravamento na terra indígena Kadiwéu, o que resultou no aumento do contingente [de brigadistas] lá. Nós deslocamos o pessoal de Corumbá e também da aldeia Limão Verde, para incorporar os 33 brigadistas que foram contratados para atuar na terra indígena”, explicou Yule.

Cinzas de uma árvore totalmente queimada em Santo Antônio de Leverger, no Pantanal de MT (Foto: Lalo de Almeida – Folhapress)

Entre o dia 1° de janeiro deste ano e o mês de agosto, 3.910 focos de queimada foram registrados. “Se comparar com o ano passado, houve aumento de focos de calor, ainda menor que agosto do ano passado, quando fechou com mais de 2,5 mil focos, só que preocupa, uma vez que o pior mês ainda não chegou. A partir de 2010, o pior mês tem sido (…) setembro”, relatou.

No município de Corumbá, 200 marinheiros foram capacitados para auxiliar os bombeiros e brigadistas, como ocorreu no ano passado. “O número é bem maior dos que ajudaram no ano passado. Também temos o combate em Miranda, Aquidauana, áreas de retomadas, terras indígenas da região. A situação tende a normalizar com uma entrada de frente fria a partir de quinta-feira (26) e até lá continuamos atuando diuturnamente”, comentou Yule.

Pantanal: bioma mais ameaçado pelos incêndios no Brasil

O título de maior planície inundável do planeta já não é o único carregado pelo Pantanal, que cada vez está mais seco – conforme demonstrado por estudo que concluiu que o bioma perdeu 74% de sua água desde 1985. Sem viver uma “cheia” há anos, o Pantanal tem sido palco de inúmeras queimadas, boa parte delas criminosas e ligadas ao agronegócio, que desmata para transformar a vegetação em pasto para criar bois.

Homem cuida de bezerros feridos em incêndio em Santo Antônio de Leverger (MT), mas dois deles não sobrevivem (Foto: Lalo de Almeida – Folhapress)

Além do Mato Grosso do Sul, a região pantaneira que abrange o estado do Mato Grosso também tem sofrido com as queimadas. Na última semana, um incêndio de grandes proporções teve início na Área de Proteção Ambiental (APA) do Parque Florestal, na Chapadas dos Guimarães, a 65 km de distância da capital, Cuiabá, que ficou com o céu repleto de fumaça.

Focos de incêndio também foram registrados em toda a região da Baixada Cuiabana, como é denominada a região que compreende 14 municípios no entorno de Cuiabá. Nessa região estão cidades que formam as nascentes do Pantanal. Rico em biodiversidade, o bioma abriga 4,7 mil espécies de animais e plantas.

 

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